
Diretor afirma que a época das "mentes geniais" na TV passou
Em BH para ministrar workshop para atores neste fim de semana, Wolf Maya diz que atual contexto da televisão é o do pensamento determinado pela economia
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A minissérie “Hilda Furacão” (1998) foi um marco, por mais de uma razão. A adaptação do romance de Roberto Drummond (1933-2002) foi sucesso de público e crítica, não só em sua época, como também quando chegou à TV paga e, mais recentemente, ao streaming.
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Ainda marcou a estreia de Ana Paula Arósio na Globo e os primeiros papéis de destaque de Thiago Lacerda e Matheus Nachtergaele na televisão. Foi um laboratório também para seu diretor, Wolf Maya, quando rodou a produção em Tiradentes.
“Tive uma pretensão maluca: treinei a cidade inteira, que foi meu elenco de apoio. Levei poucos atores profissionais, só para os papéis grandes. Os fiéis da igreja, por exemplo, eram originais (moradores da cidade histórica). Não tinha nem figurino da Globo, usavam o figurino local, mesmo a história se passando no final dos anos 1960”, conta Maya. Foi nesta ocasião que ele começou a treinar atores amadores ou não atores para o vídeo.
Desde 2016 fora da Globo, ele, aos 71 anos, se vê como um “grande treinador”. Criou, em 2001, a Escola de Atores Wolf Maya, hoje com unidades no Rio de Janeiro (400 alunos atualmente) e em São Paulo (800). Até este domingo (9/2), ele ministra workshop de atuação no Centro Cultural Unimed-BH Minas. As vagas estão esgotadas.
Belo Horizonte é apenas uma das capitais que Maya visita neste ano. Até o fim de 2025, ele viaja por diferentes regiões do país, com equipe e estrutura para o workshop, o que inclui até mesmo uma parte de sua unidade móvel, para filmar externas. “Não é curso, palestra, ou trabalho teórico. É tudo absolutamente prático, para quem já tem experiência. Vamos tratar da atuação ampliada para lente e câmera.”
Mentor
“Sempre quis criar a Central Globo de Formação, mas não houve tempo ou espaço para fazer isto. Mas foi na Globo que criei as oficinas de ator. Paulo José foi meu mentor. Desenvolvemos as oficinas, que depois a Globo eliminou. Fiquei muito triste, mas entendi que, no processo de renovação comercial da emissora, não tinha mais espaço para um centro de formação. Foi daí que montei o meu”, diz Maya.
As duas escolas contam com curso profissionalizante de atores (duração de três anos), cursos livres (dublagem, atuação para crianças, gestão de carreira, entre outros) e ainda outros voltados para a montagem de musicais. Isto porque ele tem também dois teatros nas cidades onde sua escola funciona (Teatro Nair Bello, em São Paulo, e Teatro Nathália Timberg, no Rio).
Maya diz que investiu alto para a iniciativa. “O diferencial é que, além dos próprios teatros, a escola tem dois estúdios profissionais com todos os recursos.” Os números apresentados são também altos: em duas décadas, a escola já formou 25 mil alunos. Entre os ex-alunos apresentados como referência da formação estão Marjorie Estiano, Paolla Oliveira, Malvino Salvador, Maria Casadevall e Nanda Costa.
Revolução
Mesmo fora da emissora, onde dirigiu três dezenas de produções a partir do início da década de 1980, Maya diz manter boas relações. “Produtores de elenco vão até a escola, e aluno que se forma tem uma amostragem dentro da Globo. Mas a relação de produção não me interessa mais, até porque a grande revolução não é mais da TV aberta.”
“I Love Paraisópolis” (2015) foi seu último trabalho para a Globo. Com o fim do vínculo, passou uma temporada em Nova York e, em 2019, anunciou um período em Lisboa, onde iria dirigir uma novela para a emissora portuguesa TVI. A história não foi longe. Em uma entrevista, Maya teria dito que tudo em Portugal era “muito atrasado”. A emissora não gostou e o demitiu. Ele foi a público dizendo que ainda não havia assinado contrato, “portanto, não foi demitido”.
Tais questões foram deixadas para trás. Maya anuncia para o fim do ano um projeto para o streaming, sem revelar qual plataforma. “Hoje está muito mais fácil produzir, qualquer coisa que seja. A grande revolução da nossa época é a da comunicação, que deu liberdade para o jovem, para uma cultura particular, que pode ser da Índia ou do Brasil. Não é que a TV aberta, aquela que catequizou o Brasil, tenha perdido a importância e entrado em decadência. Ela foi ampliada, e isto não se reverte mais.”
Para ele, os tempos áureos da TV são coisa do passado. “Fiquei quatro meses em Tiradentes por conta de ‘Hilda Furacão’, um em Nova York para ‘I love Paraisópolis’. A TV aberta não tem mais dinheiro, interesse e talvez nem mesmo mais comando (para investir em teledramaturgia). A economia passou a gerar o pensamento. Antes, eram mentes geniais, como a do Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho), de cuja gestão tive a sorte de participar”, afirma.