Moda além do estilo
Com a globalização e o mercado mais diversificado, marcas fashion se reposicionam para garantir fidelidade da clientela
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A globalização da moda vem se refletindo no setor de várias maneiras e alcança desde as bilionárias grifes internacionais até pequenas e médias confecções e marcas regionais. Esse movimento exige reposicionamento, tanto em termos de gestão ou revisão de nichos mercadológicos quanto na velocidade estonteante da tomada de decisões. Algo jamais vista até agora.
As estratégias se multiplicam, mas todas levam em consideração alguns pontos essenciais – como a “criação objetiva”, a modernização do comércio em vários canais diferentes, investimentos em inovação e tecnologia, sustentabilidade, diversidade e inclusão, fortalecimento da marca – entre outras.
Musculatura
Na cena mundial, grupos poderosos como LVMH (dono da Louis Vuitton e Dior, entre outras) ou marcas-ícone como a Chanel recorrem a esses princípios para crescer, diversificar, criar e buscar novos mercados. Afinal, não é fácil manter o faturamento anual na casa dos (muitos) bilhões de dólares por ano.
Em nível nacional, o caso mais sintomático é a do grupo Arezzo, que se uniu ao grupo Soma para se transformar no Azzas 2154 – o maior do setor no país, com faturamento de R$ 12 bilhões por ano e musculatura para abranger o mercado nacional ou entrar na competição internacional.
Estratégia
No círculo fashion-produtivo regional, as marcas mineiras se esforçam para não perder o mercado até aqui (duramente) conquistado. Sua característica principal é o tipo de produção de vestuário para público A/B, através da comercialização em pronta-entrega ou a partir de pedidos antecipados – ambas só para lojistas. No momento, os pedidos antecipados estão crescendo, embora a pronta-entrega prossiga consistente.
Diante desse quadro, as marcas devem agir com boas estratégias e dinamismo. Um dos casos mais emblemáticos é os das marcas Tufi Duek e Skazi – ambas pertencentes ao grupo têxtil catarinense Menegotti. A primeira de origem paulista (trouxe seu showroom de vendas para Belo Horizonte) e a segunda foi adquirida há cinco anos dos donos mineiros, que continuaram como gestores até o fim de 2024.
Recém-chegada ao comando das duas marcas, a diretora-administrativa Tanara Hannich diz que “nosso foco está em estreitar ainda mais o relacionamento com consultores (de moda) e multimarcas de todo o país, garantindo uma presença sólida em todos os estados e ampliando nossa participação no mercado”.
Para esse ano, a estratégia de ação das empresas é “consolidar sua trajetória de sucesso, as marcas buscando expandir ainda mais sua presença em todo o Brasil e unindo tradição, criatividade e sofisticação”.
A nova gestora das marcas observa que “vamos manter nosso modelo de pronta-entrega no showroom em Belo Horizonte e lançaremos nossas coleções de pedido tanto no showroom quanto na feira Contemporâneo, em São Paulo”.
Para finalizar, Tanara lembra que, além disso, a Tufi Duek reforça sua presença com duas lojas próprias, localizadas em São Paulo e Florianópolis. Com essas estratégias, ela se diz “confiante de que 2025 será um ano decisivo para consolidar ainda mais a relevância das marcas Skazi e Tufi Duek no mercado brasileiro de moda”.
No estilo, ambas continuam a oferecer um produto versátil e com muita personalidade.
Diferencial
O reforço da identidade de uma marca ocorre também com uma produção para nichos específicos. É uma tendência cada vez mais acentuada no mercado da moda – tanto em nível global quanto regional.
É o caso da grife mineira Jardin, que está no mercado há 15 anos e tem na produção sustentável, tecidos com pegada ecológica e design clean e exclusivo suas características mais reconhecidas.
Segundo a proprietária, Bhárbara Renault, a marca começou atendendo no atacado mas, a partir de 2017, passou a atuar apenas no varejo. Para ela, foi “uma decisão estratégica, objetivando não perder a qualidade do produto, seus propósitos como processo criativo responsável (social e ecologicamente) e de valorização da criação fashion atemporal”.
Essa iniciativa coincidiu com o crescimento da preocupação ambiental e gestão responsável junto ao mercado consumidor – refletindo também na procura dos produtos Jardin. Mesmo assim, a produção foi mantida em uma média de cinco mil peças por ano, o que revela o seu alto grau de exclusividade.
O diálogo com sua clientela e a observação do mercado continuam na agenda de prioridade da marca, criando uma sintonia e potencializando sua força de vendas – até agora restrita a um único endereço, por razões estratégicas. O seu produto mantém como referencial o estilo minimalista e autoral.
Renovação
O fato de as dificuldades na moda brasileira serem constantes e contínuas leva as marcas mais dinâmicas a se renovar permanentemente. Uma das estratégias para isso é o chamado rebranding (em tradução livre, um reposicionamento da marca), tanto em termos conceituais quanto administrativos e desenvolvimento de ações estratégicas.
Um dos casos mais expressivos dessa iniciativa é o da marca Iorane, que reforçou a assinatura personalizada com nova logo e buscou um visual contemporâneo aprimorando o projeto arquitetônico de suas lojas.
Segundo explica o gestor da marca, Gustavo Rabello, tudo foi cuidadosamente planejado, levando em consideração fatores como localização estratégica das lojas, design de interiores e infraestrutura de última geração. Para ele, são aspectos essenciais no sentido de garantir que os clientes vivenciem um ambiente exclusivo e imersivo, refletindo os valores de qualidade e sofisticação que definem a marca Iorane.
Nesse projeto, foram investidos cerca de R$ 5 milhões, usados para a abertura de três novas unidades de lojas – uma flagship no Bairro Belvedere (BH), um espaço no Shopping Iguatemi (Ribeirão Preto) e a recém-inaugurada loja no piso premium do Diamond Mall (BH), onde estão marcas de luxo internacionais como Chanel, Dolce & Gabanna e Carolina Herrera. No total, a marca possui 11 lojas físicas, além do shop on-line.
Gustavo considera que essa iniciativa “é um importante passo na evolução da marca”, lembrando que a origem mineira da Iorane foi considerada, inclusive, no conceito dos espaços (desenvolvido pelo escritório de arquitetura Estudio Tupi, de São Paulo) para celebrar as nossas raízes culturais.
Essa riqueza histórica se revela, por exemplo, nos materiais usados – como a pedra-sabão, escadarias que remetem às igrejas históricas e o uso do azul colonial, clássico e profundo, com toques de dourado, inspirado no ouro mineiro. Tudo isso usado de forma contemporânea, ao se conectar com as tendências globais que valorizam o artesanato, texturas e fusão do tradicional + moderno.
“Nosso objetivo é levar essa essência mineira, com todo o seu simbolismo e elegância, para o mundo, destacando a autenticidade da marca em mercados cada vez mais globalizados”, observa.
Paralelo à sua expansão no retail de luxo, a marca continua atuando na pronta-entrega de produtos para multimarcas exclusivas. O grupo comandado por Gustavo Rabello inclui também a marca Next Level – que trabalha no shop on-line, no canal multimarcas NXT LVLl e tem planos de expandir no varejo físico, a partir da experiência com a loja-piloto instalada no Village Mall (Rio de Janeiro), no ano passado.