Cortejo do bloco Garotas Solteiras em 2023. O bloco optou por não desfilar esse ano, por questões logísticas -  (crédito: Roger Dias/EM/D.A. Press)

Cortejo do bloco Garotas Solteiras em 2023. O bloco optou por não desfilar esse ano, por questões logísticas

crédito: Roger Dias/EM/D.A. Press

O Carnaval de Belo Horizonte, um dos maiores do Brasil, é conhecido principalmente pela essência democrática e plural. Além de ser a maior festa popular brasileira, trata-se de um importante espaço de inclusão. Com mais de 500 blocos de rua, a diversidade é enorme: além de blocos infantis, afro e para a terceira idade, existem vários destinados à comunidade LGBTQIAP+.

A edição de 2024 promete ser o maior Carnaval de BH até agora, com expectativa de 5,5 milhões de pessoas, mas os blocos LGBTQIAP+ e focados em diversidade não acompanharam esse crescimento. Embora ainda existam opções como Abalô-caxi, Truck do Desejo, Mientras Dura e Bloco da Horny, a folia deste ano não contará com blocos tradicionais da comunidade, como @bsurda, Garotas Solteiras e Masterplano.


Carol Nogueira, regente do bloco Abalô-caxi, destacou que a situação dos blocos, em geral, é delicada devido ao crescimento constante do Carnaval, com pouco investimento do poder público diretamente nos blocos. O desafio financeiro é evidente, uma vez que os blocos são responsáveis por custear estruturas como sonorização, brigadistas e alimentação para a equipe.

Luiz Felipe César, um dos criadores do bloco Garotas Solteiras, relata uma situação semelhante. “Uma coisa que eu observei é esse valor alto que temos agora para esse gasto total. Muitas vezes o valor investido pela prefeitura nos editais ou até com o estado não fica suficiente. Você acaba tendo que fazer esse trabalho integrado de investimento ao longo do ano e o aumento foi muito significativo de 2023 para 2024”, afirma.

O crescimento no número de participantes do bloco gera desafios de logística e segurança, e esse foi o motivo do Garotas Solteiras não participar do Carnaval deste ano. “É preciso pensar na questão dos foliões, porque entra muito um fator de segurança. Uma coisa que o Garotas sentiu ano passado foi esse aumento do número de pessoas. Se você não tem a infraestrutura adequada, poderia ser um problema, e isso é o motivo pelo qual o bloco não vai desfilar esse ano”, explicou Luiz Felipe.

As questões de estrutura, no entanto, não são as únicas dificuldades enfrentadas pelos blocos LGBTQIAP+: a discussão de gênero e sexualidade nas ruas gera obstáculos. Os organizadores relatam que as agremiações enfrentam desafios adicionais devido à sua natureza minoritária, tanto em relação ao poder público quanto na interação com os foliões.

O Abalô-caxi, por exemplo, irá fazer um pequeno cortejo dentro do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) no dia 21 de janeiro, em nome do mês da visibilidade trans. “Eu vejo nos comentários do post de divulgação muita gente achando ruim porque a gente tá falando de movimento trans, a gente tá falando de visibilidade trans, a gente tem uma bandeira LGBT, então são dificuldades diversas”, conta a regente do bloco.

Os obstáculos enfrentados não são recentes. Ao relembrar o início do Garotas Solteiras, em 2016, Luiz Felipe relata que abordar pautas LGBTQIAP+ sempre trazia um olhar um pouco diferenciado para o bloco. Segundo ele, em alguns momentos, havia uma dificuldade maior para obter financiamento ou para ter uma boa relação com os órgãos de segurança, justamente por estarem abordando “um assunto delicado”.

O cenário, até hoje, é de luta. O Abalô-caxi trabalha de forma voluntária e recentemente se formalizou como uma associação cultural sem fins lucrativos, com CNPJ. A regente destaca que, com isso, a participação em editais e formas alternativas de captação de recursos fica um pouco mais fácil. No Garotas Solteiras, o cenário é parecido: até o carnaval de 2025 esperam profissionalizar a organização, além de conseguir patrocínios e fundos para realizar um cortejo do porte que o público precisa.

Ao mesmo tempo em que a ausência de blocos tradicionais gera um certo vazio para o público fiel, é, também, um momento de novidades. Novos blocos surgem, criando oportunidades para o público LGBTQIAP+ e movimentando o cenário carnavalesco. É o caso do Trembase Furacão, do coletivo de música eletrônica Trembase, que está fazendo um financiamento coletivo para colocar o bloco na rua.

A representatividade proporcionada pelos blocos que lutam pela diversidade é destacada como fundamental em um momento de festa que também é político. “Colocar mesmo um bloco na rua e fazer a estrutura inteira acontecer é difícil, mas é uma forma de realmente resistir e trazer pessoas que são mais marginalizadas e populações que são minoritárias mais para perto e para essa ocupação da cidade, que a gente acredita que é transformadora”, diz Carol Nogueira.

Confira a lista com informações sobre os cortejos de alguns blocos LGBTI+:

  • Abalô-caxi - 11/2 - local e horário ainda não divulgados
    Bloco Eleganza - 11/2 - 14h - Rua Itajubá, 170, Floresta
    Trembase - 11/2 - 15h - Rua Aquiles Lobo, 180 - Floresta
    Bloco da Horny - 12/2 - 16h - Rua Sapucaí, 571, Floresta
    Truck do Desejo - 13/2 - 9h - Avenida Brasil, 1200, Funcionários
    Mientras Dura - 13/2 - 16h - Rua Silva Alvarenga, 619, São Geraldo
    Lua de Crixtal - 18/2 - 9h - Rua Aarão Reis, 554, Centro

Mapa dos blocos de BH


Veja data, local e horário de desfile dos blocos de rua do carnaval de BH 2024 neste mapa interativo atualizado diariamente. Baixe o mapa dos blocos de carnaval de BH para acompanhar as centenas de desfiles grátis nas ruas da capital mineira.

*Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice