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Estado de Minas ODE AO AMOR

Visitamos o refúgio do imperador Adriano, o soberano amante das artes

Patrimônio pela Unesco, a Villa Adriana, em Tivoli, na Itália, foi o lar onde viveu o estadista romano. Local histórico é fiel às 'memórias' literárias


11/07/2023 09:00 - atualizado 11/07/2023 09:32
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Residência de Verão
Entre os anos 118 e 134 d.C, a Villa foi concebida por Adriano como uma residência de verão, abrangendo uma área de 120 hectares (foto: Gustavo Werneck/EM)
 
Tivoli, Itália – Há livros que nos acompanham a vida inteira: uma hora, ficam em nossas mãos, em outra, na estante ou quietinhos no canto do sofá, mas, sem dúvida, sempre grudados na memória. Já li “Memórias de Adriano”, de Marguerite Yourcenar (1903-1987), algumas (inesquecíveis) vezes, e sempre volto às páginas para visitar lugares, personagens, ideias. E foi no sentido amplo do verbo visitar, com a emoção aflorada, que parti de Roma em direção a Tivoli, distante 30 quilômetros, seguindo pela Via Tiburtina, a fim de conhecer a Villa Adriana – um pedaço monumental da Antiguidade.

Logo de cara, ao comprar o ingresso (12 euros), juntei o prazer de ler a magnífica obra literária ao de conhecer um dos cenários ali descritos, constatando, com satisfação, que o nome do espaço em frente à Villa Adriana se chama Largo Marguerite Yourcenar. Nascida  em Bruxelas, Bélgica, a escritora foi a primeira mulher a entrar para a Academia Francesa de Letras (1980). Se estivesse viva no plano físico (pois na literatura está eternizada), ela teria completado 120 anos em 8 de junho.

Que espetáculo, pensei, criador e criatura lado a lado, e totalmente à disposição dos viajantes. As palavras conjugadas à terra se envolveram e se materializaram no espírito dos tempos.

E fui além, ao matutar: que bom gosto tinha o imperador Adriano (Publius Aelius Hadrianus, 76-138 d.C), que escolheu um lugar deslumbrante para erguer, no século 2, o complexo de edifícios clássicos mesclando elementos da arquitetura egípcia, grega e romana. Água, vegetação, arte e silêncio dominam os quatro cantos – e atraem o olhar do princípio ao fim – da Villa Adriana, reconhecida em 1999 como Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

O conjunto natural e artístico demonstra a erudição de Adriano um homem de imensa cultura e gosto pelas viagens ao longo do império romano, e que, pessoalmente, supervisionou as edificações na propriedade. Seu lema era “paz e cultura” – e é assim que o passeio deve transcorrer. À beira de uma das piscinas, há uma coleção de réplicas (feitas em gesso) das estátuas originais.   


ÁGUA E LUZ

Unesco
Situada nos arredores de Roma, na cidade de Tivoli, a Villa Adriana, é um complexo monumental da antiguidade tombado como patrimônio da Unesco em 1999 (foto: Gustavo Werneck/EM)
 

Foi no ano 118, um ano após se tornar imperador e retornar a Roma após uma viagem, que Adriano deu início à construção da Villa Adriana. São 120 hectares, com três complexos termais, edifícios administrativos, teatro e outros espaços em meio à imensidão verde e embelezada por jardins. Como se trata de um sítio arqueológico, é comum o visitante encontrar profissionais fazendo escavações entre as ruínas.

Num dia de céu azul e temperatura amena, o repórter pôde caminhar e admirar, favorecido pela luz solar, o terraço da academia, o vale do Canopo (com as termas), o complexo Pintado (com edifícios orientados segundo os quatro pontos cardeais), e o Teatro Marítimo. As esses espaços, somam-se as bibliotecas, o Palácio Imperial, a Sala dos Filósofos e os vestígios da caserna.


A cada passo, não se consegue frear a imaginação. Como seria viver ali? Se o viajante estiver sem guia, vale a pena comprar um pequeno livro (6 euros, na lojinha da entrada), onde são encontradas lembrancinhas e respostas para a pergunta no início deste parágrafo. Na publicação, há um desenho feito nos anos 1950, pelo arqueólogo Italo Gismondi, mostrando como seria a propriedade (residência oficial do imperador) em sua totalidade. Se o leitor quiser fazer um passeio virtual, há, na internet, sites com uma recriação da “villa” em 3D.  


“TERNA FLUTUANTE”

Adriano e Antínoo
Sábio, sensível e culto. Assim, a escritora Marguerite Yourcenar descreve no livro 'Memórias de Adriano' a personalidade do imperador, que viveu a paixão pelo jovem Antínoo (foto: Wikipedia)
 

Na lojinha da entrada da vila, destaca-se a camisa branca, com a frase de autoria do imperador, que abre “Memórias de Adriano”: “Pequena alma terna flutuante, hóspede e companheira do meu corpo...” A obra-prima nasceu, conforme contou Marguerite Yourcenar ao jornalista francês Matthieu Galey (“De olhos abertos”, 1980), numa visita que fez à Villa Adriana, aos 20 anos.

“Foi o ponto de partida, a fagulha”, definiu a autora, certa de que, se tivesse escrito o livro na época, “teria visto sobretudo o artista, o amante da arte, o grande mecenas, o amante, sem dúvida; não teria visto o estadista”. Nas páginas, Marguerite Yourcenar narra a paixão de Adriano pelo jovem Antínoo, de quem há várias esculturas em museus europeus. Antínoo, “um jovem grego ou greco-asiático”, nas palavras da autora a Matthieu Galey nasceu na Bitínia, atual Turquia.


APOGEU E DECLÍNIO

Estudos mostram que o conjunto foi construído em duas ou três fases, durante 20 anos. Após a morte de Adriano (nascido na região onde hoje é a Espanha), seus sucessores continuaram a visitar Tivoli, embora o local tenha caído no esquecimento durante a Idade Média.

Já a partir do Renascimento, o local passou a ser frequentado por artistas. Mas nem tudo era interesse estético: com os olhos da ganância, muita gente chegou para levar esculturas e outros elementos a fim de vender ou enriquecer suas coleções. Felizmente, muitas das obras de arte se encontram em museus, a exemplo do existente no Vaticano (Itália).

Em 1870, o domínio ficou em posse do governo italiano, que conduziu escavações e restauros para revelar a grandeza e esplendor da Villa Adriana, com seus jardins, piscinas e ruínas.

COMO CHEGAR Para chegar à Villa Adriana, o viajante pode pegar um ônibus em direção a Tivoli, ficando atento à parada (do contrário, terá que caminhar 3 quilômetros). Outra opção está em procurar um receptivo turístico e agendar o passeio. Se o viajante tiver pouco tempo, vale conversar com um taxista em Roma: ida e volta, mais a espera, podem custar entre 150 e 200 euros (mas é bom acertar tudo direitinho, antes).


Companheira por 40 anos

Templo em Roma
Em Roma, não deixe de visitar o Templo Vibia Sabina e Adriano. A construção do edifício foi desejada pelo imperador, que pretendia dedicá-lo à sua esposa (foto: Gustavo Werneck/EM)


Na capital italiana, os viajantes podem conhecer mais sobre a história do imperador Adriano. A sede da Câmara de Comércio de Roma, na Piazza di Pietra, ocupa, desde 1874, o magnífico Templo de Vibia Sabina e Adriano (Hadrianeum), antes chamado apenas Templo de Adriano.  O objetivo da mudança de nome foi homenagear a imperatriz Vibia Sabina, que acompanhou Adriano por quase 40 anos.

Um dos destaques do grandioso espaço totalmente restaurado, com suas onze colunas na fachada principal – jóia arquitetônica de Roma – está na estátua, em mármore branco, de Vibia Sabina (nascida em Roma, em 86 d.C.). Ela tem a cabeça coberta por um véu, envolta por um manto e calça sandálias. A construção data de 145 d.C, sete anos, portanto, após a morte do imperador, e numa sala de projeção, o visitante assiste a um vídeo contando sobre a história de Adriano e da sua esposa, a imperatriz Vibia Sabina, e mostrando a importância do templo.


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