Flitabira começa nesta quarta (29/10) com homenagem ao escritor brasileiro
Ignácio de Loyola Brandão, Conceição Evaristo, Milton Hatoum e Ana Maria Machado são convidados especiais do festival itabirano, que vai até domingo (2/11)
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O ano de 2025 tem sido particularmente intenso para Milton Hatoum, Conceição Evaristo, Ignácio de Loyola Brandão e Ana Maria Machado.
Ao longo dos últimos 10 meses, Hatoum foi eleito para a Academia Brasileira de Letras (ABL); lançou “Dança dos enganos”, volume final da trilogia “O lugar mais sombrio”; figurou entre os nomes mais cotados ao Prêmio Nobel de Literatura.
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Conceição Evaristo, por sua vez, foi recebida como pop star na Bienal Mineira do Livro; será homenageada pela Império Serrano no carnaval de 2026 com o samba-enredo “Ponciá Evaristo, Flor do mulungu”; recebeu o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Ignácio de Loyola Brandão celebrou 60 anos de carreira literária; foi o quarto homenageado da série “Personalidades”, dos Correios (que já destacou Gilberto Gil, o nadador paralímpico Gabrielzinho e a ginasta Rebeca Andrade); protagoniza o documentário “Não sei viver sem palavras”, dirigido por seu filho André Brandão e exibido na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Por fim, Ana Maria Machado viu seu livro “De muito longe” ser traduzido para o malaio e foi eleita Personalidade Literária do Ano na 67ª edição do Prêmio Jabuti.
Os quatro são os homenageados do 5º Festival Literário Internacional de Itabira (Flitabira), que começa nesta quarta-feira (29/10) e segue até domingo, no Teatro da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade, com programação gratuita.
Honra e alegria
“É uma honra e uma alegria. Conheço e admiro os livros de Conceição, Ana Maria e Loyola. Já estivemos juntos em outros eventos”, comenta Milton Hatoum.
“Existem alguns pontos de confluência nas obras de nós quatro. Do ponto de vista da Conceição Evaristo, são os males e o horror da escravidão, presentes de forma muito bem construída”, acrescenta.
Já no caso de Loyola e Ana Maria, diz o autor de “Relato de um certo Oriente”, a convergência está no fato de ambos terem vivido grande parte da juventude e da vida adulta sob a ditadura militar (1964-1985). “Isso se refletiu, de algum modo, na obra de cada um”, afirma.
Loyola também se emociona com a homenagem. Logo ele, que tem ligação especial com a cidade. “Mantenho contato constante com o Marcos (Caldeira Mendonça, editor do jornal O Trem Itabirano). Mando uma crônica, ele publica e a gente vai se falando. Até me julgo um pouco itabirano. Mas, claro, com a diferença de status entre eu e o Carlos Drummond de Andrade”, brinca.
Brincadeiras à parte, ser um dos homenageados do festival, para ele, é emocionante, “principalmente pela importância da cidade. Poxa, uma cidade que abrigou Carlos Drummond de Andrade é uma puta cidade. Então, eu fico muito feliz, muito estimado”.
A abertura oficial do Flitabira está marcada para as 18h desta quarta. Em seguida, serão realizadas as mesas “Encruzilhada e a rosa do povo”, com os curadores Sérgio Abranches, Jeferson Tenório e Bianca Santana, e “Terra, água e o passado como encruzilhadas”, com Itamar Vieira Junior e Morgana Kretzmann.
Itamar está lançando “Coração sem medo”. Morgana divulga o livro infantojuvenil “Clube Verde e a Liga dos Solos”, escrito em parceria com o marido, Paulo Scott.
Até domingo (2/11), a programação segue com debates sobre futuridade, ancestralidade, oralidade, memória e testemunho. Entre os convidados estão a escritora e ilustradora Paloma Jorge Amado (filha do romancista baiano), Marcelino Freire, a jornalista Miriam Leitão e a escritora cubana Tereza Cárdenas. Também haverá programação infantil sob curadoria do escritor Leo Cunha.
Encruzilhada
Sob o mote “Literatura, encruzilhada e a rosa do povo”, o festival, criado pelo produtor cultural Afonso Borges, se propõe a discutir a ideia de cruzamento de saberes e futuros possíveis, em diálogo constante com “A rosa do povo”, livro em que Drummond reuniu 55 poemas que refletem um tempo de crise – os textos foram escritos entre 1943 e 1945, no contexto da Segunda Guerra Mundial e do Estado Novo.
Os versos do poeta itabirano exibem empatia, indignação e solidariedade diante da destruição (“Carta a Stalingrado” e “Notícias de Europa”). Ele se coloca ao lado dos anônimos que sofrem e se revolta com a apatia em relação à dor alheia. Dividido entre o dever de agir e a consciência da própria impotência, sente as dores do mundo.
A esperança é representada pela rosa. Drummond sugere que o renascimento é possível após o caos. A “rosa do povo” é uma rosa ferida, mas nascida do sofrimento e da destruição.
FLITABIRA
Até domingo (2/11), no Teatro da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade (Av. Carlos Drummond de Andrade, 666, Centro, Itabira). Entrada franca. Programação completa no site do festival.