MÚSICA BRASILEIRA

Retrato da artista Maria Bethânia quando jovem

Livro de Paulo Henrique de Moura revela trajetória da cantora antes da peça "Opinião" e o impacto causado por ela ao interpretar a música de protesto 'Carcará'

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O jornalista e pesquisador Paulo Henrique de Moura lança o livro “Maria Bethânia, primeiros anos: Da cena cultural baiana ao teatro musical brasileiro” (Editora Letra e Voz), resultado de dissertação de mestrado defendida na Universidade de São Paulo (USP), em 2024. O autor analisa o início da trajetória profissional da cantora baiana, destacando o momento em que ela, aos 17 anos, saiu de Salvador rumo ao Rio de Janeiro, em 1964, para fazer teste para o espetáculo “Opinião” e substituir Nara Leão.

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Criado por Armando Costa, Oduvaldo Vianna Filho e Paulo Pontes, com direção de Augusto Boal, “Opinião” foi o primeiro espetáculo a enfrentar a ditadura militar. No teatro do Shopping Center Copacabana, Bethânia surpreendeu público e crítica ao interpretar a canção “Carcará” (João do Vale e José Cândido), ao lado do próprio Vale e de Zé Kéti.

Aliás, a baiana já havia causado impacto ao ser testada. “Os espectadores que estavam lá fora e ouviram de longe a voz dela vieram correndo, sentaram em silêncio e ficaram escutando ela cantar. Por isso que eu digo que a Bethânia é a única atriz ou a única cantora que estreou no dia do teste”, diz Boal em um trecho do livro, que reproduz a entrevista do diretor para a emissora francesa TV5 Monde.

A força simbólica da ave do sertão ganhou dimensão na voz daquela baiana recém-saída da adolescência, transformando-a em ícone de liberdade e resistência.

Moura analisa a relação da performance de Maria Bethânia com a situação política do Brasil naquele momento de repressão e ditadura militar recém-instaurada.

Vigiada pela repressão

O pesquisador obteve documentos comprovando que Maria Bethânia era monitorada pelos órgãos de repressão do governo militar, devido aos espetáculos de natureza política encenados por ela.

Moura mostra que Bethânia participou de outros dois espetáculos em 1965, encenados em São Paulo: “Arena canta Bahia”, com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé e Jards Macalé; e “Tempo de guerra”, criação de Boal para ela, sob inspiração de Bertolt Brecht. “'Opinião' lhe deu fama, os dois seguintes foram um fracasso”, afirma.

O pesquisador fez o levantamento documental do período anterior a “Opinião”, consultando jornais e críticas. Conta que foi fundamental o apoio de Márcio Meirelles, diretor do Teatro Vila Velha de Salvador (BA). “Ele me deu acesso ao acervo de documentos que havia lá. Encontrei críticas, trechos do roteiro, várias coisas. Tudo isso me ajudou bastante, além da entrevista com ele”, relembra.

Também destaca as conversas, na Bahia, com o cantor Edy Star, o diretor Roberto Santana e o percussionista Djalma Corrêa. Maria Bethânia e Gilberto Gil também conversaram com Paulo Henrique de Moura. Outro subsídio veio do livro “Verdade tropical” (1977), de Caetano Veloso.

Cecília Boal, viúva de Augusto Boal, foi de grande valia, pois permitiu acesso a documentos sobre “Opinião”, “Arena canta Bahia” e “Tempo de guerra”. “Entrevistei Jards Macalé, porque quando Bethânia foi para o Rio de Janeiro ficou hospedada na casa dele”, diz.

Musa do protesto

Outra entrevistada foi a fotógrafa Thereza Eugênia, amiga de Gal e Bethânia, que assistiu a “Opinião” com Nara Leão e depois com Maria Bethânia.

“Tentei reconstruir um pouco a diferença entre as performances das duas. Porém, 'Carcará' só se tornou hino contra a ditadura pela performance de Bethânia. Digo isso porque primeiro teve a Nara, depois a Suzana de Moraes, filha de Vinicius, e posteriormente Maria Bethânia, que se torna musa do protesto a partir de ‘Carcará’.” 

“MARIA BETHÂNIA, PRIMEIROS ANOS: DA CENA CULTURAL BAIANA AO TEATRO MUSICAL BRASILEIRO”


• Livro de Paulo Henrique de Moura
• Editora Letra e Voz
• 206 páginas
• R$ 68

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