'Frankenstein – Fragmentos da guerra' tem única sessão neste sábado (25/10)
Monólogo com Leonardo Fernandes traz criatura desamparada pelo seu criador, desprovida de afeto e sem lugar no mundo
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O nome da peça é “Frankenstein – Fragmentos da guerra”, mas poderia muito bem ser “Frankenstein – A arquitetura do abandono”. O subtítulo alternativo chegou a ser cogitado pelo ator Leonardo Fernandes, idealizador e protagonista do monólogo que terá sessão única neste sábado (25/10), às 20h, no Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas. No entanto, “Fragmentos da guerra” soou mais impactante e alinhado à proposta do espetáculo.
Adaptada do clássico de Mary Shelley (1797-1851) por Sérgio Roveri e dirigida por Eliatrice Gischewski, a peça apresenta um monstro que se afasta da imagem bárbara e assustadora tradicional, revelando sua dimensão mais humana.
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Naturalmente, trata-se da criatura concebida pelo doutor Victor Frankenstein, a partir de pedaços de corpos humanos, numa tentativa de desafiar a natureza e a morte. Mas o resultado é uma criatura que não encontra seu lugar no mundo e não se identifica com ele. Sofre com os olhares por ser diferente e, feito uma criança, sente necessidade constante de ser acolhida.
“Ele (o monstro) tem os próprios traumas. Sua criação foi a partir de corpos de pessoas que morreram na guerra. Além disso, foi abandonado pela figura paterna, quando o doutor nega a própria criação. É algo muito contemporâneo”, diz Leonardo Fernandes. “Por isso, acho que o espetáculo é bem abrangente. Ele fala do horror da guerra e denuncia as violências responsáveis por gerar os monstros no mundo”, acrescenta.
Na peça, Victor Frankenstein é fascinado pelos mistérios da vida e da ciência. Obcecado pela ideia de criar um ser vivo, mergulha em estudos de anatomia e filosofia natural, recolhe partes de cadáveres de vítimas da guerra e realiza o experimento que dá origem à criatura grotesca. Contudo, no instante em que essa criatura desperta – justamente quando o hospital em que é feita é bombardeado –, Victor se horroriza com o resultado. Foge, rejeitando sua criação e selando o destino do monstro.
Ódio e desamparo
Sozinha, a criatura vagueia pelo mundo à procura do criador. Aprende a falar, ler e sentir. Quando finalmente descobre onde o médico vive e tenta se aproximar, é recebida com medo e violência. Devastado, passa a odiar o criador que lhe deu vida sem lhe dar afeto. Torna-se violento e apático, transformando-se, verdadeiramente, em um monstro.
“Ele é desamparado, igual a todos nós”, afirma a diretora Eliatrice Gischewski. “Ao retratarmos essa figura, meus questionamentos sempre foram: o que é esse monstro? E o que sou eu? Afinal, o monstro está dentro de todos nós também”, completa ela, que estreia na direção com “Frankenstein – Fragmentos da guerra”.
A peça teve sua primeira montagem em junho do ano passado, como parte do projeto “Três peças que atravessam o mar”, no qual Fernandes apresentou três espetáculos inéditos durante quase um mês de apresentações no CCBB BH. Desde então, o monólogo não voltou a ser encenado.
Trilha ao vivo
No palco, o ator divide cena apenas com o músico Airon Gischewski, responsável pela trilha sonora executada ao vivo. Irreconhecível pela caracterização, Fernandes dá vida a uma figura fragmentada. Ele manca, arrasta uma perna, um dos braços parece não responder aos estímulos e até o ato de falar se torna um esforço físico e emocional.
“Isso tudo vem de uma visão da Eliatrice, que sempre trabalhou com o corpo”, comenta ele, lembrando a carreira da diretora como bailarina.
O corpo, aliás, foi o ponto de partida da encenação. “Eu queria entender como esse corpo remendado se entende no mundo e como ele se movimenta. Fui pensando muito nesse fragmento: o peso que cada pedaço daquele corpo tem, como essas partes se movem, se todas funcionam”, explica Eliatrice.
“Frankenstein – Fragmentos da guerra” expõe as cicatrizes visíveis e invisíveis que a humanidade carrega. O monstro não é feito apenas de restos humanos, mas de perdas, culpas e silêncios. E o verdadeiro horror não está naquilo que é diferente, mas naquilo que deixamos de acolher.
FRANKENSTEIN – FRAGMENTOS DA GUERRA
Texto: Sérgio Roveri. Direção: Eliatrice Gischewski. Com Leonardo Fernandes. Neste sábado (25/10), às 20h, no Teatro do Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes). Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia), na bilheteria do teatro ou pelo Sympla. Informações: (31) 3516-1360.
OUTRAS ATRAÇÕES
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Inspirada em "A tempestade", de Shakespeare, a peça infantil acompanha Marina, jovem prestes a se casar, que acorda em uma ilha deserta ao lado de seres encantados. O espetáculo do Mei a Mei Grupo de Teatro será montado no Galpão Cine Horto (Rua Pitangui, 1.613, Horto) nesta sexta (24/10), às 20h; sábado, às 19h; e domingo, às 16h e 19h. Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia), na bilheteria ou pelo Sympla.
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Comédia discute o acolhimento às pessoas LGBTQIA+ em vulnerabilidade a partir do cotidiano de família de drag queens. Neste sábado (25/10), às 20h, no Teatro de Câmara do Cine Theatro Brasil (Av. Amazonas, 315 – Centro). Ingressos: R$ 54 (inteira) e R$ 27 (meia), na bilheteria ou na plataforma Eventim. Informações: (31) 3201-5211.
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