mulher aplicando insulina no braço

Pelo estudo, o número de picadas diárias de insulina poderá passar de 365 aplicações ao ano para apenas 52

Christel Oerum/Pixabay


Um estudo inédito - apresentado no último dia 26 de junho, no 83º Congresso da Associação Americana de Diabetes (ADA) e publicado na revista científica JAMA - comprovou que é possível melhorar a qualidade de vida de pacientes com diabetes. A pesquisa identificou que o uso de insulina semanal é eficaz, se comparada a insulina de dose diária, e pode reduzir em 85,7% o número de picadas diárias de insulina, passando de 365 aplicações ao ano para apenas 52.

Pesquisadores de diferentes países avaliaram a eficácia da insulina icodec em adultos com diabetes tipo 2, sem tratamento prévio com insulina. Essa insulina, também chamada de icodeca, é injetada uma vez por semana com uma caneta, e a exemplo das demais, e depois de ser absorvida, liga-se a proteínas no sangue que permitem uma liberação gradual ao longo de sete dias. Ela foi comparada com a melhor insulina diária disponível no mercado, a degludeca.
 
Ao todo, foram avaliados - entre março de 2021 e junho de 2022 - 588 pacientes, em 92 locais e 11 países, neste estudo randomizado chamado Onwards 3.

Alternativa para dosagem mais simples

"Os resultados apontaram a eficácia do tratamento com icodec uma vez por semana, demonstrando que o medicamento semanal pode fornecer uma alternativa de dosagem mais simples à insulina basal diária em pessoas com diabetes tipo 2", afirma o médico endocrinologista André Vianna, único co-autor brasileiro no estudo.
 
Depois da conclusão dos estudos de fase 3, o medicamento é submentido às agências reguladoras americana, europeia e, no Brasil, para Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Sendo aprovado, o medicamento já poderá ser comercializado.

Principais resultados e medidas

O desfecho primário foi a alteração no nível médio de hemoglobina glicada (HbA1c) que reduziu de 8,6% para 7,0% , em pacientes que utilizaram o icodec. Já no grupo que utilizou a insulina diária, hemoglobina glicada caiu de 8,5% para 7,2%.

Leia também: Pesquisa relaciona diabetes tipo 2 a doenças cardiovasculares.

Entre as pessoas com diabetes tipo 2, a icodec uma vez por semana demonstrou redução superior da HbA1c à degludeca uma vez ao dia após 26 semanas de tratamento.

Sobre o diabetes tipo 2

O diabetes tipo 2 (DM2)é caracterizado pelo excesso de açúcar no sangue. O diabetes é uma doença metabólica silenciosa e, "caso não seja diagnosticado no início, pode causar complicações como perda da visão, insuficiência renal, problemas cardiovasculares e neurológicos e até mesmo levar o paciente à morte", explica André Vianna.

O diabetes tipo 2 não apresenta sintomas na maioria das vezes. Porém, se a glicemia estiver extremamente alta os sintomas são parecidos com o tipo 1, como sede e fome excessiva, e vontade frequente de urinar.

O mais comum é a pessoa com DM2 começar a perceber os sinais quando o diabetes está em um estágio avançado, apresentando danos e complicações nos olhos, nervos, rins, coração, entre outros.
Como o diabetes tipo 2 surge, na maioria dos casos, como uma consequência do excesso de peso ou obesidade, o foco do tratamento é a perda de peso.

O paciente deve ser avaliado e acompanhado por um médico endocrinologista para avaliação individual.

O tratamento

Em linhas gerais, o tratamento consiste no uso de medicamentos injetáveis e/ou orais que proporcionam um melhor controle do diabetes por meio da redução de peso.

Dessa forma é possível evitar ou diminuir futuras complicações, como doença renal, retinopatia diabética, neuropatia diabética, doença arterial coronariana, acidente vascular cerebral e problemas nos pés (feridas que não cicatrizam que podem levar a amputação).
No Brasil, 17 milhões de pessoas adultas já foram diagnosticadas com a doença, o que faz o país ocupar a 5ª posição em incidência no mundo. Os dados comparativos foram levantados pelo Ministério da Saúde, que instituiu com a Organização Mundial da Saúde (OMS) 26 de junho como o Dia Nacional do Diabetes.

Entre os diversos fatores de risco estão histórico familiar, idade e obesidade. Esta última, dependendo do grau, pode também aumentar a probabilidade do surgimento de diversas doenças.