Familiares, amigos e fãs de Lô Borges se emocionaram durante a missa de sétimo dia do cantor, realizada neste sábado (8/11) na Paróquia Santa Teresa e Santa Teresinha, na Praça Duque de Caxias, no Bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte. A cerimônia contou com três corais – Ensaio aberto, Coral do Hospital Felício Rocho e Madrigal Scala – e várias homenagens para celebrar o legado deixado pelo artista.

Com os olhos marejados, o irmão de Lô, Yé Borges, relatou que os últimos dias foram difíceis para toda a família, mas que estão se apoiando na fé para superar o luto. Além disso, ele reforçou o quanto o cantor foi querido pelo público, o que reverberou no desejo de muitas pessoas estarem presentes na missa, acompanhando ou cantando.

“A ferida ainda está aberta, mas ela vai cicatrizar. A missa de sétimo dia é o momento que a gente espera encerrar o luto. É um momento de choro. Quero despedir aqui os choros que estou tendo nos últimos dias. Não que eu não tenha mais, mas que seja, aqui, um derramar de lágrimas”, disse o irmão.

Para o sobrinho de Lô e filho de Yé, Samis Borges, os dias sem o tio também têm sido duros, mas ele acredita que, agora, deve-se manter e cuidar do legado deixado pelo cantor.

Irmão de Lô, Yé Borges, recebeu os cumprimentos dentro da igreja. Ele relatou ao Estado de Minas que os últimos dias foram difíceis para toda a família

Marcos Vieira/EM/DA. Press

“Apesar de ele ser um ícone nacional, um ícone da música brasileira, a gente [família] sente muito pelo fato de ser alguém da nossa família. O que fica é o legado. A música dele ultrapassou barreiras. Além de tudo, o que fica são esses momentos. A gente perceber o impacto da arte dele”, conta o sobrinho.

Outro sobrinho de Lô, Rodrigo Borges acredita que a beleza e o reconhecimento do trabalho do cantor deve ficar marcado. Ele cantou a música “Quem sabe isso quer dizer amor” ao lado dos corais.

“É um dia para relembrá-lo, um dia de muita emoção, mas também de ser acolhido pela comunidade aqui de Belo Horizonte, mas também do Brasil. Ele deixa um legado que fica pra gente e pra nova geração. Desde muito novo, o Lô entra na vida das pessoas pela música e pela arte. A gente vê, agora, a comoção que foi com a partida dele, então acreditamos que isso só vai aumentar com o passar do tempo”, diz Rodrigo.

Além da música cantada pelo sobrinho, o coral fez uma homenagem cantando o religioso cântico “Ave Maria” e “Trem azul”, composição do próprio cantor. De acordo com o maestro Lindomar Gomes, que conduz o coral na missa, reforça que é um prazer participar deste momento, uma vez que Lô esteve presente em vários momentos nos corais da igreja.

“É uma emoção muito grande. O Lô é um gênio da música mineira e brasileira. Como ele dizia, sou do mundo, sou Minas Gerais, é uma marca. Temos uma admiração e respeito por esse legado maravilhoso que ele nos deixa”, conta o maestro.

Com uma família grande e considerada, pelos próprios integrantes, unida, os parentes e amigos ocuparam parte da igreja com muita emoção. Outras pessoas chegaram na missa vestindo camisas com frases de músicas do artista ou referências às obras de Lô.

No convite para a missa de sétimo dia, a família Borges escreveu que Lô foi mais do que um músico. “Ele foi símbolo de arte e sensibilidade. Um dos corações que pulsaram junto ao Clube da Esquina. Sua partida deixa saudade, mas sua obra permanece viva. Que o som da tua música continue sendo abrigo”, dizia a mensagem.

O cantor morreu no domingo (2/11) no Hospital da Unimed, em BH, de falência múltipla dos órgãos. O cantor e compositor ficou internado no Centro de Terapia Intensiva (CTI) durante 18 dias, após sofrer uma intoxicação medicamentosa.

Homenagens continuam

No domingo (9/11), a feira do Mercado Distrital de Santa Tereza (Rua São Gotardo, 273), que será realizada das 10h às 18h, vai fazer um tributo a ele com o Quarteto Travessia. Gabriel Guedes, filho de Beto, Tadeu Franco, Fred Borges, Bárbara Barcellos e outros músicos vão fazer um show com repertório de Lô, a partir das 13h.

Contribuição para a MPB

A partida de Lô Borges relembrou a atemporalidade de seu legado e do grupo Clube da Esquina, no qual foi um dos fundadores, que continuam a inspirar a nova cena musical de Belo Horizonte.

O músico lançou um disco por ano entre 2019 e 2025, mas se destacou como um dos nomes mais influentes da música brasileira há décadas. O Clube da Esquina, nascido nos encontros na capital mineira no fim dos anos 1960, segue moldando a identidade de várias gerações.

O Clube da Esquina foi um coletivo de amigos que revolucionou a MPB. Formado por Milton Nascimento, Lô e Márcio Borges, Toninho Horta e Beto Guedes, o resultado do movimento foi uma sonoridade única, com harmonias sofisticadas e letras poéticas reconhecidas mundialmente.

Lô foi coautor, junto a Milton Nascimento, do álbum "Clube da Esquina", lançado em 1972, um divisor de águas na música brasileira. Sua parceria com Milton começou cedo, com composições como "Para Lennon e McCartney" e "Clube da Esquina", presentes no disco Milton, de 1970.

Descrito como um "craque em harmonias e melodista habilidoso", o artista sempre esteve à frente do seu tempo. Sua música se destacou pela fusão de influências, misturando Beatles, baião, psicodelia, jazz, pop, rock progressivo e MPB.

Seu primeiro disco solo, o "Disco do Tênis", de 1972, que contém o sucesso "O Trem Azul", tornou-se um clássico cult e demonstrou sua capacidade inventiva. O álbum teve reconhecimento posterior, chegando a ser citado como influência por artistas internacionais, como Alex Turner da banda Arctic Monkeys.

Lô se manteve como um compositor produtivo ao longo da vida, gravando dezenas de discos. Durante o confinamento da pandemia, por exemplo, chegou a compor cerca de 40 músicas. Segundo o irmão, Yé Borges, ele vinha compondo compulsivamente e deixou quatro álbuns de músicas inéditas prontos – dois deles já mixados.

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