Em 2025, Belo Horizonte reafirmou sua vocação para a boa mesa ao receber novos endereços que ampliaram, diversificaram e sofisticaram ainda mais a cena gastronômica local. Casas que nasceram de histórias pessoais, conceitos bem definidos e um olhar atento para experiência, identidade e afeto passaram a ocupar lugar de destaque no cotidiano dos belo-horizontinos.
Nesta retrospectiva, revisitamos lugares que abriram suas portas ao longo do ano e ajudaram a desenhar novos caminhos para comer, beber e se encontrar na capital mineira.
JANEIRO
Azeite como protagonista
Foi em um jantar, dividindo uma porção de azeitonas, que nasceu a ideia da Casa Azeite. Naquele momento, surgiu uma pergunta simples, feita muitas vezes ao longo de viagens, jantares e conversas à mesa: o que faz alguém escolher um restaurante e querer voltar?
Casa Azeite: o azeite aparece em todo o cardápio, inclusive na mousse de chocolate amargo com crocante de mel
Para o casal Iolanda Silva e Philippe Borges, a resposta sempre passava por três pilares fundamentais. “Entendemos que era uma combinação de um ambiente agradável, um atendimento cordial e uma comida gostosa”, resume a chef.
O restaurante foi pensado desde o início como um negócio diferente. “A gente quis trazer um pouco do nosso conhecimento de marketing, de gestão e de pessoas para a gastronomia”, conta Iolanda. Sem a intenção de se encaixar em um rótulo culinário específico, o casal encontrou no azeite o elemento capaz de costurar toda a proposta da casa.
“A azeitona acaba sendo um ingrediente meio controverso, né? Porque não é todo mundo que gosta. Então, tivemos a ideia de trazer o azeite como elemento principal e que fosse uma assinatura do restaurante”, acrescenta. Presente em diversas culturas e cozinhas ao redor do mundo, ele se tornou protagonista nos pratos, nas finalizações, nos drinques e até nas sobremesas.
O cardápio da Casa Azeite, que ocupa um imóvel centenário projetado por Ângelo Murgel, na Região Leste de BH, começou a ser desenhado pelo chef Pedro Melo e ganhou novos contornos ao longo do ano sob condução do restante da equipe. Enxuto e versátil, ele privilegia pratos para compartilhar e contempla diferentes restrições alimentares, com opções veganas, vegetarianas, sem glúten e sem lactose.
“Nos preocupamos em ter entradas, principais e sobremesas que atendessem diferentes dietas. O nosso diferencial é esse cuidado em todas as etapas”, destaca Iolanda. Esse cuidado impacta diretamente a reação dos frequentadores. “É muito comum os clientes irem embora e me abraçarem, como se estivessem saindo da casa de um amigo”, observa a chef.
Entre as entradas mais pedidas, está a acelga na brasa, finalizada com creme de castanha de caju, queijo Grana dos Laura (do Sul de Minas), picles de cebola roxa e picles de semente de mostarda. As guiozas também se firmaram no cardápio: hoje na versão de porco, são servidas com molho teriyaki de tucupi. Já de prato principal, o arroz de pato se consolidou como carro-chefe pelo tempero intenso, leve picância e textura “molhadinha”.
O bar acompanha a mesma lógica criativa. Assinada pela própria Iolanda, a carta reúne cinco drinques autorais e cinco clássicos, executados à risca. Entre as propostas, chama atenção o “Nós cinco”, uma espécie de menu degustação com versões menores das criações da casa, pensado para quem gosta de experimentar antes de escolher o favorito.
- Casa Azeite
- Rua José Pedro Drumond, 56, Floresta
- (31) 99248-5993
- @casa.azeite
ABRIL
Homenagem espanhola
O Parallel nasceu como uma homenagem a um tempo vivido fora – e que nunca foi esquecido. À frente do restaurante estão os chefs Guilherme Furtado e Gabriella Guimarães, casal que morou na Espanha entre 2013 e 2019, período que marcou definitivamente a relação dos dois com a gastronomia. “Abrimos o restaurante para homenagear esse tempo que passamos lá”, conta Guilherme.
Parallel: na noite dedicada ao vermute, a croqueta inspirada na salada Caesar pode fazer parte da seleção de tapas
Inaugurado em abril, o Parallel aposta em uma cozinha espanhola contemporânea, mas sem se afastar das raízes. “A gente trabalha uma comida espanhola atual, com releituras, mas sempre muito focada no sabor tradicional”, explica o chef.
Localizado no Bairro Lourdes, Região Centro-Sul, o restaurante ocupa um endereço estratégico em frente ao Okinaki, primeiro negócio do casal, voltado para a cozinha asiática. Com capacidade para cerca de 90 pessoas, foi pensado para ser acolhedor e descomplicado. “Não nos propomos a ser um restaurante chique. A ideia é ser casual, divertido”, ele define.
O Parallel é um lugar tanto para quem quer sentar à mesa com calma quanto para quem prefere passar horas “beliscando” tapas, tomando sangria, vermute ou cerveja entre amigos.
Às quintas-feiras, o restaurante promove o “Vermuteo”, inspirado em um costume tradicional na Espanha. Por um valor promocional, o cliente recebe um vermute (bianco ou rosso) acompanhado de uma seleção de cinco tapas da casa, que muda toda semana e sempre inclui um sabor fora do cardápio. Um deles é o pão com tomate, anchova, aioli e raspas de limão siciliano.
Aos sábados, no almoço, a paella é preparada ao vivo. Do lado de fora do restaurante, uma grande paellera entra em ação, em um clima quase comunitário, com o prato servido em porções. Além dos tapas e dos arrozes, como o Arroz de Setas, típico de Valência, com cogumelos, legumes e amêndoas, o cardápio se destaca pelas carnes feitas na brasa, com “aquele gostinho de churrasco sensacional”.
- Parallel
- Rua Santa Catarina, 1155, Lourdes
- @parallel.bh
MAIO
Japão em clima de boteco
Instalado em uma casa de esquina no mesmo quarteirão do Redentor, o famoso bar inspirado no Rio de Janeiro, o Marú nasceu de uma escuta atenta da própria vizinhança. Para que pudesse definir o conceito, eles espalharam placas pela Savassi perguntando do que as pessoas sentiam falta na região. A resposta veio quase unânime: faltava um bom japonês.
Marú: os micro cogumelos japoneses importados nametake são servidos dentro da casca do limão
Especialista em bares e na cultura do boteco, o Grupo Redentor decidiu trilhar um caminho pouco explorado em BH e criar um bar japonês. O resultado é um conceito que fica entre o restaurante tradicional e o izakaya, mas com a informalidade, o chope gelado e a vocação para o encontro, que já são marcas do grupo.
“A ideia é dar liberdade, porque conseguimos no cardápio tanto opções quentes quanto o sushi bar, com ingredientes frescos”, menciona a gerente de marketing, Paula Cavalcanti.
Da cozinha, saem combinados disputados e duplas que fogem do óbvio, como a de vieiras e a de nametake, cogumelos japoneses importados servidos no limão. Entre os pratos quentes, a pipoca de camarão se consolidou como um dos petiscos mais pedidos, ao lado do arroz de porco com ovo estrelado, milho na espiga e alga nori.
Para acompanhar, caem bem drinques como o Mizú, que combina saquê com yuzu, gim e limão, e o Kasato, feito de saquê com Aperol, licor de flor de sabugueiro e borda do tempero mexicano tajin.
O bar japonês deu início a um ano movimentado para o grupo, conhecido por explorar a diversidade em um só quarteirão. Nos meses seguintes, foi inaugurado o Moeminha, como uma extensão mais confortável e tranquila dentro do bar Moema, pensado para experiências mais longas à mesa.
“Aproveitamos para lançar o peixe amazônico com crosta de ervas e o camembert com uvas confitadas e castanha de caju caramelizada, que já são queridinhos da casa”, afirma Paula.
Posteriormente, em julho, o Bar da Fila foi concebido como um espaço de espera e convivência para o bar Redentor, com cardápio exclusivo de petiscos, bolinhos (destaque para os de feijoada e frango com quiabo), drinques e identidade própria, reforçando a proposta de boteco contemporâneo e o diálogo constante do grupo com a dinâmica da vizinhança.
- Marú
- Rua Fernandes Tourinho, 604, Savassi
- (31) 2528-7337
- @maru.barjapones
- Moeminha
- Rua Sergipe, 1370, Savassi
- (31) 3568-3555
- @moema.bar
- Bar da Fila
- Rua Fernandes Tourinho, 500, Savassi
- (31) 3568-8469
- @redentorbar
JUNHO
Cozinha geraizeira
Nos corredores da faculdade de gastronomia, Maria Clara Alves e Hernane Souto se uniram para tirar do papel um projeto que, naquele momento, funcionava como delivery. A ideia amadureceu junto com a formação dos dois e, com o fim do curso, ganhou corpo – e endereço fixo – como restaurante. Nascia, assim, o Andu de Dois, espaço de valorização da cozinha geraizeira, tradição do Norte de Minas (região de origem de Maria Clara).
Andu de Dois: os pratos reúnem ingredientes do Norte do Minas, como feijão-andu, manteiga de garrafa e maxixe
“O restaurante busca servir comida que desperte memória afetiva, acolhimento e conexão com as raízes mineiras de seus clientes. Também cria um ambiente onde as pessoas se sintam acolhidas, valorizando simplicidade, autenticidade e emoção nos pratos”, resume a chef.
Não à toa, o restaurante se tornou ponto de encontro para muitos clientes vindos do Norte do estado, que encontram ali sabores capazes de transportá-los para casa.
Na cozinha, os ingredientes carregam a potência do território de onde vieram. Pequi, feijão-andu, carne de sol de Mirabela, manteiga de garrafa, óleo de pequi e farinha de mandioca são alguns considerados indispensáveis e que aparecem com frequência nos pratos.
Entre eles, o clássico arroz com pequi, parmegiana de carne de sol e o “Andu de Dois” (arroz e feijão andu na manteiga de garrafa, carne de sol frita, farofa de pequi e vinagrete de maxixe).
“Não tem como falar daquela terra sem trazer os ingredientes de lá, plantados e cuidados por aquele povo”, afirma Maria.
- Andu de Dois
- Rua Gabro, 41, Santa Tereza
- @andudedois
JUNHO
Centro pulsante
Se a gastronomia é uma forma de celebração, o Tom Cozinha é a festa particular da chef Ana Clara Valadares. Inaugurado na Galeria São Vicente, Centro de BH, o restaurante não é apenas um novo endereço, mas a convergência de uma trajetória que une as panelas de casa, no interior de Minas, aos rituais coletivos das festas de congado. “O Tom nasce quando entendo minha trajetória e desejo celebrá-la”, define a chef.
Tom Cozinha: pouco difundido em restaurantes contemporâneos, o pé de porco tem seu lugar garantido no cardápio
A escolha do lugar não foi por acaso. Vizinho de projetos como Palito, Bolacha e Puxado, o Tom se alimenta da pulsação e da memória de uma galeria antiga e parte do movimento de recuperação criativa do Centro da cidade. Isso se reflete diretamente no cardápio, onde a sofisticação e a simplicidade se complementam.
“Seja usando técnicas comumente aceitas como requintadas, como cozimento no sous vide e curas usando a base asiática, ou técnicas habitualmente usadas no dia a dia, como um tempero batido no pilão ou um pinga e frita”, menciona Ana Clara.
Entre as apostas que já conquistaram o público, estão pé de porco, corte pouco apreciado e difundido em restaurantes contemporâneos, servido com purê de feijão-branco, gremolata de coentro, pimenta-de-cheiro e torresmo de orelha de porco; bolinha de couve e taioba com molho de tomates tostados; e brócolis e quiabo grelhados no fogo com coalhada, gergelim, bottarga ralada e poejo.
- Tom Cozinha
- Avenida Amazonas, 1049, loja 70, Centro
- @tomcozinha
JULHO
No controle do fogo
Tudo ali passa, em algum momento, pelo fogo. Seja pela brasa, pela lenha ou pela fumaça, o restaurante tem na parrilla o centro de sua identidade. Essa é a proposta, clara e sem rodeios, do Pastus, o “caçula” do chef português Cristóvão Laruça, também proprietário dos famosos Caravela (fechado temporariamente) e Capitão Leitão.
Pastus: as carnes bovinas são as grandes estrelas do menu e sempre passam, em algum momento, pelo fogo
As carnes bovinas são as grandes estrelas do menu e o restaurante realiza seu próprio processo de dry aging (processo de envelhecimento em ambiente refrigerado e controlado). A câmara de maturação fica à vista dos clientes e os cortes são servidos a partir de 60 dias, resultando em sabor mais profundo, textura macia e identidade marcante.
Entre as opções, o prime rib (corte nobre de costela bovina) dry aged de 60 dias se firmou como especialidade da casa, enquanto a fraldinha aparece entre os pedidos mais frequentes.
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O fogo não se limita à parrilla. O Pastus também conta com forno a lenha, onde o chef explora o sabor defumado característico. “A gente usa muita lenha no preparo da brasa e isso traz essa presença forte da fumaça, do defumado, que marca muito o prato”, explica.
Outro elemento central do Pastus, que tem se tornado tendência em BH, é a cozinha totalmente aberta. “Adotamos esse modelo pela primeira vez em 2018, no Capitão Leitão. Enquanto chef, sempre há uma grande preocupação de mostrar para o cliente como o alimento está sendo preparado. Não temos nada a esconder”, ressalta Laruça.
Amplo e arejado, o restaurante ainda se destaca pela vista privilegiada para a Serra do Espinhaço. O pôr do sol se impõe como parte do cenário, convidando para uma refeição sem pressa.
- Pastus
- Rodovia BR 356, 7515, lojas 104, 105 e 106, Belvedere
- (31) 99628-0166
- @pastus.bh
OUTUBRO
Feliz no simples
A capital dos bares também celebrou a chegada do Fuga, restaurante simples, mas cuidadosamente pensado, onde atravessar a porta já funciona como um pequeno ato de escape da rotina.
Fuga: entre as entradas frias, a burrata com abobrinha e chimichurri se destaca no balcão do bar
“Ele nasceu para juntar as nossas referências, da soma de vivências em bares de bairro, bodegones argentinos e restaurantes em geral, misturadas sempre com Belo Horizonte e seu jeito de receber”, lembra um dos sócios, Nico Bollini, parceiro de Pedro Melo, que comanda a cozinha.
Definido como um bar de esquina contemporâneo, acolhedor e vivo, o Fuga se guia por uma premissa clara: feliz no simples. O ambiente convida a sentar sem pressa, beber bem, comer com prazer e conversar. “Não é sobre espetáculo, é sobre constância. Balcão ativo, cozinha aberta, serviço próximo e uma atmosfera que convida a ficar mais um pouco”, confirma Nico.
No menu, você encontra opções de aperitivos, frios, entradas e pratos quentes. Algumas delas são o humus e a coalhada da casa acompanhados de azeite e pão; empanadas de milho com kimchi; mandioca na manteiga de garrafa com farofa de dendê e a batata frita com creme azedo, pernil e torresmo. Para os que preferem prato cheio, é uma boa pedida a costeleta de porco à milanesa.
O bar ainda oferece uma carta diversa de coquetéis, cervejas e vinhos, com destaque para o vermute.
- Fuga
- Rua Outono, 486, Cruzeiro
- @fuga.bh
NOVEMBRO
Refúgio no quintal
O Amoreira 71 abriu suas portas para materializar o desejo de quatro amigos de criar um porto seguro para a boemia e a boa mesa. O projeto de restauração da casa antiga e charmosa conseguiu preservar a identidade do imóvel, ao mesmo tempo em que criou dois ambientes distintos: um salão interno intimista e um quintal que transporta o cliente para as antigas pracinhas de bairro.
Amoreira 71: a mandioca prensada que acompanha a costela de boi e a salada de agrião foge do óbvio
À frente da cozinha, o chef Rodrigo Rodrigues apresenta um cardápio autoral construído sobre as bases da memória e do compartilhamento. Segundo ele, o destaque do menu é a bochecha de porco com molho roti, couve cítrica e fritas.
“A bochecha é confitada à baixa temperatura na própria banha por seis horas, resultando em uma carne extremamente macia e suculenta. O molho roti é um clássico francês preparado com ossos e legumes durante dias, trazendo profundidade e brilho ao prato”, descreve.
Além disso, vale experimentar a costela de boi com mandioca prensada e salada de agrião. “A mandioca prensada surpreende. Crocante por fora e extremamente cremosa por dentro, é preparada de forma pouco convencional. A salada de agrião completa o prato com seu sabor marcante”, observa.
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Para beber, a casa aposta em vários drinques com sidra, bebida fermentada de maçã que está ganhando espaço na cidade.
- Amoreira 71
- Rua do Ouro, 71, Serra
- (31) 98423-5758
- @amoreira71bar
