Lô Borges lança 'Céu de giz', álbum com participação de Zeca Baleiro
Com 10 músicas feitas pelo mineiro e letras do maranhense, disco celebra parceria com canções que falam de temas como crise climática e poder das big techs
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São Paulo, 6 de fevereiro de 1998. Zeca Baleiro, então com 31 anos, estava por cima da carne seca. Por seu álbum de estreia, “Por onde andará Stephen Fry?” (1997), o jornal britânico The Guardian havia cravado “revolucionário” em matéria de capa. Lô Borges, 46 na época, tinha saído de um marasmo criativo de quase uma década.“Meu filme” (1996) inaugurou parcerias com Caetano Veloso e Chico Amaral, e trouxe participações de Milton Nascimento, Marcos Suzano e Uakti.
Pois, naquela noite, Lô e Zeca fizeram um show no Memorial da América Latina. Cada qual com seu repertório, até se encontrarem no palco, interpretando, juntos, a emblemática “Um girassol da cor do seu cabelo” (Lô e Márcio Borges). Canção, por sinal, que Zeca “não abre mão de cantar” quando ele voltar a subir ao palco com Lô.
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Com lançamento nesta sexta-feira (22/8), “Céu de giz – Lô Borges convida Zeca Baleiro” apresenta 10 canções, melodias de Lô com letras de Zeca. É mais um disco do compositor mais prolífico (ao menos na maturidade) da geração do Clube da Esquina. Desde 2019, sem nenhum hiato, Lô vem lançando um álbum de inéditas por ano, sempre com letras de um único parceiro.
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Dessa vez foi Zeca, que Lô não via há mais de 20 anos. “Tinha seis meses que eu não compunha e fiz a primeira música (‘Céu de giz’). Logo me veio o Zeca na cabeça”, conta Lô. Tem gente que leva um mês compondo uma música. Lô, não. Fica meses com o violão de nylon Yamaha guardado. Mas quando pega para compor, as melodias vão surgindo. No dia de “Céu de giz” vieram outras duas.
“Eu vou muito na Serra do Cipó e o Zeca Baleiro é o compositor mais executado lá, um lugar só de música ao vivo”, conta Lô. Pois era essa a imagem que ele tinha na cabeça quando decidiu convidá-lo. Mandou mensagem em um domingo.
“Pô, Lô, é igual ao Paul McCartney me ligar. Claro que eu topo”, respondeu Zeca ao chamado do compositor mineiro. Lô foi mandando as melodias aos poucos, com o violão e a voz guia. Em cerca de um mês, o material ficou pronto. “Ele estava muito interessado em falar sobre temas atuais, com alguma poesia, mas tocar em temas como a crise climática, o poder das big techs, essa vigília tecnológica sobre o mundo. Pediu alguns temas, mas me deu toda a liberdade de criar”, completa o maranhense.
“As letras são muito poéticas, mas dão porrada, têm contundência, falam do mundo real”, comenta Lô. Ele está falando de “Tá tudo estranho demais”, dos versos “Tá tudo estranho demais/ Luto a guerra sem paz” conduzidos pela guitarra segura de Henrique Matheus (que divide, mais uma vez, a produção do álbum com Lô e Thiago Corrêa).
Lô se empolga também com “Zumbis”. “’Zumbis vagando nas ruas cegos/ Desaprendendo a viver’: ele está falando exatamente o que está acontecendo hoje”.
“Donos do mundo”, cuja referência são big techs – “Clube seleto/ Loucos espertos/Reis sem reinado ou nação” –, é uma das cinco canções que Zeca cantou com Lô. “Pra mim, é uma honra, né? Lô é um ídolo, é uma referência e compor com ele é um sonho juvenil realizado”, diz.
“Santa Tereza”
A canção que melhor sintetiza a parceria é “Santa Tereza”, com letra de Zeca, na primeira pessoa, falando da adolescência de Lô e também de sua própria juventude, pois ele viveu duas temporadas em Belo Horizonte, em 1986 e outra em 1992. “Ando por Santa Tereza/Lembro de um tempo tão bom/Amigos, papos na mesa/Todos fazendo um som/Cruzo com a Paraisópolis/Gente, canções, sonhos que eu vi/Só o meu coração sabe”, cantam os dois.
“Ele fez uma crônica do que vivi, me senti homenageado”, diz Lô, se lembrando de que Zeca viveu não longe dali, na Floresta. Este completa: “No primeiro momento, éramos eu, Nosly, Zeca Magrão, um percussionista que permaneceu radicado aí, e Jorge Ferreira, um produtor que já partiu. A gente ficou um tempão numa rua chamada Davi Campista. Às vezes, a gente ia a pé para Santa Tereza, éramos duros também, né?”
“Céu de giz” foi gravado e mixado por Henrique Matheus no estúdio Frangonobafo. Além do guitarrista e produtor, gravaram Thiago Corrêa (baixo, piano e percussão) e Robinson Matos (baixo), a mesma formação que acompanha Lô nos últimos anos. A voz de Zeca foi gravada por ele mesmo em seu próprio estúdio, Al Gazarra, em São Paulo.
“Ele cantou tão bonito. E o Zeca tem uma faceta que eu nunca tinha experimentado com outros parceiros. Ele me mandou as letras, todas no WhatsApp, em cima da minha voz guia, sem letra. Ele poderia cantar as dez”, conta Lô.
No processo do disco, os dois se encontraram apenas duas vezes, uma para fazer a audição, outra para fazer as fotos, no Parque Municipal de BH. “É um lugar que eu frequentei a minha infância toda, quando ia para o primário no Instituto de Educação”, conta Lô.
Com o disco lançado, ele vai para a estrada. Os dois deverão fazer algumas apresentações juntos, quem sabe alguma data se confirme até o fim de 2025. Além do “Girassol”, Zeca também faz questão de cantar com Lô “Clube da esquina nº2”.
"Márcio 80 Palloza"
Com Lô é sempre a mesma coisa. Falar do álbum de agora e também do que estar por vir. Porque depois de “Céu de giz” ele já sabe qual será o próximo: “A estrada”, já gravado, com letras de Márcio Borges.
“A gente achou melhor lançá-lo nos 80 anos dele (em 31 de janeiro de 2026). Vai ser o ‘Márcio 80 Palooza’”, brinca Lô.
“Ele é meu parceiro mais importante. Dois terços da minha obra são com ele, foi o Márcio quem me incentivou quando eu era criança. Então, quero lançar nova luz na nossa parceria”, diz, a respeito do irmão.
“CÉU DE GIZ – LÔ BORGES CONVIDA ZECA BALEIRO”
• Deck, 10 faixas.
• O álbum será lançado nesta sexta-feira (22/8), nas plataformas digitais