Acompanhe o desfile da Portela, que tem Milton Nascimento como enredo
Agremiação carioca desfila na madrugada de quarta-feira (5/3) com o enredo 'Cantar será buscar o caminho que vai dar no Sol – Uma homenagem a Milton Nascimento'
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Siga noO Grêmio Recreativo de Escola de Samba Portela – ou simplesmente Portela –, entra na Marquês de Sapucaí na madrugada desta quarta-feira (5/3) para fechar os três dias de desfile das escolas do Grupo Especial do Rio de Janeiro. O desfile da Azul e Branco de Oswaldo Cruz e Madureira tem um gostinho especial para os mineiros, já que o enredo deste ano é em homenagem a Milton Nascimento, "o mais mineiro de todos os cariocas", como ele faz questão de ressaltar.
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Com 27 alas, cinco carros alegóricos, dois tripés e 2.500 integrantes, a escola promete uma verdadeira procissão, que, simbolicamente, sai do Rio de Janeiro rumo a Minas Gerais – onde o homenageado, que é carioca, foi criado e se tornou artista mundialmente reconhecido – para coroar o “Sol” da MPB. A partir de agora você pode acompanhar aqui o desfile da Portela, a única escola de samba que participou de todos os desfiles do Rio de Janeiro.
Com a bênção de Xangô, a Portela entrou na passarela já com o público ganho. Isso porque, na hora do aquecimento, bateria e o intérprete Gilsinho tocaram "Maria, Maria", parceria de Bituca com Fernando Brant. A comissão de frente ("Vou partir em procissão") é o início da procissão, que, simbolicamente, parte de Madureira (RJ) em direção à Três Pontas, em Minas Gerais. Em roupas douradas, os integrantes da comissão de frente remetem ao sol – termo com o qual a Portela se refere à Bituca – e também ao brilho da música feita por Milton. Em 102 anos de história, é a primeira vez que a Portela homenageia alguma personalidade ainda viva.
Desde o momento em que a escola anunciou seu enredo, os carnavalescos André Rodrigues e Antônio Gonzaga sempre fizeram questão de ressaltar que o foco são as criações do homenageado, não sua biografia. “A gente não está preocupado em contar a história dele, mas em transmitir o que ele causa no coração das pessoas”, disse Gonzaga em entrevista recente ao EM. “O que importa é a enormidade do artista, a forma como ele atravessa a vida das pessoas. Nós vamos ver como o Milton faz parte do cotidiano, dos momentos importantes de muitos brasileiros e do nosso país em geral”, acrescentou Rodrigues.
As alas que foram compondo a procissão da Portela se referiam às canções eternizadas na voz de Milton. "Solto a voz nas estradas" (refrão de "Travessia"), "Vou me encontrar longe do meu lugar" (verso de "Caçador de mim"), "Vendedor de sonhos" (da canção homônima lançada no disco "Yauaretê"), "De tudo se faz canção" (de "Clube da esquina nº2") e "Se você quiser, eu danço com você, meu nome é nuvem" (de "Nuvem cigana") foram alguns dos nomes das alas. É como se o repertório de Bituca, que sintetiza a mineiridade, se incorporasse à procissão de maneira natural.
A mineiridade, aliás, também se fez presente pela reprodução de tradições mineiras, como elementos do reisado, da folia de reis e da crença católica – por meio dos oratórios nos primeiros carros.
À medida em que o desfile avançava, o cortejo foi ganhando contornos mais lúdicos, com fantasias e alegorias mais coloridas remetendo aos sonhos – "Vendedor de sonhos" foi nome de uma ala, vale lembrar – e à alma de menino que Bituca sempre cultivou. Outra sacada dos carnavalescos foi criar uma linha temporal de um único dia ao longo do desfile. Pelas cores escolhidas e dispostas ao longo do cortejo, é como se a procissão portelense tivesse começado pela manhã, seguido durante a tarde, até chegar ao destino final à noite.
Se o samba-enredo pecou na criatividade da letra e da linha melódica, a bateria compensou, lançando mão de breques complexos e arriscando momentos de silêncio para deixar o público cantar a capella, e voltando no tempo correto. Outro ponto forte foi o show de drones formando um enorme sol acima do carro onde Milton desfilou.
Também participaram do desfile artistas próximos de Bituca. Entre eles, Maria Gadú, Djonga, Marcos Valle, Simone e Bebel Gilberto. A estranheza, no entanto, foi a ausência dos músicos do Clube da Esquina.
A Portela encerrou o desfile aos 77 minutos, dentro do prazo de 80 minutos para não ser punida.