Obra da série

Obra da série "Deslocamentos continentais", em que a artista invoca conceitos da geografia, como os movimentos tectônicos 

crédito: Casa Fiat/Divulgação

A artista fluminense Julia Arbex abre nesta terça-feira (30/1), na Casa Fiat de Cultura, em Belo Horizonte, a mostra “Três tempos”. Nascida em Volta Redonda, Julia vive e trabalha entre Rio de Janeiro e Belo Horizonte. No ano passado, iniciou seu doutorado em Artes pela UFMG e foi indicada ao Prêmio Pipa.

“Costumo trabalhar mais com o desenho, mas minha pesquisa é sobre desenhos expandidos, que não se restringem a um desenho de lápis sobre papel. Então minha ideia é expandida sobre como pode ser um desenho tridimensional”, diz a artista.

Ela tem importado conceitos da geografia para sua obra, tendo como referência o geógrafo Milton Santos (1926-2001): “Os estudos de cidade têm me interessado. Na geografia há o conceito de rugosidade na cidade, que é, por exemplo, um trilho de trem numa cidade que não tem mais trem, mas o trilho ficou. Então isso é uma rugosidade. A ideia era pensar se isso não pode ser interpretado como um desenho tridimensional”, diz.

Duas séries

“Três tempos” se constitui das séries “Terra plana” e “Deslocamentos continentais”, tematizando o transitar das placas tectônicas, suas reconfigurações e as alterações territoriais no mundo.
“Os dois trabalhos têm em comum os materiais carvão e água. Em ‘Deslocamentos continentais’, trabalho carvão sobre o papel e isso me interessa porque tanto o carvão vegetal quanto o papel são materiais que compartilham essa mesma origem vegetal, mas eles estão em diferentes estados da matéria, então existe uma circularidade”, aponta.

“E ainda sobre esses dois elementos, penso que também são uma substância necessária tanto para a gente quanto para todo tipo de vida no planeta. São materiais que se complementam”, acrescenta.
Em “Terra plana”, Julia Arbex desenha territórios imaginários com carvão em papel de algodão e os transfere para a água, criando uma espécie de mapa que está sempre em movimento e flutuando. O trabalho usa sete recipientes de água que funcionam como suporte.

“Quando o carvão está flutuando na água, ele tem esse poder de movimento, não fica estático. Eu não tenho controle sobre o desenho final, é um desenho que não controlo completamente. Ele tem um formato inicial, mas pode ser totalmente reconfigurado”, observa.

Na série “Deslocamentos continentais” o que se vê é resultado do deslocamento da massa de carvão, transferida e reconfigurada. O desenho, agora transformado, emerge das profundezas aquáticas para ressurgir no papel, marcando a segunda fase do processo artístico. São mais de 20 quadros que se posicionam quase como ilhas.

“Penso as coisas como sendo perecíveis, mas perecível não no sentido de uma coisa que acaba, mas uma infinitude, algo que está sempre em movimento e em construção. A ideia do trabalho é um pouco essa”, diz.

TRÊS TEMPOS”
Individual de Julia Arbex. A partir desta terça-feira (30/1), na Casa Fiat de Cultura (Praça da Liberdade, 10 – Funcionários). De terça a sexta, das 10h às 21h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h. Entrada franca. Mais informações: (31) 3289-8900. Até 24 de março.