Mulher usa máscara e coronavírus

A preocupação dos especialistas é o surgimento de outras doenças de alcance mundial nos próximos anos

Pixabay/reprodução
A pandemia da COVID-19 não é mais uma emergência sanitária de alcance internacional, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Nesta sexta-feira (6/5), a entidade anunciou a suspensão do nível máximo de alerta sobre a pandemia, que causou mais de 20 milhões de mortes. 

 

A medida foi tomada pelo fato de a OMS considerar que a doença está suficientemente controlada. "Com grande esperança, declaro que a COVID-19 já não é mais uma emergência sanitária de alcance internacional", declarou o presidente da entidade, Tedros Adhanom.


No Brasil, desde maio do ano passado, diante dos avanços na imunização e menor índice de mortes, infectados e hospitalizados, a COVID-19 já não era mais considerada emergência em saúde pública.

Alerta de baixa cobertura vacinal

 
A infectologista Luana Araújo destaca que, neste momento, houve uma redução importante no número de casos. Porém, a baixa cobertura vacinal é motivo de preocupação. 

“Temos uma cobertura vacinal interessante, mas ainda está longe de ser aquela que gostaríamos que acontecesse, principalmente nos públicos mais vulneráveis - idosos, crianças e gestantes. É uma cobertura que já nos deu uma segurança que é visível para todo mundo. Hoje, conseguimos ter uma qualidade de vida muito diferente nesta fase da pandemia porque conseguimos alcançar algum sucesso nessa circunstância.”

A especialista ressalta que, para manter e avançar para uma proteção ainda maior, é preciso que a vacinação continue acontecendo. 


“Para melhorar a cobertura vacinal, precisamos de uma comunicação mais assertiva. Entender que ela vai além da tradicional, a qual estávamos acostumados e que era utilizada pelo Programa Nacional de Imunização. É preciso usar técnicas mais ofensivas e de maior massificação, com informações claras e transparentes sobre vacina e vacinação”, afirma.

A infectologista alerta para novas pandemias que possam surgir nos próximos anos. “Temos que entender que, da maneira como está hoje, há uma janela clara de nova ocorrência de uma emergência semelhante em dez anos. Isso acontece porque lidamos com a saúde planetária de um jeito deletério: aquecimento climático descontrolado, que leva a um desequilíbrio de fauna e flora.”

Segundo ela, isso expõe animais diferentes, e humanos, a microrganismos contra os quais não têm proteção e imunidade. “O que nos deixa mais vulneráveis e permite que os microrganismos evoluam de uma maneira crítica. Se não mudarmos a forma de condução da saúde única - interligando homens e animais -, vamos continuar nos colocando em situações de vulnerabilidade, que vão pressupor a ocorrência dessas crises sanitárias.”

A infectologista reforça que é preciso aprender com os erros cometidos durante a pandemia. “Entender que equidade tem que ser um pilar. Todo mundo precisa ter acesso a tudo. Se não oferecermos acesso e proteção a todo mundo, ninguém estará a salvo. Não adianta oferecer só a países ricos.” 


Situação complexa 


O epidemiologista Geraldo Cunha Cury diz que, apesar do informe da OMS, o Brasil vive uma situação complexa. 

“Temos que lembrar que não existe só a COVID, mas também H1N1, gripe. O que tem nos preocupado muito é que as pessoas não estão usando mais máscaras nos hospitais, unidades básicas de atendimento. É uma situação complicada.”

Cury lembra que a medida mais importante, neste momento, é a população se imunizar com a vacina bivalente da COVID, disponível para maiores de 18 anos nos postos de saúde de BH.
 
“É o melhor dos mecanismos; mesmo que surjam outras variantes, já evitamos casos graves da doença. Temos visto pessoas morrendo de COVID. É preciso tomar cuidado. Pessoas gripadas que vão aos centros de saúde deveriam usar máscara. A situação mundial melhorou, no Brasil também, mas o Sars-Cov-2 ainda está aí. Não desapareceu.”

Segundo ele, principalmente pessoas pertencentes aos grupos de risco deveriam continuar tomando medidas de proteção, sendo a mais importante delas a vacinação. 

“Mesmo não sendo a COVID, pode surgir uma outra doença (de alcance mundial). Vamos viver momentos, espero que não tão graves quanto da COVID, mas de forma mais ou menos permanente. É uma preocupação permanente. A medida essencial é a vacina e o desenvolvimento de novas vacinas. Surgem novas variantes, vamos ter uma vacinação, certamente, anual, semelhante ao que acontece com a gripe.”

Outra medida destacada pelo epidemiologista é a vigilância, essencial para ajudar a detectar o aparecimento de novas doenças. “O acompanhamento da Vigilância Sanitária e Epidemiológica para casos novos que surjam também é sempre feito. Temos o SUS como exemplo mundial disso. O Sistema Único de Saúde brasileiro é exemplar na vigilância sanitária e epidemiológica. Ainda tem muito o que melhorar, mas já é muito importante para a população brasileira.”