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A nutrição à base de vegetais, que também tem como foco a sustentabilidade, é uma direção que não sairá de moda tão cedo

Marcelo Lelis/Arte EM/D.A Press


A alimentação é muito mais do que uma forma de o organismo obter nutrientes necessários para a sobrevivência. Falar em uma boa alimentação é falar em harmonia. Comer bem é estar emocionalmente bem, com disposição para uma vida ativa. O corpo bem nutrido encontra uma mente sã. Uma dieta adequada não apenas contribui para a ausência de doenças, mas leva a um estado de completo bem-estar físico, psíquico e social. A maioria das pessoas reconhece o papel que a nutrição equilibrada desempenha em melhorar a saúde, por isso essa deveria ser uma prioridade na lista de resoluções para o ano que se inicia. Algumas tendências nutricionais podem incentivar a tomar esse caminho.
 
A nutrição à base de vegetais, que também tem como foco a sustentabilidade e o desperdício de alimentos, é uma direção que não sairá de moda tão cedo, indica a mestre em ciência e nutrição dos alimentos pela Universidade Estadual do Colorado, Susan Bowerman, diretora sênior global de Educação e Treinamento em Nutrição da Herbalife Nutrition. Segundo a especialista, as dietas veganas, vegetarianas e flexitarianas estão atraindo cada vez mais pessoas que reconhecem seus benefícios não apenas para o corpo, mas também para o planeta.
 
 
"Os alimentos vegetais possuem alta densidade nutricional, o que significa que fornecem muitos nutrientes com poucas calorias. Frutas, vegetais, feijões e grãos integrais são ótimas fontes de vitaminas, minerais e fitonutrientes, e naturalmente isentos de colesterol. A maioria também aporta uma boa quantidade de fibras, contribuindo para a saúde intestinal, para a imunidade e para reduzir a inflamação", salienta.
 
Susan lembra que os consumidores também estão incluindo mais vegetais no cardápio pela preocupação com o meio ambiente. Isso porque análises, como uma que foi realizada na Universidade de Oxford, mostram que comer carne produz duas vezes mais emissões de gases de efeito estufa por dia do que uma dieta plant-based.
 
 
RECURSOS NATURAIS "Outros estudos mostram ainda que o cultivo de vegetais utiliza menos recursos naturais e é menos prejudicial para o meio ambiente do que a criação de animais. Se essa tendência de consumo continuar, haverá um impacto significativo na redução do desmatamento, na degradação do solo e nas emissões de gases de efeito estufa, que estão associados à produção de carne", aponta a profissional.
 
A nutrição personalizada, que alia alimentação e estilo de vida, bem como o uso de biomarcadores individuais para elaborar sugestões de cardápios saudáveis e mais relevantes para o indivíduo, é mais uma tendência que continua ganhando popularidade. O mercado global de nutrição personalizada, cita Susan, avaliado em US$ 14,6 milhões em 2021, deve chegar a US$ 37,2 milhões até 2030, quase o triplo do tamanho, segundo levantamento da Research and Markets.
 
De acordo com a especialista, esse fenômeno é particularmente forte entre os millennials (49%) e a geração Z (37%), que expressaram forte preferência por produtos, serviços ou aplicativos que utilizam dados pessoais para personalizar a experiência do consumidor. "Vários fatores determinam como a dieta de uma pessoa pode ser personalizada: o quanto você se exercita, o que e o quanto você come, bem como sua idade. E agora também somos capazes de determinar respostas individuais a certos componentes da dieta e essas informações podem ser usadas para uma abordagem mais personalizada", esclarece.

FUNCIONAIS Outro direcionamento é o crescimento da demanda por produtos e alimentos que visam múltiplas dimensões do bem-estar, aponta Susan. É o caso dos alimentos funcionais, que oferecem benefícios além de seu valor nutricional. Frutas, vegetais, nozes, sementes e grãos integrais ricos em nutrientes são considerados alimentos funcionais, mas também entram aqueles enriquecidos com nutrientes (vitaminas, minerais, fitonutrientes, probióticos ou fibras) e os que propõem benefícios para a saúde física e mental, como chás de ervas, que aliam o sabor a efeitos calmantes, e que promovem um sono melhor, por exemplo. "O colágeno, que é outro ingrediente popular conhecido por apoiar a saúde dos ossos e ajudar na aparência do cabelo, pele e unhas, está entrando na composição de muitos alimentos funcionais", cita.
 
Manter a microbiota intestinal saudável, por sua vez, continua sendo um dos focos em 2023. Uma dieta rica em fibras ajuda a promover o crescimento de bactérias boas no trato digestivo e o equilíbrio desse sistema. "Considerando que a maioria das pessoas come menos da metade da quantidade de fibras recomendadas por dia (25 a 38 gramas), incluir alimentos ricos nelas (e suplementos, se necessário) pode oferecer muitos benefícios. Os probióticos também contribuem para a saúde intestinal", diz a profissional.
 
Probióticos são encontrados naturalmente em alimentos como iogurte, kefir, tempeh, misô e vegetais em conserva fermentados, e estão entre alguns alimentos funcionais e suplementos. "Por isso, espere ver mais produtos com prebióticos e probióticos no mercado, além daqueles que atendem a problemas de saúde específicos. Produtos sem glúten e outros específicos para uma dieta com baixo FODMAP - oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis fermentáveis (carboidratos fermentáveis difíceis de digerir por algumas pessoas), que liberam gases no processo de digestão devido à ação das bactérias do intestino."
 
O glúten é uma proteína encontrada principalmente no trigo, mas também está presente na cevada, centeio e “parentes” do trigo (como a espelta). Indivíduos diagnosticados com intolerância ao glúten (doença celíaca), acrescenta Susan, devem evitá-los de todas as maneiras, no entanto, muitas pessoas procuram alimentos sem glúten quando optam por reduzir a ingestão de grãos. A dieta baixa em FODMAP é bastante restritiva, porém os produtos para essa especificidade estão chegando às prateleiras das lojas, facilitando a adesão.
 
Planos alimentares que cuidam do intestino também estão se tornando mais populares devido à sua relação e efeitos na saúde do cérebro. Isso porque evidências sugerem que, quando o microbioma interage com o sistema nervoso central, a química do cérebro é regulada e influencia os sistemas neuroendócrinos associados à resposta ao estresse, à ansiedade e à função da memória.
 
"Especialistas também concordam que não apenas nosso cérebro está consciente dessas bactérias do bem que vivem no intestino, como elas também podem influenciar em nossa percepção de mundo e alterar nosso comportamento, sugerindo que, quanto mais saudável for a alimentação, melhor será nosso estado mental", reforça Susan.