Literatura

Armando Freitas Filho dedicou vida e alma às palavras

Poeta carioca, que morreu aos 84 anos, escreveu texto inédito publicado pelo caderno Pensar, do Estado de Minas, do qual também foi colaborador esporádico

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Pablo Pires Fernandes
Especial para o Estado de Minas


Tive a coragem de escrever a Armando Freitas Filho por ocasião da morte de Antonio Candido, sabendo da admiração que o crítico tinha pelo poeta da Urca. Era maio de 2017 e eu era editor do caderno Pensar, neste Estado de Minas. Armando gentilmente me enviou a carta de Candido, o que deu início a uma gentil correspondência. Passei a enviar semanalmente as edições do Pensar em PDF, trocamos conversas sobre amigos comuns, mas o tema sempre caía na poesia.


Era um apaixonado pelos versos, falava com entusiasmo sobre poetas antigos e novos. Dedicou sua vida e sua alma às palavras, com um rigor próprio, exigente na forma sem deixar o pathos lírico de lado. A poesia de Armando, como nos melhores artistas, nasce de profunda vivência, labor e intimidade com seu ofício.

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Repleta de gentileza, nossa correspondência evoluiu para algumas propostas de colaboração, alteradas ao longo de semanas, por um ou por outro, buscando um acordo entre a fugacidade jornalística e a perenidade de sua poesia, tentativas de entrevista. Com fineza rara, Armando escrevia: “Muito grato por sua atenção para com esse velho poeta”. A troca de e-mails resultou num texto inédito do poeta publicado pelo Pensar, uns meses depois. Uma nova versão de seu verbete sobre a morte, imagem que o perseguia desde sempre.


Agora que a Dama veio te buscar, Armando, sei que estará entre os mestres maiores, seja onde for, mas, certamente na nossa poesia.


Abraço do amigo e admirador.


Verbete da Morte

1. De fato, a morte sempre está a postos desde que o mundo é mundo. Na minha poesia, um dos primeiros poemas, escrito aos 20 anos e publicado no meu primeiro livro, Palavra, em 1963 é este:

Corpo

Acrobata enredado
Em clausura de pele
Sem nenhuma rutura
Para aonde me leva
Sua estrutura?

Doce máquina
Com engrenagem de músculo
Suspiro e rangido
O espaço devora seu movimento
(braços e pernas
sem explosão).

Engenho de febre
Sono e lembrança
Que arma E desarma minha morte
Em armadura de treva.

Não saberia explicar melhor, meio século depois, o quanto a morte me toca desde o meu nascimento como poeta.

61. Escrevo para o além da morte.

62. Morte a postos. Desde o dia zero, uterino. Se a lei da natureza do corpo fosse isenta de dor nos dias finais, ela seria mais humana.

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