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Estado de Minas

Tony Ramos relembra a história de André Cajarana em "Pai herói"

Clássico de Janete Clair está disponível no Globoplay e ator fala sobre os personagens que fez com a "usineira dos sonhos"


03/10/2021 04:00

Tony Ramos e Glória Menezes
Na novela, ator contracenou com grandes nomes da dramaturgia, como a atriz Glória Menezes (foto: Acervo/Globo)

 
O projeto de resgate de grandes telenovelas do Globoplay se iniciou há mais de um ano e já colocou quase 150 títulos à disposição no streaming. Entretanto, faltava uma convidada especial. Ou melhor, a anfitriã. Mas ela chegou. “Pai herói”, escrita por Janete Clair (1925-1983) em 1979, entrou para o catálogo da plataforma. É a primeira novela da autora a chegar ao Globoplay. Janete é considerada por muitos a maior autora brasileira de telenovelas. Chamada de "maga das oito", sempre com muito sucesso.
 
Do poeta Carlos Drummond de Andrade, ela ganhou o título de "usineira dos sonhos", em uma coluna que escreveu no Jornal do Brasil, após o capítulo final de outro clássico que criou, “O astro”, de 1977. Nele, Janete mobilizou o país com o mistério sobre "quem matou Salomão Hayalla?".
 
“Pai herói” contou com nomes como Tony Ramos, Glória Menezes, Paulo Autran, Elizabeth Savalla, Rosamaria Murtinho, Carlos Zara, Maria Fernanda, Lélia Abramo e Dionísio Azevedo no elenco. A história girava em torno de André Cajarana (Tony), um jovem que tentava a todo custo provar a inocência do pai falecido. Para isso, tinha que enfrentar o poderoso Bruno Baldaracci (Paulo Autran), uma espécie de mafioso – atualmente, um miliciano – da Baixada Fluminense.
 
Em entrevista por telefone, Tony Ramos relembra seu trabalho em “Pai herói” e em outras duas outras novelas da autora – a quem ele chama carinhosamente de "dona Janete" –, “O astro” e “Selva de pedra”, esta última, um remake exibido em 1986, após a morte de sua criadora.

Queria que você contasse, talvez a geração atual não tenha essa compreensão, o que era ser escalado para ser protagonista de uma novela de Janete Clair?
Comecei com TV ao vivo. Pude entender o que era a televisão. Hoje, temos novas ferramentas. Quando você tinha só a TV aberta, o rádio e o cinema, uma novela como “Pai herói”, de enorme sucesso, assim como foi a anterior, “O astro”, que eu também fiz e na qual o país inteiro perguntava "quem matou Salomão Hayalla?", era algo que tomava uma proporção enorme. “Pai herói” é uma novela muito boa, atual.

De que forma?
É uma história de um filho que tenta salvar a honra e a moral do pai. Essa nova geração poderá conhecer uma história de muita emoção – e não só a emoção de chorar –, mas a pulsação de um conflito, isso é, o que toda boa dramaturgia tem que ter. Há conflitos em todos os núcleos. Inclusive, há 43 anos, dona Janete já falava de uma riqueza emergente. Já falava de poderes paralelos existentes na sociedade por meio da personagem de Paulo Autran. É uma novela que poderia ser refeita pela TV Globo com tranquilidade, com suas devidas adaptações, que não tenho a menor dúvida de que seria novamente um sucesso.
 
No caso de “Pai herói”, a história era bastante centrada no André Cajarana, seu personagem.
Ele é muito heroico. Há a cena do assalto – e a novela era muito bem filmada pelo (diretor) Roberto Talma – que eles colocaram uma câmera de mão dentro de uma caçamba de uma caminhonete. Uma cena de perseguição pelas ruas do Leblon, em uma época sem os recursos de hoje. E o André acaba se escondendo na cobertura da Carina (Elizabeth Savalla). Muitos diziam: só em novela mesmo. Lembro-me da dona Janete dizer: "Não falem isso, gente. É tudo real. Tudo pode acontecer. O que a gente faz é adocicar a fantasia de um folhetim."

Os personagens de Janete, mesmo os mocinhos, eram muito complexos. Márcio, de “O astro”, era assim. André Cajarana também. Idem o Cristiano Vilhena de “Selva de pedra”. Como você os construía?
Ah, sempre tivemos grandes diretores ao lado de dona Janete. Daniel Filho, Gonzaga Blota, Roberto Vignatti, que era grande diretor de teatro, Walter Avancini, Roberto Talma, Paulo Ubiratan. Todos muito atentos ao folhetim e aquilo que não se pode ter ao fazer uma novela: um olhar blasé, superior. Aquela coisa de "ah, estou fazendo uma novela aí". Nunca. Uma história popular tem que ser respeitada. Essa cumplicidade do povo com a telenovela brasileira é uma manifestação cultural.

Em “O astro”, Janete te deu uma cena de nudez, muito bem contextualizada, de um filho que contesta a ganância do pai, e sai de casa nu. O que você pode contar sobre essa cena?
Ela e os diretores conseguiram a liberação na censura justamente com argumento de que não era um nu gratuito. Era um filho brigando com o pai, despindo-se da roupa que ele lhe dava. Fiquei nu mesmo. Fora da casa, o jardineiro da família coloca uma capa de chuva sob o corpo do filho. E o personagem sai caminhando como São Francisco de Assis. Um momento muito bonito. Essa cena rendeu crônicas, textos, mas, sobretudo, uma relação de carinho com o público.

Em 1986, você fez o remake de “Selva de pedra”. Muita gente achou que não ia dar certo, mas foi outro grande sucesso. E Cristiano, mais uma vez, um personagem complexo, ambicioso, com cenas difíceis. Um desafio, não?
A versão clássica de “Selva de pedra”, claro, é a primeira, com Francisco Cuoco e Regina Duarte. Só que era em preto e branco. E a empresa (TV Globo) não conseguia vender esse clássico para o mundo por ele ser em preto e branco. Então, o Daniel teve a ideia de refazê-la. Para você ter uma ideia, foi de Israel a Itália, dos Estados Unidos para todo o público da América Latina. Cristiano era o máximo, delícia de personagem. Contraditório, cheio de altos e baixos, de moral duvidosa. Adorei fazer. Posso apostar. Faça Selva de Pedra novamente nos dias de hoje. Pegue um bom elenco, com um grande ator jovem, como o Chay Suede. Vai ser sucesso novamente. (Estadão Conteúdo)


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