Sepultura, com  Paulo Xisto e Andreas Kisser, abriu o  show de despedida do Kiss, no Mineirão, em 2023 -  (crédito: Alexandre Guzanshe – 21/4/23)

Sepultura, com Paulo Xisto e Andreas Kisser, abriu o show de despedida do Kiss, no Mineirão, em 2023

crédito: Alexandre Guzanshe – 21/4/23

Com um currículo que registra grandes shows nos quatro cantos do planeta ao longo de quase 40 anos, o Sepultura promete apresentação histórica em Belo Horizonte nesta sexta-feira (1/3), no Arena Hall, às 21h. Não é pouca coisa envolvida. Trata-se do pontapé inicial da turnê “Celebrating life through death”, que não só celebra as quatro décadas de trajetória da banda de rock brasileira de maior prestígio mundial como marca o encerramento de suas atividades.

No início de dezembro do ano passado, o grupo anunciou a série de shows, que deve durar 18 meses, passando por cidades brasileiras, países da América Latina, da Europa e dos Estados Unidos – com a possibilidade de ser estendida por mais tempo e por mais lugares.” O Sepultura vai parar. Vai morrer. Uma morte consciente e planejada”, disse a banda, em comunicado.

 

 

“É a última turnê. A gente vai parar porque é o melhor momento da história da banda e saímos de cena de uma forma muito tranquila”, declarou, na ocasião, o guitarrista Andreas Kisser, que reforçou que a banda tem boa relação. “Hoje, a gente tem uma condição fantástica entre a gente. A gente sai de cena tranquilo e em paz com a gente mesmo. Não é um momento triste, é de celebração”, destacou na sequência.

SAÍDA DO BATERISTA

Essa “boa relação” foi abalada ao longo dos últimos dias, quando o baterista Eloy Casagrande anunciou que estava deixando o Sepultura – sem “aviso-prévio”, de acordo com comunicado assinado por Andreas Kisser, Derrick Green e Paulo Xisto. A toque de caixa, para não comprometer a turnê, o grupo anunciou a contratação, para assumir o posto, do norte-americano Greyson Nekrutman, de 21 anos, que até ano passado estava tocando com a lendária banda punk/hardcore californiana Suicidal Tendencies.

A soma de todos esses fatores promete, para quem for ao show de logo mais, emoções de sobra para os fãs da maior banda de rock pesado brasileira de todos os tempos. Nos palcos, o Sepultura cumpriu uma espiral ascendente, que teve início em 19 de abril de 1986, poucos meses após o lançamento, pelo selo Cogumelo, no final de 1985, do vinil que trazia, de um lado, “Bestial devastation” – debute fonográfico do grupo –, e do outro, “Século XX”, da banda Overdose, que também estreava em disco.

Os dois grupos se apresentaram no Esporte Clube Ginástico, na Avenida Afonso Pena, onde se viam longas filas de jovens com camisas pretas, adeptos de vertentes como o death e o thrash metal, que começavam, partindo de Belo Horizonte, a ganhar espaço no Brasil. A abertura do show ficou a cargo do Multilator, outra aposta da Cogumelo.

“SCHIZOPHRENIA”

Em 1988, a banda voltou àquele mesmo espaço para o lançamento de “Schizophrenia”, segundo álbum “cheio” da discografia, sucessor de “Morbid visions” (1986) e primeiro trabalho com a presença do recém-contratado guitarrista paulista Andreas Kisser. O show contou com abertura das bandas Chakal e Ratos de Porão. O cartaz de divulgação trazia os dizeres “Mosh! Muié! Cerveja! Venda de camisas!”.

Em janeiro de 1991, eles tocaram no Rock in Rio II para um público de mais de 100 mil pessoas, promovendo o álbum “Beneath the remains” (1989) e antecipando “Arise”, que viria à luz em março daquele ano. Logo após a apresentação no Rio, houve um show gratuito em São Paulo, na Praça Charles Miller, em frente ao Estádio do Pacaembu, visto por cerca de 40 mil espectadores. O saldo foi muito negativo.

Algumas pessoas confundiram o espírito de confraternização dos fãs. Houve muita briga, com espectadores esfaqueados e baleados. A violência generalizada acabou resultando na morte de um fã. A tragédia contribuiu para criar um mito desabonador sobre o público da banda e causou danos à sua imagem, fazendo muitos produtores brasileiros ficaram temerários quanto à contratação de shows do Sepultura.

ROTA INTERNACIONAL

No exterior, contudo, a turnê de “Arise” foi longa e passou por lugares até então inéditos para o grupo, como Grécia e Japão. Na Holanda, estrearam em um festival de grande repercussão, o Dynamo Open Air, para mais de 30 mil pessoas. E atraíram mais de 100 mil pessoas nas duas apresentações realizadas na Indonésia. Com essa turnê, o Sepultura tornou-se a primeira banda de metal da América Latina a se apresentar no tradicional festival Monsters of Rock, na Inglaterra, e também a primeira do Brasil a tocar na Rússia.

De volta ao Brasil, a banda foi convidada a tocar no festival Hollywood Rock, graças a um abaixo-assinado feito pelo fã clube oficial, devido ao boicote por parte dos organizadores do evento, amedrontados com o incidente em São Paulo anos atrás. Em janeiro de 2010, a banda acompanhou o Metallica em um show no estádio do Morumbi, na capital paulista, para um público de 100 mil pessoas. Em abril do mesmo ano, tocaram no Kucukciftlik Park, em Istambul.

“ZÉPULTURA” NO RIO

Na edição 2013 do Rock in Rio, o Sepultura tocou duas vezes. Uma em 19 de setembro, no Palco Mundo, ao lado do grupo francês Les Tambours du Bronx. A segunda apresentação foi no dia 22, desta vez no palco Sunset, ao lado de Zé Ramalho, no espetáculo que foi chamado de “Zépultura”. Essa parceria já havia acontecido anteriormente, quando eles gravaram juntos a faixa “A dança das borboletas”, que fez parte da trilha sonora do filme “Lisbela e o Prisioneiro” (2003). 

“CELEBRATING LIFE THROUGH DEATH”
Primeiro show da turnê do Sepultura, nesta sexta-feira (1/3), às 21h, no Arena Hall (Av. Nossa Senhora do Carmo, 230 – Savassi). Ingressos esgotados.