Em 2017, um jovem empreendedor decidiu seguir um caminho arriscado. Desenvolveu um refrigerante artesanal mineiro, o que significava encarar de frente grandes indústrias. Mistura de guaraná e limão, o Guaramão chega aos oito anos em plena expansão: da fábrica, da capacidade produtiva, de mercado e de portfólio. O criador, Eduardo Quick, revela, em entrevista ao podcast Degusta, novidades como a abertura da segunda loja em São Paulo e a volta do sabor de jabuticaba.


Eduardo trabalhou em banco durante um período, mas sempre quis empreender e passou por vários negócios envolvendo bebidas, incluindo sucos naturais e kombucha no Néctar da Serra. O pedido para criar um refrigerante foi do seu irmão, Rafael Quick, que estava abrindo um bar e não queria trabalhar com grandes marcas. Tinha mais de 70 anos que não se via um novo rótulo local. “Sempre gostei de criar. Quando ele me deu o desafio, achei ótimo, porque é a coisa que mais gosto de fazer.”


Dessa conversa, surgiram dois sabores: guaraná com limão, inspirado no suco mais vendido no Néctar da Serra durante o verão, e morango, amora e limão, uma versão da pink lemonade. O combinado era que Eduardo faria os sucos e o bar adicionaria o gás carbônico.


No dia da inauguração do Juramento 202, no Bairro Pompeia, Região Leste de BH, uma cena curiosa definiu a história. “Eles colocaram os dois barris e, como era muito artesanal, os carocinhos das frutas vermelhas entupiram a chopeira. E aí não saiu nem um único copo do outro sabor, só do guaraná, que na hora já ganhou o nome de Guaramão”, relembra.


Nos primeiros quatro anos, o refri era vendido apenas em barril e praticamente só para o bar. A marca deslanchou mesmo quando entrou no Cozinha Tupis, restaurante que encabeçou o movimento de reocupação do Mercado Novo, no Centro da cidade. Naquela época, era uma vitrine e tanto para um produto local. “De repente, sem ter feito nenhuma ação comercial, a gente já estava em 20 restaurantes.”

Embalagens retrô


Do barril, o Guaramão migrou para a garrafa bojudinha de 500ml, a mesma da Corote (bebida com vodca e essência de frutas). Foi escolhida justamente por ser diferente do padrão e também pelo design retrô – a marca sempre se inspirou nos antigos refrigerantes. “A gente não tinha recurso. Então, precisava pensar em uma embalagem que fizesse o trabalho de chamar atenção, de gerar comentário.” Funcionou.

De oito anos para cá, o portfólio da marca cresceu ao incorporar versão zero açúcar, bebida mista com cachaça de jambu e o sabor sazonal de jabuticaba

Marcos Vieira/EM/D.A Press


Depois veio a garrafa mais comprida de 300ml. O formato, criado por Rafael Quick, que é designer, homenageia a primeira garrafa de vidro da também belo-horizontina Mate Couro, de 1947. “A nossa grande inspiração é a Mate Couro. Nós somos fãs número 1. Inclusive, temos que agradecer porque eles ajudaram muito o Guaramão. Receberam a gente e deram várias dicas”, conta Eduardo, que os considera “padrinhos”.


Já está nos planos lançar o Guaramão em lata e vidro. Também deve sair, nos próximos meses, a garrafa de um litro, seguindo a proposta retrô.

Sabor de nostalgia


Para o criador, o sucesso do Guaramão não está só no sabor. Segundo ele, também tem a ver com uma certa nostalgia, por resgatar boas lembranças de uma época em que não havia hipermercados. As pessoas compravam refri em mercearias de bairro ou na própria fábrica, o que gerava vínculo com as marcas e as pessoas. “Esse é um dos objetivos que a gente tem.”


Outro ponto, que ajuda a enfrentar a concorrência das indústrias, é criar relações mais humanizadas. “A gente senta na mesa com o dono do restaurante e fica uma tarde batendo papo, contando história”, diz o empreendedor, que acrescenta: “A gente tem um ótimo relacionamento com os garçons, porque quem que vai vender o Guaramão mesmo para a gente são eles. Então, a gente tem muito esse trabalho mais humano para poder conquistar nosso espaço.”

Devagar e sempre


Apesar de o foco ser Belo Horizonte, a marca já extrapolou as fronteiras da cidade. Tanto que acaba de abrir a segunda unidade da Mineirada em São Paulo, loja coletiva da Guaramão com Café Jetiboca, Copa Cozinha, Cachaçaria Lamparina e Aveia Tapeçaria. O refri também pode ser encontrado em restaurantes na capital paulista, Bahia, Rio de Janeiro, Brasília e cidades no interior de Minas.

Para Eduardo Quick, o sucesso do Guaramão não está só no sabor. Segundo ele, também tem a ver com uma certa nostalgia

Marcos Vieira/EM/D.A Press


O Guaramão ainda não entrou em supermercados por uma questão estratégica. “Acho que é muito mais difícil vincular um carinho, uma identificação das pessoas com a sua empresa chegando naquele mundo de um milhão de produtos. Então, a estratégia do Guaramão é, como um bom mineiro, ir comendo pelas beiradinhas, devagarzinho, mas com passos sólidos.”


A fábrica passou por uma grande obra no fim do ano passado, o que dobrou o seu tamanho e aumentou em até cinco vezes a capacidade produtiva. Com isso, dá para saltr de 20 mil (número atual) para 100 mil unidades por mês.

Novos produtos


No carnaval do ano passado, a marca incorporou uma bebida alcóolica ao seu portfólio. Jambrunão é uma mistura de Guaramão com Jambruna (cachaça de jambu, que faz a língua “tremer”) e um toque adicional de laranja.


A vontade de trabalhar com sabores sazonais se concretizou no fim de 2024, quando chegou ao mercado o Jabuticabão. No lugar do guaraná, jabuticaba. “Durou menos de um mês, foram cerca de sete mil garrafas, e até hoje, toda semana, alguém pede. Esse ano a previsão é fazer no mínimo umas 10 vezes mais do que fiz no ano passado”, avisa, animado com a ideia de lançar edições limitadas com outras frutas.


Eduardo levou quase dois anos para desenvolver a versão do refri sem açúcar – ele utiliza o adoçante natural stevia. Esse era um pedido antigo dos clientes, chegou ao mercado em maio deste ano e hoje em dia já representa quase 40% das vendas.

Ainda sobre as novidades, está em desenvolvimento para o verão um picolé de Guaramão com a Picolé e, até o início do ano que vem, deve ser lançada a loja on-line com produtos que evidenciam a marca, como camiseta, chaveiro, boné, ecobag e quadro.

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Serviço


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