Tulku Lobsang Rinpoche

Tulku Lobsang Rinpoche viaja pelo Ocidente há 22 anos

Arquivo pessoal

Na próxima quarta-feira (3), chega a Belo Horizonte, para uma série de encontros, palestras, consultas e retiro, o mestre tibetano Tulku Lobsang Rinpoche, do Budismo Tantrayana. Há 22 anos, ele viaja por países ocidentais ensinando várias técnicas tibetanas de yoga e meditação.

Essas práticas têm origem no budismo tântrico - corrente que dá ênfase à felicidade do corpo como forma de libertação. Além de ensinar, ele forma professores por todo o mundo. No Brasil, já são quase 30. 

De 3 a 13 de maio, Tulku Lobsang vai participar de várias atividades - a maioria na Região Centro-Sul de BH. Na abertura, no Teatro do Instituto Padre Machado (Avenida do Contorno, 6475 - Santo Antônio), ele fará a palestra "Cura interior - descobrindo a nossa própria fonte de cura", das 19h30 às 21h. 
 
 
Nos dias 4, 8 e 9 ele atenderá no formato de consultas individuais e, no dia 10, haverá o workshop "Os cinco elementos de Lu Jong e Kum Nye - ensinamentos e práticas", no Hotel Radisson Blu Savassi (Rua Lavras, 150 - São Pedro). Nos dias 11 e 12, será a vez do "Retiro Guru Yoga - dissolvendo o ego através do amor puro e da devoção", no mesmo local. No dia 13, haverá o workshop "Introdução ao Tog Chöd - a espada da sabedoria", no Instituto Padre Machado novamente. 

Em entrevista ao jornal Estado de Minas, o mestre tibetano explica o Budismo Tantrayana e fala sobre sua visita ao Brasil. 

Em que se baseia o Budismo Tantrayana?
 
Geralmente, o budismo significa três coisas: fundamento ou base, caminho e resultado. A base do budismo é a natureza, o caminho é a mente e o corpo é o veículo. O resultado é harmonia - mente e corpo estão em harmonia com a natureza. O budismo sutrayana é chamado de budismo do veículo mental, e o budismo tantrayana é o budismo do veículo do corpo. Claro que tanto o Sutrayana quanto o Tantraya, ambos, usam corpo e mente como veículo para alcançar a harmonia com nossa verdadeira natureza. Mas o Sutra usa principalmente a mente, e o Tantrayana usa principalmente o corpo como veículo para alcançar a harmonia ou para descobrir nossa verdadeira natureza. O Tantra usa tanto a mente quanto o corpo, mas o corpo é o principal veículo para transformar a nós mesmos. Claro, se mudarmos a mente, o corpo também muda, e se mudarmos o corpo, a mente também muda. Mas nossa mente é como um adulto, não é tão fácil de mudar, tem uma personalidade forte ou um caráter forte. Já o nosso corpo é como uma criança, é mais fácil mudar ou transformar. Quando seu corpo muda ou se transforma, sua mente segue automaticamente. Portanto, mente e corpo são o caminho. Não há outro caminho além de nós mesmos, nós somos o caminho. O objetivo é estar em completa harmonia ou união com a nossa natureza.
 
O budismo tântrico é conhecido por enfatizar a bem-aventurança do corpo como um caminho para a libertação. O que significa essa bem-aventurança do corpo? Como alcançá-lo?
 
O que nós, seres humanos, sentimos em nosso corpo, é chamado de bem-aventurança, felicidade ou dor. O sentimento positivo é chamado de felicidade, o negativo é chamado de dor. Em um nível mental, podemos ser felizes ou sofrer. Portanto, fazemos uma distinção entre bem-aventurança e felicidade, e entre sofrimento e dor. Sentimos dor principalmente em nosso corpo, e sofrimento em nossa mente. A bem-aventurança experimentamos principalmente em nosso corpo e a felicidade em nossa mente. Para ser feliz neste momento, precisamos de um motivo. Somos felizes por um motivo e sofremos por um motivo. Os seres humanos são a única espécie que pode dar uma razão. Nenhuma outra espécie pode dar a si mesma uma razão para sofrer ou uma razão para ser feliz. É a razão que nos faz felizes. Portanto, felicidade e sofrimento são coisas mais humanas. Os animais não têm tanta felicidade e sofrimento. Claro, eles têm alguns, mas não como nós. Porque os animais não podem dar razões. Razão significa: por isso sou feliz, por isso não sou feliz. Para sentir bem-aventurança, não precisamos de um motivo, uma razão, mas da condição certa. Por exemplo, se você colocar chocolate na boca, sentirá êxtase. E se tocar o fogo, sentirá dor. Portanto, existem dois tipos de amor. O amor do corpo que é o que chamamos de bem-aventurança, e o amor da mente que é chamado de felicidade. Através da prática tântrica, através da prática de Tummo - o fogo interior, através dos exercícios, do trabalho respiratório e do foco, você reduz a dor do corpo e aumenta a felicidade do corpo. Quando seu corpo sente felicidade plena, sua mente começa a ficar calma. Quando sua mente fica calma, é claro que ela também começa a ficar feliz. O objetivo é a bem-aventurança no corpo - então a mente fica calma. E isso significa que corpo e mente se tornam totalmente funcionais. A maior parte do nosso sofrimento está ligada ao corpo e à mente. Nosso corpo precisa de tantas coisas, nossa mente quer tantas coisas. Mas, quando você aumenta a bem-aventurança do corpo, você precisa de menos. Se você aumenta a calma da mente, você quer menos. E isso nos faz sentir mais livres e felizes.
 
Tulku Lobsang

Tulku Lobsang Rinpoche na Master Class de certificação anual de novos professores do Yoga Tibetano Lu Jong, na Alemanha

Arquivo pessoal
 
 
Em vários momentos da humanidade, ouvimos gurus espirituais dizerem que a sociedade está doente, principalmente no Ocidente. Você concorda com isso?
 
No Ocidente, estamos muito focados no conhecimento. Claro, este século 21 é um século iluminado, o que significa um século de educação. Todos têm, especialmente no mundo ocidental, igual acesso à educação - todos têm educação. Claro, a educação traz algum conhecimento e é bom ter conhecimento. É claro que o conhecimento traz muitos benefícios, mas por causa do conhecimento também começamos a perder nossa consciência. O conhecimento traz algum tipo de consciência, mas principalmente consciência discriminativa. Portanto, eu penso que no ocidente é claro que o conhecimento traz uma sociedade melhor ou uma pessoa melhor. Mas ao mesmo tempo as pessoas estão sofrendo muito por causa do conhecimento. Portanto, o que eu digo, é que o conhecimento não é suficiente. O conhecimento sozinho não nos dá a resposta. Portanto, precisamos de mais consciência. Consciência. Consciência. Por causa do conhecimento, às vezes seguimos tanto o passado, pensamos tanto no futuro e permanecemos muito pouco no momento presente. O conhecimento nos beneficiou por muitas décadas. Mas agora o conhecimento, eu penso, começa a nos deixar doentes. Nosso conhecimento não é mais saudável. Nesse sentido, você pode dizer que estamos doentes no mundo ocidental. Doentes com o que sabemos. O conhecimento nunca é puro; precisamos de mais consciência. E para termos consciência precisamos meditar.

Qual é o objetivo de sua visita ao Brasil? E quais países você visitou?
 
Eu visitei muitos, muitos países, principalmente países europeus, às Américas, Canadá, realmente muitos países. Cerca de dez anos atrás, eu viajava muito. Mas nos últimos anos viajei principalmente pela Europa e Ásia. Não tão longe. Mas o Brasil para mim é um pouco especial, um pouco único. Desta vez não tenho muito tempo para ficar. A viagem é bastante longa para ficar tão pouco tempo. Mas tenho alguns alunos no Brasil e geralmente, os brasileiros são tão dedicados, incrivelmente dedicados. Eles também vêm para a Europa para alguns dos meus ensinamentos. Sua devoção, seu compromisso com a prática me motivam a viajar para o Brasil. Nos últimos anos, só fiquei na Europa e na Ásia, não viajei tanto. Mas por causa da dedicação e devoção, decidi viajar para o Brasil e compartilhar um pouco da minha sabedoria. Talvez isso lhes traga algum benefício.
 
Informações sobre a visita do mestre tibetano a BH podem ser obtidas pelo site: https://tulkulobsangbrasil.org/