Saiba quem é a diretora que representa a Argentina no Oscar 2026
Dolores Fonzi escreveu, dirigiu e atua no drama sobre aborto ‘Belén’, escolhido pelo país vizinho para tentar uma vaga na disputa de Melhor Filme Internacional
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Enquanto “O agente secreto”, de Kleber Mendonça Filho, será o representante do Brasil no Oscar 2026, com uma história que relaciona memória e a ditadura militar, a Argentina aposta em “Belén” para obter uma vaga na disputa de Melhor Filme Internacional.
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O país vizinho já ganhou duas estatuetas na categoria – em 1986, com “A história oficial”, de Luis Puenzo, e em 2010, com “O segredo dos seus olhos”, de Juan José Campanella, ambos com tramas relacionadas à mais recente ditadura militar argentina.
Dirigido e roteirizado pela atriz Dolores Fonzi, “Belén” trata do tema do aborto e retrata a história verídica de Julieta (Camila Plaate), uma jovem hospitalizada às pressas com dores abdominais, causadas pela perda espontânea de uma gravidez que ela ignorava.
Quando acorda no hospital, Julieta está algemada e sendo acusada de induzir o aborto, considerado ilegal na época. Após ficar detida por dois anos, Julieta é condenada a oito anos de prisão por homicídio qualificado e conta com a ajuda da advogada Soledad Deza (Dolores Fonzi) para ter de volta a liberdade.
O filme tem produção da Amazon MGM Studios e não tem estreia prevista no circuito comercial brasileiro. Porém, o lançamento no streaming está planejado pelo Prime Video.
Assinado por Dolores Fonzi e Laura Paredes, o roteiro é inspirado no livro “Somos Belén” (2019), da jornalista Ana Correa. Esta é a segunda vez da atriz na direção de longas. Sua estreia foi em 2023, com “Blondi”, que retrata a relação da personagem-título, interpretada pela diretora, com seu filho Mirko (Toto Rovito). A mãe foge às convenções sociais, e ambos precisam aprender a lidar com a relação disfuncional.
Os trabalhos recentes de Dolores Fonzi, nos quais atua, dirige e escreve, são o retrato de uma carreira versátil desde o princípio. Nascida em 1978, em Buenos Aires, ela começou a trabalhar como modelo. Na atuação, seu primeiro papel foi como a personagem Clara Vázquez, na telenovela “Verano del ‘98”, em que atuou ao lado do irmão Tomás Fonzi.
Ela estreou no cinema em 2000, com a personagem Vivi de “Plata quemada”, de Marcelo Piñeyro. Naquela década, também participou de longas como “Vidas privadas” (2001), de Fito Páez, e “A aura” (2005), de Fabián Bielinsky, protagonizado por Ricardo Darín.
Dolores é a protagonista do primeiro filme do cineasta e roteirista Luis Ortega, “Caja negra” (2002). Luis Ortega é o diretor de “Matem o jóquei!”, que representou a Argentina no Oscar 2025, mas não foi indicado.
Em 2008, Dolores Fonzi e o ator e diretor mexicano Gael García Bernal, conhecido por seus papéis em “E sua mãe também” (2001) e “Amores brutos” (2000), iniciaram um relacionamento.
Mudança para a Espanha
Eles se conheceram durante as gravações de “Vida privada” e tiveram dois filhos: Lázaro, nascido em 2009, e Libertad, em 2011. O casal se mudou para Madri (Espanha), em parte para escapar da perseguição da imprensa de celebridades de que Dolores passou a ser alvo na capital argentina.
Durante os anos na Espanha, Dolores Fonzi desacelerou a carreira de atriz, focando na maternidade, e participou apenas do filme “El campo” (2011), de Hernán Belón. Após o término do relacionamento com Gael, em 2014, Fonzi voltou definitivamente para Buenos Aires e fez também seu retorno à telona.
Há 10 anos, estrelou “Paulina” (2015), filme de Santiago Mitre que venceu o Grande Prêmio da Semana da Crítica, mostra paralela do Festival de Cannes. O filme, uma coprodução entre Argentina, Brasil e França, que tem Walter Salles como produtor, conta a história de uma advogada que decide ser professora em um bairro periférico de Posadas, na Argentina. Um dia, ela é estuprada por uma gangue composta por alguns de seus alunos e, apesar do abuso, decide continuar na escola, sem prestar queixas.
A atriz e o diretor Santiago Mitre, que dirigiu “Argentina, 1985” – último filme argentino indicado ao Oscar, em 2023 – começaram a namorar em 2015 e estão juntos até hoje. A dupla rendeu mais uma parceria nos cinemas, em 2017, com “A cordilheira”, filme coestrelado por Ricardo Darín. Dolores Fonzi e Darín também trabalharam juntos em “Trumán” (2015), de Cesc Gay, e “Neve negra” (2017), de Martín Hodara, marcando quatro colaborações dos atores.
Quando começou a assumir a direção de filmes, Dolores se dedicou a abordar pautas feministas. Ela é uma das líderes do movimento argentino semelhante ao #MeToo, que reivindica ambiente de trabalho seguro para artistas mulheres e a responsabilização de homens que cometeram abusos contra atrizes e outras profissionais do cinema.
Em 2020, Dolores participou ativamente das manifestações em prol da legalização do aborto na Argentina, medida aprovada em dezembro daquele ano, e esteve presente nos eventos de comemoração em Buenos Aires.
“Blondi”, em que, assim como “Belén”, Dolores dirige, atua e assina o roteiro ao lado de Laura Paredes, concorreu na mostra Horizontes Latinos do Festival de San Sebastián em 2023. Neste ano, “Belén” concorreu ao Concha de Ouro no mesmo festival espanhol, encerrado no último dia 27, que deu o prêmio a “Los domingos”, da espanhola Alauda Ruiz de Azúa. A atriz Camila Plaate foi premiada por sua atuação.
Inscrições ao Oscar
O prazo da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood para a inscrição de candidaturas a Melhor Filme Internacional terminou nesta quarta-feira (1º/10). O anúncio dos concorrentes em todas as categorias está previsto para o dia 22 de janeiro. A cerimônia de premiação ocorrerá em 15 de março.
*Estagiária sob supervisão da editora Silvana Arantes