Cássia Lopes e a filha Raquel

Cássia Lopes e a filha Raquel têm um ateliê de cerâmica há cinco anos e hoje ensinam quase 100 alunos, entre crianças, adultos e idosos

Leandro Couri/em/D.A Press

As peças mais remotas conhecidas por arqueólogos têm origem na antiga Tchecoslováquia e datam de 24.500 a.C. Outros registros importantes são encontrados no Japão, há cerca de 8 mil anos, e também no Brasil, na região da Floresta Amazônica, na mesma época. Na China e no Egito, o surgimento foi aproximadamente há 5 mil anos, sendo outras manifestações representativas entre os babilônios, os assírios e os persas. A capacidade da argila de ser moldada quando misturada com água e de endurecer após a queima permitiu que a cerâmica (do grego keramos, "argila") estivesse presente no mundo desde os primórdios da humanidade. 

Com o tempo, a técnica ganhou espaço, e tem diversas aplicações. Pode ser voltada para embelezar os ambientes ou como utilitários, por exemplo, mas um caminho menos óbvio é na direção da saúde e do bem-estar. Encarada de forma profissional ou como hobbie (cada vez mais pessoas participam de cursos de cerâmica de forma mais livre), a prática auxilia no tratamento de indivíduos que sofrem com depressão, ansiedade e síndrome do pânico. Por influenciar a mudança de pensamento e percepção, o praticante concentra-se na atividade e, em consequência disso, fica mais relaxado.
 
 
A capacidade de expressar-se e até mesmo o convívio social são outros fatores que decorrem da cerâmica e do artesanato, como um todo. Desenvolvimento físico e mental, percepção de detalhes, conexão interpessoal, aumento do foco, sensação de realização e melhora da coordenação motora são alguns dos benefícios para quem desbrava as rotas da cerâmica, que são cada vez mais diversificadas.
 
A artista plástica, arte-educadora e ceramista Carol Lamaita ministra aulas visando ensinar a outras pessoas o caminho para começar a produzir peças de cerâmica, o que pode ser um passatempo, uma terapia ou uma ferramenta de autoconhecimento. Ela mostra uma forma de acabar com o estresse do dia a dia, sem precisar de ferramentas caras e difíceis de encontrar.

Carol Lamaita, ceramista

Carol Lamaita, ceramista

arquivo pessoal

"A cerâmica não só me ajuda a criar um diálogo entre tudo aquilo que eu acredito e valorizo, como também me causa um sentimento muito forte de gratidão"

Carol Lamaita, ceramista


Diálogo

Entre os ensinamentos do curso, estão a organização do espaço da casa sem sujeira, quais materiais e ferramentas são necessários para começar, benefícios da prática artesanal e, por fim, a criação das primeiras peças. "A cerâmica não só me ajuda a criar um diálogo entre tudo aquilo que eu acredito e valorizo, como também me causa um sentimento muito forte de gratidão. Gratidão pelos materiais e pela natureza que me inspira. Gratidão pelas pessoas queridas que me motivam a buscar sempre a melhor versão de mim", diz.

Há 20 anos trabalhando com cerâmica, Carol Lamaita é reconhecida pelo desenvolvimento de práticas sustentáveis. Em sala de aula, orienta projetos de vida através da espiritualidade e orientação vocacional, além de ter formado centenas de ceramistas que transformaram a cerâmica em profissão. "Ao longo desses anos pude perceber como a argila pode transformar nossas vidas através da prática da cerâmica. Nós modelamos e barro, e o barro nos modela."

Cássia Lopes, de 58 anos, professora de educação física aposentada, e Raquel Lopes, de 24, estudante de medicina, mãe e filha mantêm um ateliê de cerâmica em Belo Horizonte há cinco anos. O trabalho com o Origem Ateliê também foi ampliado para aulas de cerâmica, modelagem e torno, que elas ministram há três anos. Na escola, são quase 100 alunos, entre crianças, adultos e idosos, em turmas para iniciantes. Na produção própria, elas fazem peças utilitárias - como xícara, prato, copo, vaso, centro de mesa, açucareiro, saleiro, travessa, jarra, moringa - e para decoração.

peças de cerâmica

peças de cerâmica

Leandro Couri/EM/D.A Press

Resposta 

O interesse inicial pela cerâmica se deu depois que Cássia se aposentou e procurou uma ocupação, ela que sempre foi habilidosa e encantada com artes manuais. A motivação foi a busca por algo a que pudesse se dedicar. “Depois que pus minha mão na argila, não parei mais. Foi um mergulho em mim mesma. Sentir a temperatura agradável do barro, descobrir as surpresas no processo. Às vezes, você começa a fazer, pensando em uma coisa, e o resultado é diferente, muda a resposta da argila. São coisas que nascem de dentro", conta. "Não somos nós que moldamos a argila, é a argila que nos molda."

As duas, dessa forma, começaram pequenas no universo da cerâmica, com alguns pedidos, e o caminho foi de expansão. Do pequeno ateliê de 20 metros quadrados no Centro da capital, se mudaram para um espaço maior na Avenida Brasil, no Bairro Santa Efigênia, Região Centro-Sul de BH. 

Para Raquel, mais do que preencher o dia, a cerâmica trouxe sentido para a vida. "A cerâmica ensina sobre paciência, resiliência, a tentar de novo até conseguir. Por ser um trabalho manual, obriga a parar e se concentrar, e isso diminui a ansiedade, principalmente considerando uma rotina tão acelerada", aponta.

A partir do contato com os participantes das aulas, a cerâmica permite ainda formar uma comunidade. Raquel se lembra que está cientificamente comprovado que estar entre outras pessoas melhora a qualidade e a expectativa de vida. "Somos uma família. Estamos em um ambiente acolhedor e terapêutico", diz.