HAJA ADRENALINA!

"Lobisomem", em cartaz em BH, quer honrar a tradição do cinema de terror

No filme de Leigh Whannell, pai de família vai se tornando monstro diante do pavor da mulher e da filha pequena. Ideia surgiu em meio ao pânico da pandemia

Publicidade

Um homem poderoso oferece carne humana para seus visitantes, sem saber que Zeus, o mais temido dos deuses, está entre eles. Punido pela perversão, é transformado em um ser digno de sua natureza. Embora não se saiba a origem exata, muitos acreditam que o rei Licaão foi o primeiro lobisomem, em plena Grécia antiga.


Elo perdido entre o humano e os instintos animalescos de um lobo, a criatura volta aos cinemas após ganhar o mundo como uma das figuras mais temidas tanto do folclore europeu como das superstições do Brasil interiorano.

Adotado pela Universal Pictures em 1941, época em que monstros refletiam os traumas de duas guerras mundiais (pelos e garras de Lon Chaney Jr. lembravam a desumanização de judeus perante o nazismo), o lobisomem manteve seus conflitos internos em diversas interpretações. Hoje, nas mãos de Leigh Whannell, surge como representante dos medos deixados pela pandemia.

“O monstro de uma pessoa pode ser o herói de outra hoje em dia. O que preserva os monstros clássicos é que parece não haver ambiguidade. Você os identifica facilmente como forças do mal. Mas eles são complexos. Para mim, o lobisomem escondia uma história de tragédia”, afirma o diretor do novo filme “Lobisomem”.

Ele acredita que figuras como Drácula, que não por acaso recebeu nova roupagem este ano em “Nosferatu”, e a besta em questão podem funcionar em qualquer período ou contexto.

É também o retorno de Whannell aos monstros da Universal. Em “O homem invisível” (2020), o cineasta transformou as ambições de um cientista maquiavélico em fábula assustadora sobre relacionamentos abusivos.

O longa acompanha o escritor Blake (Christopher Abbott), homem perseguido pela infância no interior americano que tenta manter a relação com a esposa, a jornalista Charlotte (Julia Garner).

Quando a morte do pai o obriga a visitar o lugar onde cresceu, Blake encontra na viagem uma forma de fortalecer a conexão do casal e com a filha Ginger (Matilda Firth). O trio logo se vê preso em uma casa rodeada por uma terrível ameaça, dividida entre o animal e o humano.

Escrito a quatro mãos pelo cineasta e a mulher, Corbett Tuck, o roteiro ganhou seu primeiro rascunho durante a quarentena da COVID-19. A iminência dos problemas de saúde, as cobranças nos cuidados com os filhos e o pavor de abrir a porta alimentaram o projeto.

Ainda que o mal pareça estar lá fora, Blake passa a apresentar sintomas que afetam suas impressões de Charlotte e Ginger e a comunicação com elas. Segundo Whannell, Abbott se inspirou no caso de um familiar, vítima da perda da memória para o Alzheimer.

“Quando alguém enfrenta uma doença degenerativa, o corpo começa a falhar. Nós preservamos uma relação arcaica com ele, um tipo de luta constante para preservá-lo. Lutamos contra a própria pressão sanguínea e contra a saúde dos nossos corações. O corpo pode se tornar o nosso pior inimigo”, afirma o cineasta.

Cruel "metamorfose"

As mudanças físicas determinam nova natureza e o protagonista tenta controlar seus instintos a qualquer custo. Olhares horrorizados de mãe e filha denunciam alterações que o próprio infectado é incapaz de perceber. Palavras se tornam incompreensíveis ao monstro, enquanto seus ouvidos amplificam o escalar da aranha pela parede.

“Blake está desaparecendo, deixando de ser ele mesmo. Durante as preparações, eu tentava incorporar as sete etapas do luto em apenas uma noite. Se Blake está lidando com as etapas físicas desse processo, Charlotte precisa lidar com as etapas psicológicas”, diz Julia Garner.

A atriz pensa que a maternidade pode ser vista como um tipo de contágio, e o desespero dos pais pode ser facilmente transmitido para qualquer criança.

Truques

“Lobisomem” propõe que o espectador se divida entre a percepção do contaminado e a de seus entes próximos. Whannel resgata alguns truques que sempre o encantaram no cinema de terror. Roteirista de diversos filmes da saga “Jogos mortais”, ele volta ao grotesco com dentes e unhas que caem aos montes, braços dilacerados e litros de sangue falso, enquanto os “jumpscares” não minimizam em nada os dramas humanos.

Defensor apaixonado do terror, o cineasta acredita que o gênero ainda enfrenta preconceito. “Muitos diretores evitam o próprio termo. 'O meu filme não é de terror, ele é um filme sobre uma família, é um suspense psicológico'. São capazes de fazer de tudo para evitar essa palavrinha suja. Não acho que precisamos abrir mão do entretenimento para produzir bons filmes de terror”, defende o cineasta. (Davi Galantier Krasilchik – Folhapress

"LOBISOMEM"


EUA, 2025, 103min. De Leigh Whannell. Com Christopher Abbott, Julia Garner e Matilda Firth. Em cartaz nas salas dos shoppings BH, Boulevard, Cidade, Contagem, Del Rey, Diamond, Itaú, Minas, Monte Carmo, Norte, Partage Betim, Pátio Savassi, Ponteio e Via.



Tópicos relacionados:

belo-horizonte cinema lobisomem terror

Acesse sua conta

Se você já possui cadastro no Estado de Minas, informe e-mail/matrícula e senha. Se ainda não tem,

Informe seus dados para criar uma conta:

Digite seu e-mail da conta para enviarmos os passos para a recuperação de senha:

Faça a sua assinatura

Estado de Minas

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Aproveite o melhor do Estado de Minas: conteúdos exclusivos, colunistas renomados e muitos benefícios para você

Assine agora
overflay