Hoje (8/8), comemora-se o Dia Nacional da Pessoa com Atrofia Muscular Espinhal (AME). A data promove uma ampliação na divulgação de informações sobre o distúrbio, capacitação de profissionais da área e aumento da pressão para políticas públicas que melhorem a qualidade de vida de quem é diagnosticado. A doença, caracterizada pela perda das habilidades motoras, compromete a função muscular e os neurônios.
O Bem Viver entrevistou a nutricionista do Comitê Científico da Ong Amigos da AME, Jeniffer Danielle Machado Dutra, especialista em nutrição parenteral e enteral. A especialista abordou pontos importantes sobre o acompanhamento nutricional no caso da AME. Confira a entrevista completa:
Jeniffer, qual a importância e os principais benefícios em se ter o acompanhamento de uma nutricionista no caso da AME?
O cuidado na AME deve ser realizado de maneira interdisciplinar e a nutrição é um dos pilares. O acompanhamento nutricional é extremamente importante para os pacientes, uma vez que estes podem apresentar alterações metabólicas, distúrbios gastrointestinais e mudanças significativas de peso, tanto desnutrição quanto obesidade. O tratamento adequado auxilia na qualidade de vida dos pacientes, principalmente, considerando as novas terapias. O acompanhamento nutricional deve ser realizado pelo profissional que estude doenças neuromusculares e entenda as particularidades para que benefícios como: manutenção ou melhora do estado nutricional, reposição adequada de nutrientes e manejo das alterações gastrointestinais e metabólicas sejam alcançados.
Quais os principais problemas, relacionados à nutrição, associados à AME?
Os pacientes com AME podem apresentar alteração significativa do estado nutricional, englobando os extremos, baixo peso/desnutrição e excesso de peso/obesidade, situações que causam piora na qualidade de vida. Distúrbios gastrointestinais podem estar presentes como: constipação intestinal, atraso do esvaziamento gástrico, refluxo gastroesofágico. Todos eles impactam diretamente o estado nutricional dos pacientes, uma vez que, como exemplo, pode levar à redução da tolerância à dieta. Deve-se manter alerta, também, à saúde óssea e para a possíveis alterações metabólicas como do metabolismo lipídico.
Suplementar o cálcio e a vitamina D, nutrientes ligados diretamente à saúde dos ossos, também é uma das prioridades na dieta do paciente?
Os pacientes com AME podem apresentar alteração na saúde óssea e, com certeza, é um dos pontos que devem ser levados em consideração no tratamento. Suplementar cálcio e vitamina D é uma das estratégias, inclusive recomendada no consenso, porém é preciso destacar que existem outros nutrientes envolvidos na integridade óssea, como é o caso do magnésio. Vale destacar que o excesso de cálcio e vitamina D podem gerar agravos aos pacientes, por isso é importante que a prescrição seja feita por um profissional capacitado e que não ocorra autoprescrição.
Em quais casos são determinados a interrupção da alimentação oral?
Sempre ressalto que o acompanhamento na AME é interdisciplinar, assim, a interrupção da alimentação por via oral acontece por motivos diversos, como: pacientes em que a equipe de fonoaudiologia avalia e realiza o diagnóstico de disfagia com risco de broncoaspiração. Ou até mesmo, alguma intercorrência no trato gastrointestinal como vômitos incoercíveis.
Como funciona a dieta quando se determina o uso de sondas?
Quando um paciente de AME utiliza nutrição enteral (uso de sonda para levar a dieta líquida diretamente para o estômago ou intestino ), geralmente, estes estão com gastrostomia (métodos para fornecer dieta ao paciente e garantir suporte nutricional adequado), porém alguns pacientes utilizam sonda nasoenteral (passagem da sonda pelas fossas nasais), quando o tempo de uso é limitado e/ou quando estão aguardando a realização das gastrostomia. Os pacientes podem receber fórmulas industrializadas e podem, também, mesclar com dieta caseira. Importante destacar que em ambas situações a orientação deve ser realizada pelo profissional nutricionista, principalmente quando a dieta caseira é uma possibilidade. O tratamento nutricional na AME é sempre individualizado, por isso a presença do profissional criará condições de guiar a forma adequada do manejo na nutrição como dietas, forma de administração e conservação das dietas.
Para pacientes que se alimentam via-oral, quais cuidados são necessários?
Os cuidados nutricionais na AME são amplos e individuais, mas cabe destacar que ter alimentação variada, proporcionando nutrientes diversificados é importante. Verificar, junto a equipe de fonoaudiologia, a consistência ideal e segura para o paciente, mantendo sempre a discussão sobre a evolução das consistências. Verificar a necessidade da introdução de suplemento alimentar e não esquecer do posicionamento para realização das refeições, durante e após. Vale destacar que devemos ter atenção para a hidratação dos pacientes com AME, principalmente, dos pacientes com via oral exclusiva, pois muitas vezes pode haver baixa aceitação de água.
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Em pacientes diagnosticados com AME, há algum alimento considerado “vilão”?
Não há um alimento vilão para os pacientes com AME, gosto de falar que a alimentação deve ser considerada em sua totalidade de oferta. Mas, como cada paciente é único, particularidade, sensibilidade, intolerância e alergia alimentar podem existir.
Porque se deve evitar o jejum nos casos de pacientes com AME?
Pacientes neuromusculares, como a AME, possuem redução de massa muscular, assim não toleram bem períodos longos em jejum, destacando as crianças com AME.
* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie.
* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie.
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