Mão

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Alexander Grey/Unsplash


Para muitos pais e familiares, aceitar a orientação de um filho ou parente ainda é uma tarefa árdua, seja por uma visão religiosa, frustração ou até mesmo por um certo medo de comentários alheios, atacando a pessoa ou questionando a falta de capacidade do familiar de ‘impedir’ que isso ocorresse.
 
Antes de se assumirem, pessoas LGBTQIA+ andam em uma interminável corda bamba: de um lado, a liberdade de viver a sua verdade, e, do outro, o medo da rejeição, especialmente caso ela venha daqueles que deveriam apoiá-los e amá-los incondicionalmente. Infelizmente, esse medo não é em vão, sendo potencializado quando aquele que está ‘saindo do armário’ é um jovem, já que é durante essa época que as mudanças hormonais mais intensas acontecem e as emoções chegam como um temporal difícil de ser controlado.
 
Cynthia Coelho, psicóloga clínica

Cynthia Coelho, psicóloga clínica

Jair Amaral/EM/D.A Press.
 
De acordo com uma pesquisa realizada em 65 países pela Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexo (ILGA) em 2016, 40% dos entrevistados alegaram que ficariam muito decepcionados caso um de seus filhos lhes dissesse estar apaixonado por alguém do mesmo sexo. Já quando se tratava de pessoas transgênero, 44,5% disseram que não aceitariam que seu filho se vestisse ou expressasse como o sexo oposto.
 
 
Em 2022, um levantamento realizado pelo Instituto Datafolha concluiu que a taxa de contrariedade à aceitação da homossexualidade aumenta conforme a idade: 7% (16 a 24 anos), 12% (25 a 34 anos), 15% (35 a 44 anos), 18% (45 a 59 anos) e 22% (60 anos ou mais).
 
Durante o processo de socialização, a família é a primeira referência de amor do ser humano, já que, em tese, os pais e familiares serão aqueles que o amarão desde o seu nascimento, garantindo que o indivíduo cresça de forma psiquicamente saudável, com equilíbrio emocional, boa autoestima e saúde mental.
 
 
Para Cynthia Coelho, psicóloga clínica com formação em sexologia e pós-graduação em psicologia médica, a rejeição de jovens LGBTQIA por parte da família pode desencadear problemas relacionados à saúde mental.
 
“Ao entender a importância do papel familiar, pode-se ter uma noção do quão prejudicial é a rejeição vinda desse núcleo. Nesses casos, a dor da pessoa que se assume LGBTQIA e é rechaçada pela própria família pode tornar-se insuportável, desencadeando quadros depressivos e/ou ansiosos. Sentimentos como inadequação, medo, insuficiência, raiva, desapontamento, menos valia, revolta e insegurança são comuns e doloridos para quem enfrenta o preconceito familiar”.
 
“Algumas pessoas chegam a mudar de cidade ou de país para não terem que lidar com o enfrentamento familiar. Outras, adoecem física ou psiquicamente em função da rejeição. O sentimento de medo e de desesperança são os mais comuns e reverberam em várias outras áreas da vida, pois aquele que se sente rejeitado ou criticado em seu lar, teme profundamente o mundo externo”, explica Cynthia.

SAÚDE MENTAL A psicóloga ressalta que a aceitação familiar é importante para uma vida mentalmente saudável e feliz. “Esse amor permite a segurança necessária para transitar nos diversos ambientes, com a consciência de seu lugar no mundo, enfrentando o preconceito e a homofobia com fortaleza e dignidade. Ser acolhido em casa significa ser respeitado em sua forma de existir e ao se sentir merecedor do respeito, este passa a ser o padrão exigido em todo lugar, garantindo boa qualidade de vida e condições de questionamentos e lutas em qualquer lugar onde ele falte.”
 
Aos pais que estão tendo dificuldade para compreender a sexualidade de seus filhos, a psicóloga recomenda o exercício do amor incondicional, incentiva que escutem seus filhos, façam perguntas, estudem sobre o tema, abram a mente e não se preocupem com o que os outros vão pensar.
“A orientação sexual de cada pessoa diz respeito apenas a ela própria. Entendam que não existe ‘opção sexual’ e sim ‘orientação sexual’, porque opção implica escolha. A consciência da identidade de gênero e da orientação é percebida ao longo da vida e ninguém escolhe ou define sua identificação do ponto de vista afetivo-sexual”, comenta.

* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie