ozempic

Ozempic contém semaglutida, que imita um hormônio chamado peptídeo-1 semelhante ao glucagon

JOEL SAGET/AFP
O ozempic ganha destaque novamente. O remédio que contém o princípio ativo semaglutida e é indicado, em conjunto com dieta e exercícios, para tratar pacientes adultos com diabetes tipo 2 não satisfatoriamente controlada (nível de açúcar no sangue permanece muito alto), teve mais relatos de efeitos colaterais. Em matéria de Dani Blum, do The New York Times, Renata Lavach-Savy, 37, escritora médica em North Bergen, N.J., ficou sem apetite e teve de colocar um alarme para se lembrar de comer. Constatou também cansaço, mesmo depois de 10 horas de sono, além de enjôo. E quatro meses depois de uso do medicamento, a nutricionista de Lavach-Savy disse a ela que ela poderia estar desnutrida.

A cada dia surgem relatos de consumidores com efeitos colaterais. Na bula do medicamento, há alertas sobre os efeitos colaterais. Entre eles, destaque para dor abdominal grave e contínua que pode ser em razão da pancreatite aguda, orientando para procurar um médico imediatamente; e efeitos no sistema digestivo, com apresentação de enjoo (náusea) ou vômito e diarreia, que pode causar desidratação (perda de líquidos) e, portanto, é importante beber muito líquido, especialmente, se tem problema nos rins. 
 
Lavach-Savy conta que ficou chocada: "Como posso estar desnutrido? Estou com mais de 90 quilos". Seu médico originalmente recomendou ozempic porque Lavach-Savy tinha síndrome dos ovários policísticos. As injeções semanais causavam náuseas constantes e leves e enjoo. Ela perdeu toda a vontade de comer. Ela parou de tomar ozempic no outono passado. 

Casos raros

Casos graves como o de Lavach-Savy são raros, dizem os especialistas. Andrew Kraftson, professor clínico associado na divisão de metabolismo, endocrinologia e diabetes da Michigan Medicine, disse que algumas pessoas que tomam Ozempic podem perder o apetite e chegar à desnutrição. Por isso a importância de ter orientação médica. "Você não pode comer o que lhe apetecer ou o que quiser, você tem que comer o que seu corpo aceita", relatou Lavach-Savy ao lembrar como era ao tomar remédios.

Ozempic funciona, em parte, bloqueando os sinais de fome do cérebro, suprimindo o apetite. E também faz com que o estômago esvazie mais lentamente, dando sacieadde. Quando as pessoas estão tomando o remédio, os médicos precisam monitorá-las de perto com checapes regulares, enfatiza Kraftson. Ele recomenda uma ingestão calórica diária – normalmente entre 1.000 e 1.500 calorias, individualizada com base no peso inicial de uma pessoa e no metabolismo estimado.

Ainda não foram estabelecidas diretrizes nutricionais padrão para pacientes que tomam Ozempic ou outros medicamentos que funcionam de maneira semelhante, como wegovy e mounjaro. Os médicos dão recomendações dietéticas semelhantes a pessoas que tomam medicamentos como Ozempic e outros pacientes que estão tentando perder peso ou têm diabetes, explicou Robert Gabbay, diretor científico e médico da American Diabetes Association.

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Isso significa seguir uma dieta rica em frutas, vegetais e fibras, como a dieta mediterrânea, de acordo com Janice Jin Hwang, chefe da divisão de endocrinologia e metabolismo da Escola de Medicina da Universidade da Carolina do Norte. Evitar alimentos com alto teor de gordura também é fundamental, porque eles podem fazer com que as pessoas que tomam Ozempic se sintam desconfortáveis, até dolorosamente cheias, acrescentou Gabbay. Ele indica que as pessoas comam devagar e façam uma pausa no meio da refeição, avaliando o quanto estão realmente satisfeitas.

As pessoas que tomam Ozempic tendem a perder peso porque consomem menos calorias, não porque a droga em si magicamente queima gordura, explicou Gabbay. Se os pacientes não se encontrarem regularmente com seus médicos para garantir que estão recebendo nutrição adequada, esses medicamentos podem levar a (ou exacerbar) distúrbios alimentares, relatou Kraftson.

Enquanto os cientistas ainda estão tentando entender como o Ozempic afeta o cérebro, um efeito colateral conhecido é que os desejos das pessoas podem mudar. Ozempic contém semaglutida, que imita um hormônio chamado peptídeo-1 semelhante ao glucagon; quando as pessoas tomam a droga, níveis mais altos desse hormônio inundam os receptores do cérebro que regulam os comportamentos alimentares, mudando a forma como os neurônios transmitem sinais para o resto do corpo, de acordo com Hwang.

Assim como algumas pessoas perdem o interesse por alimentos antes amados após a cirurgia bariátrica, aqueles que tomam Ozempic geralmente descobrem que não desejam mais alimentos ricos em gordura e açúcar – tanto porque seu apetite diminui em geral quanto potencialmente por causa dessas mudanças neurais.