Andreas Kisser durante show do Sepultura -  (crédito: Mauro Pimentel/AFP)

Andreas Kisser durante show do Sepultura

crédito: Mauro Pimentel/AFP

Às vésperas de iniciar a turnê mundial que marca o encerramento de suas atividades, o Sepultura acaba de comunicar a saída do baterista Eloy Casagrande, que integrava a banda desde 2011. O norte-americano Greyson Nekrutman, de 21 anos, que veio do jazz e até ano passado estava tocando com a lendária banda punk e hardcore californiana Suicidal Tendencies, foi anunciado como substituto.


A turnê “Celebrating life through death”, que coloca um ponto final na trajetória da banda formada em Belo Horizonte há 40 anos pelos irmãos Max e Iggor Cavalera, tem estreia marcada para esta sexta-feira (1º/2), com show no Arena Hall, na capital mineira. Na sequência, segue para Juiz de Fora, Brasília, Uberlândia e outras cidades brasileiras, antes de iniciar um giro por países da América Latina e, no segundo semestre, partir para a Europa. Até o momento, o planejamento está mantido.


A história do Sepultura é marcada por rompimentos traumáticos, desde os primórdios, quando o primeiro vocalista, Wagner Lamounier, foi expulso (em sua autobiografia, Max diz que ele roubava os cabos das guitarras para vender) e fundou o grupo Sarcófago. Depois do lançamento do álbum de maior sucesso na história do Sepultura, “Roots” (1996), foi a vez do próprio Max anunciar seu desligamento.

“Fomos pegos de surpresa, sem aviso prévio ou qualquer tipo de debate sobre como fazer a transição. A comunicação foi feita e ele se desligou imediatamente da banda, abandonando tudo relacionado ao Sepultura”

Andreas Kisser, Derrick Grenn e Paulo Xisto, em nota oficial

A saída do então líder da banda foi marcada por mágoas e acusações recíprocas. Os membros remanescentes justificaram o rompimento pela forma como a mulher do guitarrista e vocalista, Gloria Cavalera, então empresária do grupo, conduzia os negócios, privilegiando o marido. Dez anos depois, em 2006, Iggor também comunicou que estava deixando o Sepultura, devido a “incompatibilidades artísticas”.

Anúncio no Instagram

O anúncio da saída de Eloy Casagrande foi feito pelo perfil do grupo no Instagram. “No último dia 6 de fevereiro, em uma reunião extraordinária, o baterista Eloy Casagrande comunicou à banda e aos empresários que está se desligando do Sepultura para seguir carreira em outro projeto. Fomos pegos de surpresa, sem aviso prévio ou qualquer tipo de debate sobre como fazer a transição. A comunicação foi feita e ele se desligou imediatamente da banda, abandonando tudo relacionado ao Sepultura”, diz o texto.


Assinado por Andreas Kisser, Derrick Green e Paulo Xisto, o comunicado segue dizendo que a história do Sepultura é feita de desafios e que “são eles que alimentam nossa criatividade e determinação”. Com um tom claramente amargurado, o aviso diz que a saída repentina de Casagrande se deu depois de dois anos de concepção e muito trabalho (para a turnê de despedida), de acordos firmados com produtoras no Brasil e no mundo, da abertura da venda de ingressos e de ensaios marcados e confirmados.


A postagem do comunicado no Instagram gerou imediatamente especulações sobre a decisão do agora ex-baterista da banda. O que é aventado é que ele teria sido convidado a empunhar as baquetas da banda norte-americana Slipknot – outro grande expoente do heavy metal mundial –, assumindo a vaga deixada por Jay Weinberg em novembro do ano passado. Ainda não há uma confirmação oficial.


Ao longo dos últimos meses, ao ser confrontado com essa possibilidade, Casagrande se limitou a fazer piada, como aconteceu durante a entrevista coletiva na qual o Sepultura anunciou o encerramento das atividades. Ao ser questionado naquele mesmo dia, ele disse: “É um movimento da internet. Na verdade, não está acontecendo nada. Na vida real, estou focado na turnê do Sepultura. Quem sabe no futuro, ao término da banda, sim, aconteça alguma coisa com o Slipknot. Mas, por enquanto, são só boatos”.

Fãs divididos

A forma como a saída de Casagrande foi anunciada dividiu os fãs do Sepultura. “Post de tom muito ofensivo para um cara que fez tanto por essa banda”, escreveu um internauta. “Não sejam passionais. Tanto o Sepultura quanto o Slipknot são empresas. E uma já decretou falência”, postou outro. “Falta de respeito é o Sepultura expor o Eloy assim, lógico que tinha que sair”, saiu em defesa do baterista um terceiro seguidor.


Outro fã especulou de forma ainda mais incisivamente crítica: “O Sepultura termina do nada. Provavelmente com uma decisão unilateral do Andreas. Aí o Eloy decide seguir a vida dele, provavelmente pra entrar no Slipknot, e ele que tá errado? Quem é desleal? Achei esse comunicado de um mau gosto tremendo com o Eloy. Ele só é leal se abrir mão de uma banda gigantesca pra fazer a turnê de despedida do Sepultura? Sacanagem demais o tom desse comunicado”.


Na mesma postagem que anuncia a saída de Casagrande, o grupo comenta a chegada do novo membro: “Felizmente, o virtuoso baterista americano Greyson Nekrutman assumirá o cargo e será recebido como novo integrante da banda na turnê de despedida”. O norte-americano, por sua vez, expressou pelas redes sociais sua alegria por embarcar na derradeira turnê do Sepultura.


“Hoje expresso minha sincera gratidão pela incrível oportunidade de me juntar aos lendários integrantes do Sepultura em sua turnê de despedida. Contribuir para esse legado é um privilégio que me enche de honra e entusiasmo”. O derradeiro giro da banda vai render um álbum com 40 músicas – com cada faixa gravada em uma cidade diferente. Os primeiros registros já foram iniciados, antes mesmo do pontapé inicial da turnê.