Praticamente um a cada quatro belo-horizontinos (24%) que apostam ou já apostaram em plataformas on-line, as chamadas bets, já se endividaram para conseguir jogar. Este dado está na pesquisa “Plataformas On-line”, realizada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais (Fecomércio MG) entre os dias 26 e 29 de setembro. O levantamento ainda apurou que 12% dos entrevistados já deixaram de pagar alguma conta para aplicar dinheiro nesses sites e aplicativos.

A ideia do Núcleo de Pesquisa e Inteligência da Fecomércio MG foi analisar o comportamento dos moradores de Belo Horizonte em relação às plataformas de jogos e apostas on-line, buscando quantificar o número de apostadores e entender a frequência, os valores gastos e as motivações por trás dessa atividade. A pesquisa também investigou os impactos das bets na vida dos apostadores.

O levantamento mostra que 81,8% dos entrevistados, praticamente um a cada cinco moradores de Belo Horizonte, nunca realizaram apostas on-line. Dos 18,2% restantes, 8,5% disseram que já apostaram em bets, mas não o fazem mais, enquanto 9,7% jogam com alguma frequência. Ou seja, quase um a cada 10 moradores da cidade jogam com frequência nessas plataformas. Por outro lado, 58,9% dos entrevistados disseram que têm alguém próximo que aposta constantemente.

De acordo com Fernanda Gonçalves, economista da Fecomércio MG, a discrepância entre os 9,7% que disseram que apostam com frequência para os 58,9% que afirmaram que conhecem alguém que aposta constantemente pode indicar que o número de apostadores frequentes na capital seja maior. Ela acredita que o fato de o jogo estar associado a algo ruim, como o vício, possa contribuir para uma subnotificação desta população.

Entre os entrevistados que realizam apostas on-line, 40% afirmaram que jogam pelo menos uma vez por mês, enquanto 30% admitiram que o fazem semanalmente e os 30% restantes realizam apostas diariamente. A pesquisa mostrou que 88,6% dos participantes acreditam que deveria haver mais controle ou regulamentação sobre as plataformas de apostas.

Custos

O gasto mensal médio com as apostas on-line na capital é de R$ 180,63. A pesquisa estratificou intervalos de valores aportados em bets mensalmente: 40% dos entrevistados afirmam que costumam apostar entre R$ 50 e R$ 100; outros 22,5% gastam até R$ 50; 17,5% gastam entre R$ 100 e R$ 300; 15% gastam entre R$ 300 e R$ 500; 2,5% apostam entre R$ 500 e R$ 1.000; e outros 2,5% apostam entre R$ 1.000 e R$ 1.500.

A maioria dos belo-horizontinos (42,5%) diz que a principal motivação para apostar em bets é o lazer e entretenimento. A intenção de ganhar dinheiro fica na segunda colocação, opção de 30% dos entrevistados. Um a cada cinco (20%) admite que faz apostas on-line pelo vício – quadro que pode estar subnotificado diante da vergonha do entrevistado em assumir o problema.

Por dentro da pesquisa

A economista Fernanda Gonçalves relata que, para elaborar o questionário da pesquisa, foi feito um estudo comportamental com pessoas que têm tendência a apostar. Esse trabalho mostrou que existe uma crença, às vezes estimulada pelas plataformas de jogos, de que em alguns horários, como a madrugada, a chance de ganhar é maior. Além disso, tanto a fissura (vício) por apostar quanto o ato de jogar como entretenimento podem comprometer o momento noturno de descanso do jogador.

Os números mostram isso: 30% dos belo-horizontinos que apostam em bets acreditam que a prática afeta sua concentração ou produtividade no dia a dia ao sentir sono ou cansaço. Outros 22,7% confessam que sentem vontade ou mesmo fazem uma fezinha on-line durante o expediente de trabalho.

Esse estudo comportamental também permitiu chegar a um formato de perguntas não invasivas para a pesquisa, com intuito de conseguir extrair o que realmente está acontecendo e não induzir uma resposta socialmente adequada. Até o tom de voz de quem aplicou a pesquisa foi pensado.

Para Fernanda Gonçalves, o cenário econômico em Belo Horizonte revela um quadro preocupante de endividamento, que envolve 88,7% dos consumidores (sendo que 63,6% já estão com ao menos uma conta em atraso, a chamada inadimplência).

“Esse contexto de fragilidade financeira é agravado pela popularização das apostas on-line. Em um ambiente de renda comprometida e encarecimento do crédito, as apostas podem se tornar uma alternativa arriscada para tentar melhorar a situação financeira, mas frequentemente acaba ampliando o ciclo de dívidas”.

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