Fachada do Colégio Granbery em Juiz de Fora -  (crédito: Bruno Luis Barros/EM/DA. Press)

Com dívida bilionária do Instituto Metodista, parte de colégio em Juiz de Fora vai a leilão

crédito: Bruno Luis Barros/EM/DA. Press

A dívida bilionária do Instituto Metodista levou a rede a enfrentar um processo de recuperação judicial, que, iniciado em abril de 2021, terá um novo capítulo em 16 de novembro, quando está previsto o leilão online de parte do centro esportivo do Colégio Granbery, situado em Juiz de Fora, na Zona da Mata, em Minas Gerais. A instituição de ensino completou 134 anos em setembro.

No documento de avaliação assinado por leiloeiro oficial, que foi autorizado para a função pela Justiça de Porto Alegre (RS), consta que a área objeto de venda está orçada em pouco mais de R$ 46 milhões e tem 13.044 metros quadrados, que correspondem ao campo de futebol, à piscina e parte do bosque.

Campo de futebol do Colégio Granbery em Juiz de Fora

Campo de futebol do Colégio Granbery em Juiz de Fora

Bruno Luis Barros/EM/DA. Press

O lance mínimo é de R$ 40 milhões e foi fixado pela Soip Negócios Imobiliários LTDA. À reportagem, Jules Peixoto, um dos sócios da empresa, explica que o objetivo é construir no local um complexo contendo praça, lojas, estacionamentos, salas comerciais e apartamentos residenciais. Em nota oficial, a Soip afirma que o empreendimento vai gerar mais de 400 empregos e receita anual de aproximadamente R$ 5 milhões para os cofres do município.

“Ouvindo a comunidade, pensamos em uma solução que contemplasse um projeto aberto para as pessoas. (...). Foram pensadas soluções de engenharia para o bairro, como sistema de captação da água da chuva em piscina para armazenagem em reservatório, reduzindo o impacto sobre o escoamento superficial urbano, além de solução de tratamento de esgoto e reutilização da água para todo o empreendimento, somando-se a utilização de energias renováveis, como a solar”, diz a Soip, em nota.

Dívida bilionária

Conforme o 24º relatório mensal de atividades emitido pela administradora judicial em outubro, a dívida de toda a rede é de R$ 2,2 bilhões – valor estimado até julho deste ano. Desse montante, R$ 450 milhões estão relacionados apenas à classe trabalhista. A assessoria do Instituto Metodista, no entanto, afirma que a dívida da instituição é na ordem de R$ 1,2 bilhão.

Já o Sindicato dos Professores de Juiz de Fora (Sinpro-JF) publicou uma nota conjunta afirmando que a rede protocolou uma petição no processo de recuperação judicial para o financiamento de parte da dívida, que seria de R$ 150 milhões.

“Para liberação do valor será exigida uma garantia sobre imóveis de, praticamente, três vezes o valor do empréstimo. Ou seja, constituição de garantias imobiliárias equivalentes a R$ 450 milhões. O financiamento impõe que todas as associações das igrejas metodistas sejam ‘avalistas’, colocando em risco o sistema de proteção e garantia de pagamento dos créditos concursais trabalhistas que foram alcançados e constituídos no plano de recuperação judicial, aprovado pela assembleia geral de credores em 22 de novembro de 2022”, diz o Sinpro-JF em comunicado conjunto com outras entidades sindicais da educação.

“Esses R$ 150 milhões, pela estimativa do coletivo de sindicatos, cobre, entre outros pontos, os passivos trabalhistas de agora. Estão devendo salários de agosto, setembro e outubro. Além disso, daria para cobrir, talvez, o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). O financiamento só taparia um buraco, pois eles estão com um passivo de R$ 20 a R$ 30 milhões a cada mês”, avalia Gustavo Burla, professor e diretor do Sinpro-JF.

Área que vai a leilão está em processo de tombamento

A área do colégio que vai a leilão está com um processo de tombamento em curso desde 2016. Na segunda-feira (6/11), o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural (Comppac) realizou uma reunião para tratar do assunto, segundo informa a Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa). Outro encontro deve ocorrer na próxima semana. “A legislação define que ao bem em processo de tombamento recai a mesma proteção de um bem tombado, ou seja, a venda do imóvel não é vedada. No entanto, não podem ser feitas modificações no bem”, pontua a fundação.

Campo de futebol do Colégio Granbery em Juiz de Fora visto de cima. Demarcação corresponde à área alvo de leilão em processo de recuperação judicial

Campo de futebol do Colégio Granbery em Juiz de Fora visto de cima. Demarcação corresponde á área alvo de leilão em processo de recuperação judicial

Reprodução

Um dos motivos que sustentam a justificativa para o tombamento seria o valor histórico do campo de futebol, onde teria acontecido a primeira partida de futebol do Brasil em 1893, dois anos antes do jogo registrado por Charles Miller, considerado o pai do futebol brasileiro.

No entanto, a assessoria do Instituto Granbery afirma que um novo laudo feito por perito designado pela Justiça mostra que a área que será leiloada no dia 16 não é a mesma onde aconteceu a partida. “O local correto [outro campo de futebol] pertenceu ao Granbery, mas foi vendido há mais de 10 anos e se tornou um prédio comercial. Ou seja, não existe razão para pedir o tombamento tendo em vista que não é um local histórico para Juiz de Fora. Segundo o laudo pericial realizado por Northon Fernandes, o verdadeiro campo virou um prédio comercial bem em frente à instituição, na Rua Batista de Oliveira, 1164, no edifício Le Quartier Granbery”, diz o comunicado.

“O leilão em questão é de uma área demarcada do Granbery, que inclui o campo de futebol, a piscina, uma parte do bosque e foi determinado pela Vara de Direito Empresarial da Comarca de Porto Alegre, do TJRS. Vale destacar que o campo não é utilizado pelos alunos, está inativo e não apresenta qualquer impacto no funcionamento da escola e em nada prejudicará o ensino. As matrículas estão abertas, o ano letivo de 2024 está garantido, mas a não realização do leilão implica diretamente na receita do Granbery e no cumprimento da recuperação judicial”, finaliza a assessoria.