Premiado no Festival de Cannes, o romance

Premiado no Festival de Cannes, o romance "Folhas de outono", do finlandês Aki Kaurismaki, tem sessão neste domingo

crédito: Mubi/Divulgação

Se fosse possível exibir de novo nos cinemas, ao menos, os 10 melhores filmes de 2023, quais títulos deveriam entrar na lista? “É muito difícil escolher, mas acho que 'Folhas de outono', do Aki Kaurismäki; e 'Assassinos da Lua das Flores', do Scorsese; devem entrar”, responde o coordenador e programador das salas de cinema do Centro Cultural Unimed-BH Minas, Samuel Marotta.

Mesmo diante da dificuldade de escolher apenas 10 longas em um leque que incluía centenas de opções, Marotta topou o desafio. E, pelo segundo ano consecutivo, realiza a Mostra Retrospectiva, em cartaz no Centro Cultural Unimed-BH Minas até o próximo dia 21, com exibições diárias, a preço popular.

Com o auxílio de mais nove programadores de salas de cinema de ruas espalhadas pelo país – entre eles, os diretores Cavi Borges e Marcos Jorge, que também são programadores, respectivamente, do Estação Botafogo (RJ) e do Cine Passeio (PR) –, foram escolhidos os 10 filmes em cartaz na mostra. Cada programador escolheu 10 longas. Os filmes que se repetiram foram selecionados.

A lista é encabeçada por “Retratos fantasmas”, de Kleber Mendonça Filho. Na sequência, vieram “Close”, de Lukas Dhont; o já citado “Folhas de outono”, “Monster”, do japonês Hirokazu Kore-Eda; “Mato seco em chamas”, de Joana Pimenta e Adirley Queirós; o iraniano “Sem ursos”, de Jafar Panahi; e “Assassinos da lua das flores”, de Martin Scorsese.

Por fim, “Culpa e desejo”, de Catherine Breillat; “Elis e Tom – Só tinha de ser com você”, de Roberto de Oliveira e Jom Tom Azulay; e o documentário “Andança – Os encontros e as memórias de Beth Carvalho”, de Pedro Bronz.

Sem Barbenheimer

Pode causar estranheza a ausência de títulos como “Oppenheimer”, de Christopher Nolan; que conquistou o Globo de Ouro em cinco categorias neste ano e detém o maior número de indicações ao Oscar deste ano – 13. Ou então a de “Anatomia de uma queda”, da francesa Justine Triet. O longa foi o vencedor da Palma de Ouro em Cannes no ano passado, do Globo de Ouro e do Critics' Choice Awards neste ano por filme estrangeiro. Concorre ao Oscar em cinco categorias, incluindo a de melhor filme.

A ausência do filme de Triet é mais fácil de explicar. Por mais que seja de 2023 e tenha sido exibido em diversos festivais ao longo do ano passado, ele só entrou em cartaz no circuito comercial brasileiro no mês passado. Portanto, não cumpria o principal requisito da mostra: ter sido exibido em cinema durante 2023.

“Essa era a nossa única regra”, diz Marotta. “Os programadores poderiam escolher desde filmes inéditos que fizeram sua estreia no ano passado até mesmo títulos que voltaram a ser exibidos no cinema depois de algum tempo”, explica.

A ausência de “Oppenheimer”, no entanto, é mais difícil de explicar. Não é nenhum tipo de preconceito contra blockbusters, garante Marotta. “Tanto é que ‘Assassinos da Lua das Flores’ está na mostra”, ressalta.

“‘Oppenheimer’ chegou a ser votado por alguns programadores, mas não teve a mesma quantidade dos outros filmes que entraram. Não se trata de gosto pessoal de quem votou, e sim da tendência de público das salas ao longo do ano. É muito difícil fazer esse tipo de seleção”, comenta.

Assim como “Oppenheimer”, outros títulos ficaram de fora por receberem poucas indicações da equipe curatorial. É o caso de “Barbie”, de Greta Gerwig, que tem oito indicações ao Oscar.

Em contrapartida, a Mostra Retrospectiva 2023 traz um leque diverso de produções cinematográficas sem ficar centrado nos filmes norte-americanos, dando ao público a oportunidade de rever (ou de assistir pela primeira vez) a longas de países como Finlândia, Japão, Irã e Bélgica.

São títulos que propiciam discussões a respeito de diferentes temáticas. “Sem ursos”, por exemplo, configura-se como uma crítica à ditadura iraniana, num momento em que a repressão no país se intensifica, como demonstra o caso da jovem morta após ser detida pela “polícia moral” em Teerã, por não estar usando corretamente o véu em local público.

O belga “Close”, por sua vez, mostra como a homofobia é prejudicial a toda a sociedade, incluindo os heterossexuais. E o franco-norueguês “Culpa e desejo” trata de questões morais (até mesmo legais) e convenções sociais, ao contar a história de uma advogada especializada em abusos contra menores que começa a se relacionar com o enteado de 17 anos.

Além de promover um repeteco dos filmes que se destacaram em 2023, a mostra também tem como objetivo promover a interação das salas de cinema de rua do Brasil. “Ao longo de todo o ano, nós exibimos filmes que, muitas vezes, sequer entram em cartaz nos cinemas das grandes redes. Então, acho que é muito importante fazermos esse diálogo, essa troca de experiências entre os programadores que integram esse circuito comercial de rua”, diz Marotta.


EM CARTAZ

9/2 – Sexta-feira

16h – “Sem ursos” (2022), de Jafar Panahi
18h30 – “Close” (2022), de Lukas Dhont

10/2 – Sábado

16h – “Andança – Os encontros e as memórias de Beth Carvalho” (2023), de Pedro Bronz
18h30 – “Culpa e desejo” (2023), de Catherine Breillat

11/2 – Domingo

16h – “Retratos fantasmas” (2023), de Kleber Mendonça Filho
18h30 – “Folhas de outono” (2023), de Aki Kaurismäki