Pesquisa mostrou que maioria dos estudantes e profissionais nunca teve treinamento nas empresas sobre neurodiversidade -  (crédito: Fauxels/Reprodução)

Pesquisa mostrou que maioria dos estudantes e profissionais nunca teve treinamento nas empresas sobre neurodiversidade

crédito: Fauxels/Reprodução

Uma pesquisa divulgada nesta terça-feira (2/4) – quando se celebra o Dia Mundial da Conscientização do Autismo – mostrou que falta conhecimento sobre neurodiversidade nos ambientes de trabalho. Dos 12 mil estudantes e profissionais brasileiros entrevistados, 86,4% declarou nunca ter participado de treinamentos ou programas relacionados ao tema no ambiente corporativo e apenas 75% estava familiarizado com o termo “neurodiversidade”, dos quais 48,6% possuíam conhecimento limitado.

 

Realizada pela Consultoria Maya, em parceria com a Universidade Corporativa Korú e com apoio da startup Tismoo.me e do Órbi Conecta, a pesquisa “Neurodiversidade no Mercado de Trabalho” busca entender quais as dinâmicas em ambientes corporativos quando se trata de profissionais neurodivergentes.

De acordo com o Center for Disease Control and Prevention (CDC), a incidência de diagnósticos de autismo em adultos em 2020 era de cerca de 2,2% da população. Apesar de carecer de dados oficiais atualizados sobre esse tema, estima-se que, a partir desse índice, o Brasil – que, como o último Censo mostrou, possui 140,7 milhões de adultos (pessoas entre 15 e 64 anos) – tenha cerca de 3 milhões de autistas adultos.

 

"Pessoas neurodivergentes podem ter Transtorno de Espectro do Autismo (TEA), Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), Dislexia, Síndrome de Tourette, entre outras condições, e nenhuma delas as impede de exercer atividades profissionais. Precisamos desmistificar esses termos e normalizar a presença de pessoas atípicas no ambiente de trabalho", afirma Francisco Paiva Junior, cofundador e CEO da Tismoo.me e editor da Revista Autismo.

 

Mercado mais inclusivo tem mais rendimento

Um levantamento da McKinsey & Company aponta que empresas com quadros diversos de funcionários são capazes de lucrar até 33% mais do que seus pares menos preocupados com esse aspecto em suas operações. No Brasil, os passos em direção à neurodiversidade são lentos, mas podem acelerar se as empresas se mostrarem abertas às possibilidades.

“Tanto na Tismoo.me quanto na Revista Autismo, trabalhamos com pessoas autistas e com outras neurodivergências, e a gente vê na prática o valor de trabalhar com cérebros que funcionam diferente. Isso traz muito mais criatividade, inovação, soluções fora do padrão para muitas situações, e o mercado de trabalho ainda não conseguiu enxergar isso. As empresas brasileiras ainda não conseguem entender esse valor”, relata Paiva Junior ao Estado de Minas.

 

Para Francisco, um dos fatores que ainda impede uma visão positiva sobre a neurodiversidade no mercado de trabalho brasileiro são os próprios processos seletivos.

 

“O caminho para mudar esse cenário começa pela seleção. Hoje, se pensarmos nos processos seletivos, eles não são muito justos. Já vi muito RH por aí fazer o juízo de valor de uma pessoa porque ela não olha nos olhos, mas isso não demonstra que ela é ou não uma pessoa sincera, honesta, que não vai ter transparência, até porque a maioria das pessoas autistas têm uma dificuldade grande de olhar nos olhos. Esse preconceito acaba criando amarras para essas empresas que não estão aproveitando esses talentos”, explica.

 

“O tema da campanha nacional do Dia Mundial de Conscientização do Autismo este ano é ‘Valorize as capacidades e respeite os limites’. Acho que é uma mensagem muito forte que as empresas precisam captar e entender que essas pessoas têm capacidades que vão trazer um diferencial muito grande no dia a dia, mas infelizmente por conta do capacitismo, as empresas acabam julgando essas pessoas, presumindo uma incapacidade por puro preconceito, porque a gente pode, inclusive, já ter pessoas neurodivergentes sem diagnóstico trabalhando conosco”, acrescenta ele.

 

É preciso investir em programas de diversidade

Um levantamento da Play Pesquisa e Conhecimento, realizado com 1,4 mil famílias de crianças neurodivergentes (com TEA e/ou TDAH), aponta que, para cerca de 60% das famílias, a capacitação dos funcionários em empresas sobre como lidar com a neurodiversidade pode ajudar na inclusão, e metade considera que as empresas devem oferecer ferramentas que eduquem sobre as diferenças e como lidar com elas.

 

A pesquisa da Consultoria Maya mostrou que, no ambiente de trabalho, quase da metade dos entrevistados afirmou nunca ter trabalhado diretamente com pessoas neurodivergentes; 21,4% tiveram experiências desafiadoras trabalhando com essas pessoas e apenas 30% considerou ter tido experiências positivas.

 

Ainda, a maioria apontou que a neurodiversidade traz benefícios para o ambiente de trabalho, como promover um espaço com mais criatividade e inovação; fortalecer a cultura da equipe; fomentar um ambiente de aprendizado; ou aumentar a satisfação e o engajamento dos funcionários.

 

O levantamento também identificou que a falta de compreensão de colegas e da liderança foi apontada como um dos principais desafios enfrentados por neurodivergentes no ambiente de trabalho (62,9%). Do total, 55% acreditam que é possível combater os estigmas e preconceitos por meio de programas de conscientização e educação e outros 42,9% por meio de política de inclusão e suporte.

 

Do total de entrevistados, 40% acreditam que a criação de programas de sensibilização e treinamentos para os funcionários seria a melhor estratégia para promover a inclusão de pessoas neurodivergentes no local de trabalho. Outras soluções apresentadas foram: oferecer ajustes razoáveis como ambientes de trabalho flexíveis e tecnologias assistivas (29,3%), estabelecer programas de mentoria ou apoio para colaboradores neurodivergentes (16,4%) e a criação de um comitê de neurodiversidade (7,1%).

 

“No fim das contas, o mercado de trabalho reflete a sociedade. Hoje, por exemplo, não temos representantes na política que espelham ou reflitam o que é exatamente a neurodiversidade que temos no nosso país. Não temos representantes na Educação. O Lazer, a Cultura e a Arte devem ser as áreas com mais representação por serem mais abertas”, diz Francisco Paiva Jr.

 

“É exatamente por isso que a gente faz campanhas de conscientização, ou pesquisas que trazem dados relevantes sobre o tema. Queremos fazer essa mudança de mentalidade para trazer mais equidade. e estamos conseguindo, diminuindo o preconceito”, complementa ele.

 

Plataforma assistiva

A Tismoo.me também está lançando, hoje, a primeira plataforma de inteligência artificial voltada para autistas, o Genioo. A iniciativa leva acesso a informação de qualidade sobre autismo e outras neurodivergências a todos – em português e em diversos idiomas, incluindo inglês e espanhol.

 

“É uma IA gratuita de chat conversacional desenvolvida no Brasil. Essa é uma tecnologia para que as pessoas possam ter acesso a uma rede de suporte, principalmente para quem, às vezes, não tem acesso a um profissional de saúde poder tirar dúvidas e se informar a respeito do autismo”, explica Paiva Junior.

 

“A tecnologia Genioo vem para democratizar a informação a respeito de autismo para todos com acesso à internet. Além de uma base de conhecimento especializada e científica, o que traz para mais seguranças às informações da nossa inteligência artificial generativa, e isso você não encontra hoje num ChatGPT, por exemplo”, acrescenta.

 

O Genioo também está sendo treinado para reconhecer padrões comportamentais, como a ideação suicida durante uma conversa.

 

Para ter acesso à tecnologia Genioo, que está em sua primeira versão beta, basta baixar o app Tismoo.me na loja de aplicativos da Apple (para iPhone) ou do Google (para Android) ou via web, acessando app.tismoo.me para bater papo com o robô especialista. Para ter acesso completo à IA, é preciso se cadastrar na plataforma e criar um usuário.