
Tudo pela família
Entusiasmado por seu negócio, ele trabalha pensando nos filhos
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Siga noQuem conhece Leonardo Montesanto Tavares fica impressionado com tudo que ele fez com apenas 40 anos. Dinâmico, trabalhador, criativo e inquieto, começou cedo. Teve como maior referência o avô Agrípio Tavares, de quem recebeu muitas lições de vida, e, como apoiador, seu pai, Ricardo Tavares. De família bem-sucedida, quis trilhar uma carreira independente. Casou-se aos 29 anos com Marcela Menin e tiveram três filhos – Antônio, de 8 anos, Vicente, de 7, e Matias, de 5 – e faz questão de dizer que a família é tudo em sua vida. Por causa de uma frase que ouviu do avô aos seis anos, largou um trabalho que o destacou mundialmente e criou o Coffe ++. É um dos melhores profissionais de marketing de Minas.
Qual a importância do seu avô em sua vida?
Dez dias antes de eu nascer, meu avô assumiu a massa falida do Café 3 Corações. Meu pai tinha 23 anos e largou os estudos para ajudá-lo. Meu avô foi uma figura híbrida na minha vida, uma mistura de avô e pai. Quando tinha sete anos, combinou de me pegar às 6h, desci, ele não estava lá. Deixou um recado com o porteiro: “6h são 6h”. Eu tinha descido às 6h03. Ele me deixou para trás.
Você ia com frequência para a fábrica?
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Toda sexta-feira depois da aula. Ia para brincar, mas tinha uma função. Meu avô me dava uma caixa de isopor com 50 unidades de chup-chup ou água de coco para eu vender para os funcionários. Cada um custava R$ 1 e eu vendia por R$ 2. Ele já estava me ensinando o comércio.
Você repassa esses ensinamentos para seus filhos?
Todo sábado levo meus filhos para o supermercado. Eles têm que abordar clientes, vender café, ajudar a repor as gôndolas. Eles não ganham mesada, ganham salário e juntam o dinheiro para comprar álbum de figurinha. Quando viajamos, gastam do dinheiro que juntam para comprar brinquedo. Dou comida, hotel e carro, o resto tem que trabalhar para juntar o dinheiro.
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Por que não quis trabalhar no 3 Corações?
Não queria trabalhar com café. Filho e neto de quem era, nunca ia brilhar. Aos 16 anos, abri meu negócio, um lava-jato e uma loja de carro. Pouco depois eles venderam a 3 Corações e meu pai abriu o Suco Mais.
Seu empreendimento foi longe?
Para ganhar R$ 1,5 mil no dia, tinha que lavar 100 carros. Sábado era o melhor dia. Meu avó chegou e ficou só observando, justo quando o aspirador tinha quebrado. Eu com escovinha limpando os carros, todo suado e sujo. Ele disse que não tinha me criado para isso. Aconselhou a transportar o sucos do meu pai. Fechei meu negócio, larguei a faculdade e me mudei para Linhares, no Espírito Santo. Estava com 19 anos quando meu pai vendeu a Suco Mais para a Coca-Cola. Uma semana depois, recebi uma carta dizendo que não precisavam mais dos meus serviços e eu quebrei.
Qual foi o próximo passo?
Meu pai era exportador de café e seus concorrentes eram amigos. Ele me propôs transportar os cafés. Não queria, mas aceitei. Eu tinha cara de menino, mas me receberam por causa do meu pai, e cheguei com uma estratégia bem definida, pedindo oportunidade. Deu certo. Com 21 anos, ganhava R$ 20 milhões por ano. Falei com meu pai que não ia dar futuro. Ele perguntou se eu estava usando drogas.
Você achava isso pouco?
Contratava caminhão autônomo, a operação era cara. Ganhava dinheiro e não fazia patrimônio. Decidi me mudar para Santos e eu mesmo fazer a operação que era terceirizada. Economizaria R$ 5 milhões por mês a cada mil containers. Meu pai não queria que eu me mudasse para Santos, porque porto é perigoso. Mudei. Foi um sucesso. Cinco anos depois, era um dos maiores transportadores de café do país. Mas trabalhar com transporte não é coisa de gente. Tem problema demais. Já namorava com a Marcela, estava para casar e não queria a família em Santos.
Fechou o negócio? O que fez?
Vendi a transportadora e me mudei para BH. Por coincidência divina, o sócio do meu pai que tomava conta das fazendas de café decidiu sair e me chamaram. Assumi as fazendas em 2015. Cara de playboy, filho do dono. Cinco fazendas, 600 funcionários. Não sabia nada. Em três meses, viajei mais de 25 mil quilômetros visitando fazendas e aprendendo tudo. Peguei o melhor de cada uma e adaptei à nossa realidade. Em seis meses, a fazenda Primavera, que tinha 500 hectares de café, 129 funcionários, 23 tratores e 23 tratorzinhos, reduziu para 49 funcionários e sete tratores. Virou referência em como fazer tanto com tão pouco.
Aprendeu a trabalhar com o café?
Aprendi o que se faz com a fruta depois que se colhe. Visitei os cinco melhores produtores da América Central e trouxe essa bagagem. Plantamos o café arábica e temos mais de 30 espécies. O que mais se destacou foi o geisha. Participamos do Camp of Excelence, principal campeonato de qualidade do mundo. Tem em todos os países. Em 2018, disputamos com mais de mil produtores nacionais e ganhamos o primeiro lugar do Brasil. Quando anunciaram meu nome, disse que não era produtor, mas empresário que tem fazenda de café. Se eu consegui fazer isso, o que dirá eles que eram do café. Tinha um americano que faz campeonatos internacionais e lancei um desafio: me põe na roda e vou provar que o Brasil é melhor. Dois meses depois, ele fez a 1ª Copa do Mundo de Café, no Texas. Representei o Brasil e em 2019 ganhei o segundo lugar do mundo.
Passou a amar o café e foi só sucesso?
Todo mundo queria tomar café. Em 2019, tinham 200 pessoas de 40 países diferentes querendo comprar o café na Fazenda Primavera. A saca do geisha foi vendida por 19 mil dólares para uma cafeteria japonesa, hoje uma saca vale R$ 1,2 mil. Em uma feira em Berlim, em 2019, o maior estande era do Brasil e tinha uma foto enorme minha. Um casal da Bulgária me pegou pelo braço e disse que, depois que anunciaram que tinham o café da Fazenda Primavera, passaram a ter fila de espera. Certo dia, voltou à minha cabeça uma frase que meu avô me disse quando tinha seis anos: “o sonho da minha vida é ver o brasileiro tomar o café que é exportado”. Pedi demissão para o meu pai. Abri o Coffe ++ em 6/10/2020, com quatro tipos. Hoje estamos com oito.
Como você é como pai?
Descobri que meu CPF acabou. Tudo é para eles, por eles e pensando neles. Viagem, só com eles. Tenho dois grandes desafios. Primeiro, que eles não se tornem parentes e que um seja o melhor amigo do outro. Segundo, preciso formar três homens. Eles trabalham comigo todo sábado. Meu prazer é ficar com eles, porque viajo 16 dias úteis por mês. Quando estou em casa, preciso da minha família.