
Quiet Luxury: o prazer de consumir com sentido
A ideia embutida no Quiet Luxury é a de que, ao optarmos por produtos de qualidade superior, evitamos o desperdício
Mais lidas
compartilhe
SIGA NO

Em um mundo que nos convida ao consumo irrefletido, talvez seja o momento de pensarmos como Epicuro, que acreditava que a felicidade humana só é possível de ser alcançada se nos focarmos no prazer moderado e naquilo que é essencial. Para Epicuro a verdadeira felicidade (eudaimonia) reside na ausência do sofrimento físico (aponia) e na paz de espírito (ataraxia), que só podem ser alcançadas quando priorizamos o essencial e nos desvencilhamos do desejo de acúmulo de bens materiais. Entre o frenesi das vitrines e a ansiedade das promoções, há um silêncio propício para nos perguntarmos do que de fato precisamos.
Não sei se influenciado pelo epicurismo ou não, mas está surgindo nas redes sociais um movimento chamado Quiet Luxury, em resposta ao consumismo exagerado e à aquisição ostensiva de marcas de luxo – nem sempre acompanhadas da qualidade que prometem representar. O movimento busca valorizar a elegância discreta, com foco em peças de alta qualidade, sugerindo mais do que a adoção de um estilo de vida, mas um posicionamento ético que rejeita o descartável e celebra o durável. Ao recusar o rótulo pelo rótulo, o Quiet Luxury nos convida a repensar a lógica que associa o valor de um objeto ao seu preço e a redescobrir o gosto pelo essencial e pelo que tem permanência.
Leia Mais
Vivemos presos à lógica consumista, na qual roupas, eletrônicos e até mesmo móveis são feitos para durar pouco. A lógica do fast-food se estendeu aos objetos, lares e até mesmo relações. É de conhecimento geral que em relação aos produtos eletrônicos, a situação é ainda mais grave, pois muitos são projetados com uma obsolescência programada que os torna inúteis após poucos anos de uso. Isso significa que pagamos caro por bens feitos para não durar e o impacto não é apenas o bolso, mas também ambiental e simbólico, já que internalizamos a lógica da descartabilidade como parte da nossa cultura cotidiana, onde absolutamente tudo se torna descartável.
Segundo os adeptos do Quiet Luxury, não é preciso ser rico para fazer parte do movimento, pois se trata, na verdade, de uma atitude frente à vida. Ao preferirmos o que dura, confrontamos a lógica que alimenta a cultura do descarte, responsável por toneladas de resíduos e por uma pressão ambiental alarmante. O movimento sugere uma reconexão com o valor das coisas que permanecem: bens atemporais, duráveis, feitos para transcender as estações. Assim, ao contrário do eterno ciclo de novidades, o Quiet Luxury propõe um ritmo mais lento de consumo, no qual o ato de comprar se transforma em um gesto genuíno de escolha consciente e não apenas uma submissão ao desejo fabricado pela publicidade.
Essa busca por elegância consciente não é apenas estética. Ela esconde uma crítica ao modelo econômico baseado na produção desenfreada e no consumo ilimitado. Ao preferirmos o que dura, somos convidados a experimentar aquisições ritualísticas, ou seja, um processo que envolve pesquisa, comparação e que culmina em uma decisão refletida. Uma compra na qual o prazer se estende para além da simples aquisição, se transformando em uma satisfação íntima, que nada tem a ver com o aplauso externo. É como se devolvêssemos ao consumo uma dimensão há muito perdida, que é a do significado.
As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do(a) autor(a) e não refletem, necessariamente, o posicionamento e a visão do Estado de Minas sobre o tema.