ARTES CÊNICAS

'Brinco de ouro' e Disputa Nervosa celebram o funk em BH

O espetáculo de dança e o evento competitivo, neste sábado (2/8) e domingo, respectivamente, colocam em destaque "o orgulho e a valentia" da arte periférica

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Sete bailarinos vestem o estilo da quebrada. Usam bermudas, cropped, óculos Juliet, chapéu bucket e cordões no pescoço. Tudo em tons pastel. Um deles está até com uma balaclava rendada, em alusão à associação equivocada – mas recorrente – de que práticas criminosas estariam restritas às favelas.

Com movimentos vigorosos e convergentes, os bailarinos traçam um paralelo entre a história de exploração dos negros no Brasil e as dificuldades enfrentadas hoje pelos moradores das periferias – em sua maioria, negros –, fazendo da performance “Brinco de ouro”, em cartaz no Grande Teatro do Sesc Palladium neste sábado (2/8), uma das criações mais críticas e viscerais da Cia Favelinha, idealizada pelo Centro Cultural Lá da Favelinha.

Com direção de Léo Garcia, “Brinco de ouro” é uma construção coletiva baseada em movimentos de capoeira, samba, vogue, rebolado e nos populares passinhos de funk. Concebida em 2023, a coreografia já passou por palcos do Rio de Janeiro, Fortaleza, Salvador, Manaus, São Paulo, Porto Alegre e Recife. Em Belo Horizonte, além de integrar a programação de diversos festivais de dança, fez história ao se tornar, em 2023, o primeiro espetáculo de funk montado no Palácio das Artes.


Identificação

“A dramaturgia do espetáculo não acontece de forma linear”, adianta o diretor. “A gente dosa cenas mais densas com outras mais leves, tentando tirar o público de um estado contemplativo para levá-lo a se sentir dentro da cena, a partir do momento em que se identifica com elementos cênicos, como os brincos e tal”, acrescenta.

Os brincos aos quais o diretor se refere não são apenas adornos usados pelos bailarinos. São também o próprio nome da obra, ancorada no contexto histórico do Brasil. Durante o período colonial, negros que se enfeitavam com brincos de ouro – mesmo os alforriados – eram malvistos. Em 1711, o jesuíta italiano Giovanni Antonio Andreoni escreveu uma carta indignada com a quantidade de joias usadas por algumas ex-cativas. “Muito mais que as senhoras”, comparou.

“Voltando ao contexto dos escravizados, estamos dizendo que entendemos o espetáculo como o sonho realizado dos nossos ancestrais. Os corpos dos bailarinos e a performance em si são o brinco de ouro. São esse motivo de orgulho, esse lugar de bravura, de revolução. A partir da colaboração do indivíduo dentro do coletivo, conseguimos potencializar o orgulho e a valentia”, destaca Léo.

Disputa Nervosa

Orgulho e valentia, aliás, são valores que o Centro Cultural Lá da Favelinha quer ver cada vez mais associados à cultura da periferia. Por isso, além da apresentação de “Brinco de ouro”, será realizada, neste domingo (3/8), no Viaduto Santa Tereza, a final da Disputa Nervosa Nacional.

Criado em 2015 por Kdu dos Anjos – também idealizador do Centro Cultural Lá da Favelinha –, o projeto nasceu como alternativa para promover a dança como forma de resistência cultural e mobilização em torno do funk. Ao longo de 10 anos, a disputa ganhou formato ampliado, com edições em diversas capitais do país.

Mais do que uma competição, trata-se de uma celebração cultural. “Tanto é que, no primeiro ano da pandemia, fizemos uma edição on-line. Era uma disputa municipal, e mais de 300 pessoas participaram. Foi muito divertido. Até o arquiteto Fernando Maculan [responsável pelo projeto arquitetônico da sede do Lá da Favelinha] participou. A gente deu a ele o prêmio de ‘o melhor dos piores’ ou ‘o pior dos melhores’”, brinca Kdu. “Foi uma disputa on-line que deu protagonismo aos jovens e possibilitou geração de renda”, afirma.

Inspirada nos duelos de MCs, a Disputa Nervosa traz para a final competidores que venceram seletivas no Rio de Janeiro, Fortaleza, Salvador, Manaus, São Paulo, Porto Alegre, Recife e Belo Horizonte. O vencedor receberá o prêmio de R$ 15 mil.

Os oito finalistas vão duelar em rodadas de três apresentações alternadas de 40 segundos. O vencedor de cada fase avança até a grande final, que definirá quem levará o título de Melhor Dançarino de Funk do Brasil.

“O mais legal de tudo é ver que, nas cidades por onde passamos, os jovens começam a se organizar. Eles passam a ter mais esperança de se profissionalizar na arte do funk e mais vontade de seguir nessa trajetória. Então, é muito importante fazer essa festa agora, nesse momento em que tentam criminalizar a nossa arte, colocando a culpa de certas violências urbanas na nossa cultura”, afirma o idealizador do projeto.

“Vai ser muito bom mostrar para a cidade e para o Brasil o quanto o funk organizado é potente”, diz ele.

“BRINCO DE OURO”
Coreografia: Criação coletiva. Direção: Léo Garcia. Elenco: DJ Fidelis, Dudu Sorriso, Mrs. Jhones, Sammy Oliveira, Tiphany Gomes e Vitinho do Passinho. Apresentação única neste sábado (2/8), às 19h, no Grande Teatro do Sesc Palladium (Rio de Janeiro, 1.046, Centro). Ingressos à venda por R$ 10 e R$ 5 (meia), na bilheteria e no Sympla. Mais informações: (31) 3270-8100.


DISPUTA NERVOSA
Neste domingo (3/8), às 15h, embaixo do Viaduto Santa Tereza. Entrada franca.

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