As redes sociais tornaram-se um espelho global onde milhões se olham diariamente. E, assim como Narciso, personagem da mitologia grega, que ficou fascinado por sua própria imagem refletida na água, muitos de nós estão encantados com as imagens que veem e, especialmente, com as que desejam projetar. Mas, ao contrário da serenidade do lago que refletiu o deus, as águas das redes sociais são agitadas, inconstantes e, muitas vezes, ilusórias.

Em várias oportunidades, passeando pelo Instagram, me deparo com vidas que parecem quase irreais em sua perfeição. A plataforma, assim como outras redes sociais, tem o poder de criar e promover estilos de vida, propondo um padrão ao qual, supostamente, todos deveríamos ansiar. Na tela do celular, todos são felizes, viajam para lugares exóticos, comem pratos requintados e, aparentemente, desafiam o tempo e a idade. Enquanto isso, a realidade de muitos está longe desse retrato idealizado.

Recentemente, tive um encontro perturbador com uma jovem mãe de 28 anos. Apesar de encontrar satisfação em sua vida, ela confessou que as redes sociais começaram a abalar sua contentação. Com sinceridade, ela partilhou: “Não é inveja, mas, por vezes, questiono se, ao escolher aquela vida retratada nas redes sociais, não encontraria mais felicidade”. Essa pressão silenciosa e constante para termos uma vida perfeita, para vivermos uma vida que muitas vezes é mostrada apenas superficialmente, está causando danos além da tela.

A verdade é que, enquanto alguns escolhem publicar seus melhores momentos, outros enfrentam o desafio diário de equilibrar trabalho, estudos, maternidade/paternidade e autocuidado. A vida real é repleta de altos e baixos, de desafios e imperfeições. E, embora as redes sociais possam trazer muitos benefícios, com a conexão com os entes queridos e o acesso a informações, elas também têm o potencial de distorcer nossa percepção da realidade e de nós mesmos.

Estamos vivendo em um cenário amplamente influenciado pela publicidade, onde o real e o virtual se misturam de forma quase indistinguível. A necessidade de validação, de likes e de comentários positivos, tem levado muitos a viver mais intensamente no mundo virtual do que no real. Nesse contexto, as redes sociais nos convidam a estar no mundo, no entanto, sem ver o mundo de fato.

Se, no passado, histórias de contos de fadas ofereciam uma visão idealizada da vida, hoje as redes sociais, de algum modo, assumiram esse papel. A diferença é que, enquanto os contos de fadas eram claramente ficção, as redes sociais ostentam uma falsa realidade, levando seus usuários a buscarem incessantemente um padrão angustiantemente inatingível.

Em tempos de narcisos digitais, em que o reflexo das águas agitadas das redes sociais parece mais atraente do que a realidade, é vital descobrirmos a beleza de nossa autenticidade. Cada um de nós carrega uma história única, rica em experiências e emoções. E, ao abraçarmos nossas imperfeições e celebrarmos nossas verdadeiras jornadas, encontramos não apenas mais paz interior, mas também a capacidade de inspirar outros a fazerem o mesmo. No fim das contas, a verdadeira perfeição não se encontra em uma imagem filtrada das redes sociais, mas nos momentos genuínos e nas conexões reais que construímos ao longo de nossas vidas.