Salaminho, tomate, cerveja, cachaça e salsicha em lata são alguns dos itens que podem ser encontrados em mercearias que são também bares. Em dois desses estabelecimentos, no Bairro Pompeia, Região Leste de Belo Horizonte, o movimento diurno de clientes que compram produtos para suas casas se mistura com o de trabalhadores que saem do serviço e aproveitam para desestressar e se encontrar com amigos. Entre eles, está sempre o dono do negócio, que fica logo atrás do balcão.
Na Mercearia Pérola do Atlântico, fundada em 1956, José Quintino é quem comanda o balcão. Ele herdou o negócio dos pais portugueses que vieram da Ilha da Madeira. O nome Pérola do Atlântico, aliás, vem daí, é um apelido dado à ilha.
José, mais conhecido pelo seu sobrenome, Quintino, sabe exatamente a cerveja que cada um dos clientes habituais toma. Fica sozinho atrás do balcão nos dias de semana, quando prepara saladas frias (R$ 22,50), que podem ser de palmito com tomates, por exemplo, e porções de salaminho (R$ 18).
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Nas sextas, sábados e domingos, saem alguns itens de estufa, que ele mesmo prepara e frita, como costelinha (R$ 13) e chouriço (R$ 6).
Diferentes públicos
A mercearia preserva um público do bairro, mas, ao longo dos anos e principalmente depois de entrar na lista do projeto “Bares com Alma”, em 2024, começou a atrair mais jovens e pessoas de outras partes da cidade. No geral, entretanto, Quintino diz não observar tantas mudanças no comportamento da clientela.
O nome Pérola do Atlântico vem de um apelido dado à Ilha da Madeira
“Sempre tive clientes que bebem algo no início da manhã. Quando abro [às 7h], vem muita gente que trabalha durante a madrugada, como porteiros, para beber uma cerveja antes de ir descansar, por exemplo”, explica, destacando que o público da manhã nos bares vai muito além de quem sai para trabalhar. Também envolve os que estão chegando do expediente.
Luta desigual
Na visão do proprietário, o crescimento dos supermercados e hipermercados, que passaram a existir em diversos pontos da cidade, inclusive, bem perto de lá, dificultou a vida das mercearias, que foram se perdendo.
“A qualidade do que tem aqui é diferente. Todos os dias eu vou ao Mercado Novo comprar verduras e frutas, já me conhecem lá”, conta ele, destacando que faz, pessoalmente, a seleção dos produtos. Na mercearia, ainda é possível encontrar produtos de limpeza, cigarro, enlatados etc.
Leite de saquinho
Outro endereço que funciona como lugar de diversão e de compras é o Bar e Leiteria Casa Branca. Historicamente, os moradores do bairro procuravam o estabelecimento para comprar leite em saquinho, mas isso foi se perdendo à medida em que a bebida passou a ser vendida em caixinhas nos supermercados.
Pedro Gonçalves voltou recentemente a oferecer petiscos que ele mesmo faz no Bar e Leiteria Casa Branca
Pedro Gonçalves trabalha lá desde 1986, mas não sabe ao certo o ano de fundação da casa. Diz que ela foi construída uns cinco anos antes da mercearia da frente, de 1964. Dessa forma, a estimativa é de que o Bar e Leiteria Casa Branca seja de 1959, ou seja, tenha cerca de 66 anos.
Além do leite, o negócio já foi reconhecido pela venda de pães e outros produtos que os antigos proprietários traziam da roça. “Entrei aqui como empregado e os antigos donos me passaram o ponto entre 2000 e 2001. Me lembro de, na época deles, vender frango abatido, ovos da roça e queijo artesanal”, destaca Pedro.
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Por mais petiscos
Pedro não preparava petiscos há cerca de nove anos. Até pouco tempo atrás, os clientes comiam os enlatados que eram vendidos no armazém. Mas, há alguns meses, por conta de uma ação da Bienal de Gastronomia de Belo Horizonte de 2025 em estabelecimentos destacados pelo projeto “Bares com Alma”, ele voltou a fazer a moelinha (R$ 25) e a carne cozida (R$ 25) para os clientes.
O atual dono do Bar e Leiteria Casa Branca trabalha lá desde 1986
Não é garantido que você vá encontrar essas comidinhas todos os dias, mas o dono do Bar e Leiteria Casa Branca vem trabalhando para o retorno deles no dia a dia da casa.
Uma pessoa importante nesse processo e na divulgação do bar é o jornalista Bernardo Cançado, do perfil Oncêvai. “O pessoal começou a ver no Instagram dele e me procurar. Agora tenho clientes antigos e mais jovens.”
Além do Centro
O fato de falarmos de dois negócios na Região Leste da capital mineira reflete um movimento destacado pelo professor de história e pesquisador José Newton Meneses. “Nos anos 1960 e 1970, houve um crescimento demográfico acompanhado de um movimento de elites saindo do Centro da cidade e indo para bairros mais periféricos.”
Serviço
Mercearia Pérola do Atlântico
Rua Iara, 300, Pompéia
De segunda a sábado, das 7h às 19h
Domingo, das 7h às 14h
(31) 98248-1994
Bar e Leiteria Casa Branca
Rua Casa Branca, 251, Pompéia
De segunda a sexta, das 7h às 21h
Sábado e domingo, das 7h às 16h
(31) 98771-7032
*Estagiária sob supervisão da subeditora Celina Aquino
