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Estado de Minas TURISMO

O Pantanal muito além da paisagem

História, cultura, gastronomia e dança se encontram no pantanal mato-grossense


20/09/2023 04:00 - atualizado 20/09/2023 11:26
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Amanhecer na Baía de Siá Mariana
Amanhecer na Baía de Siá Mariana, próximo ao encontro com o Rio Mutum, revela a beleza sem igual do Pantanal, um dos mais ricos em biodiversidade do mundo


“O sol nasce e se põe para todo mundo, mas aqui no Pantanal ele é diferente”. Essa foi a primeira coisa que eu verbalizei enquanto contemplava o pôr do sol em um pequeno barco na Baía de Siá Mariana, localizada em Barão do Melgaço (MT).

Até então, a referência que eu tinha do Pantanal era de ser um bioma com natureza exuberante, repleto de animais coloridos, como onças-pintadas, araras multicoloridas, jacarés por todos os cantos. Ao final de cinco dias de viagem, pude vivenciar que o Pantanal é tudo isso, mas não apenas isso. Lá, o viajante tem a oportunidade de vivenciar o casamento da natureza com a riqueza da cultura e culinária local, conhecer o modo de vida dos homens e mulheres pantaneiros.

O Estado de Minas viajou para o pantanal mato-grossense a convite do Sebrae-MT, que desenvolve o Pró-Pantanal, umainiciativa de apoio para micro e pequenas empresas que trabalham com o turismo na região. Além da queda de turistas por conta da pandemia, as queimadas recordes em 2020 consumiram quase ¼ do bioma - alguns locais só deram sinais de recuperação recentemente.



O Pantanal é o menor bioma brasileiro e um dos mais ricos em diversidade de fauna e flora no mundo. Apesar de ocupar apenas 2% do território nacional, é lar de 263 espécies de peixes e 463 espécies de aves, o que atrai milhares de turistas todos os anos para a prática de pesca esportiva e observação de pássaros.

O destaque da região é o ecoturismo, preterindo o turismo histórico. No entanto, a cultura e a vida pantaneira são intimamente ligadas à natureza.

o siriri, dançado pelas mulheres, vestidas com longas roupas coloridas
o siriri, dançado pelas mulheres, vestidas com longas roupas coloridas,tem origem na cultura trazida pelos povos africanos escravizados


Ao visitar o Museu da Viola de Cocho, em Santo Antônio do Leverger (MT), o turista conhece a musicalidade das danças típicas do Mato Grosso: o siriri, dançado pelas mulheres, vestidas com longas roupas coloridas, e o cururu, dançado pelos homens, com seus chapéus de palha.

O Mestre Alcides faz artesanalmente a viola de cocho, feita a partir de um tronco de madeira maciça e indispensável para o acompanhamento das danças. Há relatos do instrumento nas rodas de músicas e cantigas do Pantanal desde o século XIX.

Na segunda metade do século passado, estas tradições perderam espaço para ritmos estrangeiros. Há alguns anos se iniciou um processo de resgate desta cultura. Desde 2004, a viola de cocho é reconhecida como patrimônio imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

“As pessoas tinham vergonha de ter viola de cocho ou até de andar com quem tinha. Meu irmão já até falou ‘você parece matuto tocando isso’. Hoje, eu acho que ele e o pessoal do Mato Grosso enxergam de forma diferente”, conta Mestre Alcides.

Filhote de jaguatirica
Filhote de jaguatirica ganha abrigo na Pousada Rio Mutum: resgate e volta À NATUREZA

A HISTÓRIA VIVA PELA DANÇA

O siriri e o cururu, símbolos da cultura pantaneira, começaram com os negros africanos trazidos para o Brasil na condição de escravizados.

O Mato Grosso, assim como Minas Gerais, viveu sua corrida pelo ouro no século XVIII. Os trabalhadores das minas eram escravizados que trouxeram consigo a sua 

cultura e seus costumes. Esta herança permanece viva em espaços como o Quilombo Mata Cavalo, localizado em Nossa Senhora do Livramento (MT).

“O siriri e o cururu têm origem nas senzalas. Os nossos antepassados da África trouxeram o batuque. As pessoas foram adaptando à cultura brasileira, à cultura mato-grossense, mas você vê que o batuque conta sempre rituais e histórias de São Benedito e de Nossa Senhora Aparecida, que são santos protetores dos negros”, relata Gonçalina Eva Almeida de Santana, líder comunitária.

Fomos recepcionados no quilombo com apresentações de congada, siriri e cururu muito bem coreografadas, feitas por alunos da Escola Estadual Tereza Conceição de Arruda, na qual Gonçalina é professora. A comunidade é lar de 418 famílias, cerca de 3 mil pessoas, e ocupa um território de 11,7 mil hectares.

“Ser quilombola significa ser essa pessoa linda, maravilhosa, que traz consigo toda uma cultura do povo africano, do povo negro. A gente vive essa cultura aqui dentro”, diz Gonçalina.
Em frente à escola há uma venda na qual a comunidade comercializa artesanatos e comidas típicas do pantanal, com destaque para os doces feitos à base de banana.

Rancho São Jorge, EM POCONÉ (mt), jovem pantaneiro faz exibição para visitantes
No Rancho São Jorge, EM POCONÉ (mt), jovem pantaneiro faz exibição para visitantes

A VIDA PANTANEIRA

Um dos pratos típicos do Pantanal é o Quebra-Torto, café da manhã que consiste em arroz carreteiro, ovo frito, farinha e o que mais sobrou do jantar da noite seguinte. A receita surgiu da necessidade do pantaneiro ter uma refeição reforçada após o desjejum antes de passar o dia na lida do campo.

No Rancho São Jorge, em Poconé (MT), o visitante pode conhecer bem de pertinho a vida do pantaneiro pela culinária. No local há criação de gado, de cavalos e de galinhas. O neto do "Seu Jorge” recebe os forasteiros montado em uma vaca domada por ele - que senta e se “finge de morta” aos seus comandos.

Após conhecer os animais do rancho, é feita uma roda de viola com clássicos da música sertaneja de raiz. Numa mesa perto dali é servido paçoca de carne seca feita no pilão. É bom não “encher o bucho” porque logo mais é servida uma iguaria: cabeça de boi assada. O prato pode não agradar aos olhos, mas a carne macia e suculenta, com uma textura que lembra costela de boi, faz a experiência valer a pena pelo paladar.

Poconé é a porta de entrada da Transpantaneira, estrada que segue até o distrito de Porto Jofre, às margens do Rio Cuiabá. São 128 quilômetros de estrada de terra rodeada nos dois lados pelo verde absoluto do Pantanal. São muitos animais e aves pelo caminho, tornando uma simples viagem um verdadeiro safári.

A Transpantaneira nos períodos de seca, entre abril e setembro, fica alguns metros acima da vegetação em volta. O nível da água fica mais baixo, o que atrai aves em busca de peixes - o Pantanal é a maior planície alagável do mundo.

A cada quilômetro, maritacas, araras, emas e tuiuiús, ave símbolo do Pantanal, sobrevoam as águas e colorem a paisagem.

As pousadas da região oferecem aos hóspedes safáris pelas estradas vicinais. É uma ótima oportunidade para conhecer a fauna e flora da região e ir em busca da queridinha do Pantanal, a onça-pintada - inclusive, em Poconé há a maior concentração da espécie em toda a América.

Infelizmente, o mais próximo que conseguimos chegar de uma onça durante a viagem foi nas pegadas que uma delas deixou em uma estrada próxima à Pousada Piuval, também em Poconé.

Todos os safáris que fizemos ao longo da viagem valeram muito a pena, em especial os feitos no amanhecer - a alvorada do Pantanal nos presenteou com uma pintura nova todos os dias.

Em seguida, perto dali, conhecemos um projeto de recuperação de animais silvestres através de soltura branda promovido pela Pousada Rio Mutum. No local vimos araras, jaguatirica, puma, bugio, raposa e lobo do mato. A maioria deles foram resgatadas de cativeiros e levadas para serem cuidadas antes de voltarem à natureza.

Não é permitido que os hóspedes tirem fotos dos animais - a ideia é que o espaço não seja transformado em um zoológico particular.

Quem nos apresentou o espaço foi o Seu Raimundo. Enquanto contava histórias dos animais que ali eram cuidados, um pequeno macaco, o Chiquinho, brincava com os visitantes, subindo nos ombros de todo mundo.

Aquela manhã sintetizou um pouco de como é viajar pelo Pantanal mato-grossense: contemplar um nascer do sol espetacular, escutar histórias quase fantásticas da vida do homem pantaneiro junto aos animais e ter contato com uma natureza que só estando ali para conhecer.

*O repórter viajou a convite do Sebrae-MT


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