caixa branca do remédio ozempic

Remédio é febre entre famosos de Hollywood e foi autorizado pela Anvisa, em janeiro, para uso contra sobrepeso

Joel Saget/AFP


A Novo Nordisk, empresa global de saúde dedicada a impulsionar mudanças para derrotar o diabetes e outras doenças crônicas graves, como obesidade, enfermidades raras do sangue e endocrinológicas, obteve aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso do Wegovy (semaglutida 2,4mg) para o tratamento do sobrepeso (com comorbidades) e obesidade no Brasil, desde janeiro, sendo o primeiro e único medicamento semanal injetável autorizado para esse fim no país. A injeção, que deve ser aplicada de sete em sete dias, promove uma redução média de 17% do peso corporal nos pacientes.


Usado no tratamento de diabetes tipo 2,  o Ozempic virou febre mundial entre pessoas que buscam perder peso de forma rápida, já que contribui para a diminuição do apetite. A explosão na demanda pode ter resultado na escassez do remédio nas farmácias. Assim, muitos pacientes que realmente precisam do medicamento têm enfrentado dificuldades para encontrá-lo.

 

Sobre a falta de medicamento, em nota, a Novo Nordisk, informa que "tomou conhecimento de uma potencial falta da apresentação 1mg de Ozempic® FlexTouch® no Brasil durante o primeiro trimestre de 2023, resultado de uma demanda muito maior do que a prevista. Cabe ressaltar que não há problemas de qualidade ou regulatórios com o medicamento". 


  

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A nota da fabricante destaca que "a empresa notificou a autoridade sanitária brasileira sobre as restrições de fornecimento do produto, conforme estabelecido nas legislações vigentes. Durante esse período, os pacientes com diabetes tipo 2 afetados têm a opção de mudar o tratamento para outros medicamentos da mesma classe (análogos de GLP-1). Para isso, eles devem consultar o seu médico e seguir estritamente as suas orientações".

O reabastecimento

De acordo com a Novo Nordisk, "o reabastecimento de distribuidores, atacadistas e farmácias no país deve ser normalizado durante o segundo trimestre de 2023. A Novo Nordisk está investindo intensa e continuamente para resolver a situação e aumentar significativamente a produção anual de Ozempic. Entendemos e lamentamos a preocupação e possíveis transtornos que essa indisponibilidade temporária poderá causar em pacientes com diabetes 2, seus familiares e cuidadores. Encaramos a situação de maneira extremamente séria e estamos trabalhando incansavelmente para superarmos esses desafios temporários".


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Uso para outras finalidades

Na nota, a empresa destaca ainda que "não é possível rastrear a finalidade de uso do produto pelo paciente. Entretanto, salientamos que Ozempic é indicado para o tratamento de adultos com diabetes tipo 2 insuficientemente controlado, como coadjuvante da dieta e do exercício, como monoterapia. A Novo Nordisk adere a altos padrões éticos, bem como a todas as regulamentações e não promove nem incentiva nenhuma promoção off-label de seus produtos (em desacordo com as informações descritas na bula do medicamento). Como um fornecedor responsável, só podemos recomendar o uso de nossos medicamentos em suas indicações aprovadas e de acordo com a prescrição médica".  

Indicado com prescrição médica

A médica Thais Mussi, endocrinologista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), alerta que o uso do medicamento nunca deve ser feito sem indicação e acompanhamento médico: "É importante frisar que existem pessoas alérgicas à semaglutida e outras substâncias contidas no Ozempic. Sendo assim, como todo medicamento, é preciso atenção antes de indicar ou ingerir". 


Em relação aos efeitos colaterais, Thais Mussi destaca algumas questões digestivas: "Cerca de uma em cada 10 pessoas apresenta problemas como diarreia, vômitos e enjoos, mas com uma duração bem curta". 

 

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A endocrinologista alerta que "esse medicamento não é indicado, realmente, para pessoas com diabetes tipo 1 e pessoas com cetoacidose diabética - que é uma complicação aguda da diabetes mellitus tipo 1". Ela chama à atenção, também, os pacientes que apresentem histórico familiar de um tipo de câncer chamado carcinoma medular de tireoide (CMT) ou da síndrome de neoplasia endócrina múltipla tipo 2 (NEM2): "Nesses casos, é importantíssimo entender com o seu médico se o Ozempic pode ser usado", alerta.


Outra questão frisada pela endocrinologista é a necessidade de deixar bastante claro que o Ozempic não é insulina. Ou seja, essa medicação nunca deve ser usada como um substituto dessa substância no tratamento de diabetes.

Queda de cabelo  

Com o uso para outras finalidades que não médicas e clínicas, apareceram relatos nas redes sociais sobre o medicamento causar, como efeito colateral, a queda de cabelos.


Porém, o médico Marcos Kawasaki, especialista e sócio fundador da Novo Fio, rede de tratamento e transplante capilar, garante que a utilização do Ozempic, por si só, não causa perda capilar. O problema, explica, está nas dietas que costumam acompanhar os tratamentos, associadas à própria redução no apetite decorrente do uso da substância.


“Muitas vezes, a pessoa utiliza o remédio sem um acompanhamento médico e dietético e ainda faz uma dieta para potencializar o emagrecimento. Essas ações fazem com que o corpo receba menos proteínas, sais minerais e vitaminas indispensáveis para o crescimento do cabelo de uma forma saudável e contínua. Assim, o cabelo fica mais quebradiço e cai com maior facilidade", avisa o médico.


Junto a isso, destaca Marcos Kawasaki, os usuários utilizam a semaglutida da mesma forma e nas mesmas doses que amigos ou influenciadores das redes sociais, sem saber se de fato a substância é recomendada para seus casos específicos: "Não podemos dizer que Ozempic sozinho é responsável pela queda de cabelo. Mas o indivíduo que se alimenta de forma deficiente começa a produzir menos proteínas de ancoragem, proteínas que estão dentro dos folículos e ancoram os fios. Ou seja, o fio fica mais fácil de ser destacado, e a haste capilar que está sendo produzida fica também mais quebradiça.”


Recentemente, até mesmo o bilionário Elon Musk afirmou ter aderido ao uso de Ozempic. O CEO do Twitter garante ter emagrecido mais de 16 quilos. No TikTok, a modelo plus size e estrela da rede social Chelsea Handler também se mostrou adepta de medicamentos à base de semaglutida.


O assunto está tão em alta que, durante a cerimônia do Oscar, o comediante e apresentador Jimmy Kimmel provocou gargalhadas ao fazer piada com a febre do uso do Ozempic e outros remédios para emagrecer por astros de Hollywood. "Todo mundo parece tão bonito”, disse Kimmel. “Quando olho em volta desta sala, não posso deixar de me perguntar: ‘Ozempic é certo para mim'?’”


Como a fórmula pode ser adquirida sem receita, isso tem potencializado o boom do medicamento. Números do Mapa da Obesidade, elaborado pela Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), indicam um aumento de 72% dos casos nos últimos 13 anos no Brasil, o que contribui para que cada vez mais pessoas interessadas em emagrecer apostem em receitas e remédios sem acompanhamento médico e nutricional. Um risco para a saúde.