Catadoras observam fotografias inspiradas em seu trabalho nas ruas da Região Metropolitana de Belo Horizonte -  (crédito: HB Audiovisual/divulgação)

Catadoras observam fotografias inspiradas em seu trabalho nas ruas da Região Metropolitana de Belo Horizonte

crédito: HB Audiovisual/divulgação

O dia a dia de trabalhadoras de quatro cooperativas de reciclagem da Região Metropolitana de Belo Horizonte inspirou a exposição “CATA – Mudanças climáticas e catadoras”, em cartaz até domingo (31/3), no Memorial Vale.

 


Parte da programação do Mês das Mulheres, a mostra da fotógrafa Verônica Alkmim e da socióloga Sônia Maria Dias reúne 24 imagens.

 


“A exposição é o encontro entre as artes plásticas, a sociologia e a educação popular. Não queríamos que fosse documento convencional, uma coisa que abordasse só a desgraça que é a questão do lixo. Queríamos as catadoras como protagonistas. Buscamos fazer algo mais poético em relação ao trabalho delas”, explica Verônica Alkmim.

 

 


A fotógrafa passou cerca de cinco meses acompanhando a rotina das trabalhadoras, buscando captar nuances da individualidade delas.

 


“Encontrei situações muito especiais, são mulheres corajosas. Eu me concentrei na relação íntima das catadoras com os resíduos. Uma delas encontrou uma perna de boneca enquanto organizava objetos de plástico e ficou aguardando a oportunidade de achar o resto da boneca para dar de presente à neta”, relata Verônica.

 


Outra faceta do projeto é destacar o papel essencial das catadoras na luta contra os problemas causados pela crise global do clima.

 

 


“Em relação à mudança climática, o que a gente vê é a ação positiva de separar, algo que temos de fazer na nossa casa também. As imagens não são documentais, ao pé da letra. Trazem sugestões do que está na rua, na nossa frente, e podem despertar olhar um pouco mais avançado sobre o cotidiano”, afirma.

 

Liderança feminina

 

A fotógrafa visitou as cooperativas Coopesol Leste e Condomínio 530, na Região Leste de BH, Acamares, em Sarzedo, e Ascito, em Itabirito. Observou que apesar de as mulheres representarem fatia menor dos catadores, são elas as responsáveis por chefiar organizações voltadas para a reciclagem na Grande BH.

 


“É um trabalho incrível. Muita gente tem nojo e elas têm desprendimento, também porque se trata de sobrevivência básica. Uma das propostas do projeto é tornar visível o que muitas vezes fica invisível aos olhos da sociedade. Na estatística, a maioria (dos catadores) é homem, mas as cooperativas organizadas estão na mão da mulher”, diz Verônica.

 


A mostra também exibe criações por meio da cianotipia, técnica de impressão fotográfica artesanal. Sete catadoras participaram da oficina que usou resíduos para experimentações. Elas produziram imagens que podem ser vistas na midiateca e em vídeos.

 


“Nessa técnica, fazemos a revelação da imagem de maneira rudimentar. A oficina foi ministrada pelo professor Alexandre Lopes. Quando ele emulsiona o tecido ou o papel para ser revelado ao Sol, ocorre uma química específica”, explica.

 


“Foi um momento muito emocionante. Elas cataram resíduos nas ruas para colocá-los no revelador, tornando-se obras de arte. Foi um exercício surpreendente, pois tiveram a oportunidade de transformar em fotografia seu trabalho na vida cotidiana”, comenta Verônica Alkmim.

 


Depois da capital mineira, a mostra “CATA” será levada à Universidade de Sheffield, na Inglaterra, pela rede internacional Mulheres no Trabalho Informal Globalizado e Organizado.


“CATA – MUDANÇAS CLIMÁTICAS E CATADORAS”


Exposição de fotografia. Memorial Minas Gerais Vale, Praça da Liberdade, 640, Funcionários. Hoje e sábado (30/3), das 10h às 17h30; domingo (31/3, último dia), das 10h às 15h30. Entrada franca. Informações: www.memorialvale.com.br

 

* Estagiária sob supervisão da editora-assistente Ângela Faria