Agente de saúde aplicando vacina

Agente de saúde aplicando vacina

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A vacinação de reforço contra a COVID-19 com as doses bivalentes terá início na próxima segunda-feira (27/2) para grupos prioritários, segundo o Ministério da Saúde (MS). Como explicam especialistas, esse tipo de vacina tem melhor performance porque na sua composição são incluídos também antígenos que protegem tanto das cepas originais da COVID (aquelas que vieram da China em 2020), quanto da cepa ômicron e suas subvariantes, que estão circulando atualmente.

A fase 1 contempla as pessoas com maior vulnerabilidade associada com a resposta à vacinação. Serão vacinados imunossuprimidos, idosos acima dos 70 anos, os indígenas, os quilombolas e os ribeirinhos. Já a fase 2 contempla idosos entre 60 e 69 anos; a fase 3, gestantes e puérperas; e a fase 4, profissionais da saúde. Os grupos proirizados agora são estabelecidos justamente porque são mais suscetíveis a adquirir a infecção pela COVID e suas formas mais graves.

Quem já recebeu as duas doses da vacinação básica contra a COVID-19, ofertada pelo SUS desde 2021, independentemente do laboratório, está apto a receber a vacina bivalente. Portanto, quem só tomou uma dose até agora, vai ter que tomar ainda a segunda dose da primeira versão da vacina para estar apto a tomar a bivalente.

 

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Em entrevista ao Estado de Minas, o infectologista, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia (SMI), Estevão Urbano, tira as principais dúvidas sobre a vacina bivalente.

 

Por que essa vacina é chamada de bivalente?


O infectologista Estevão Urbano

O infectologista Estevão Urbano fala sobre a importância de manter as recomendações quanto à vacinação

Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press
O material genético componente da vacina bivalente induz a resposta imunológica do organismo não somente contra as cepas originais do coronavírus, como também especificamente contra a variante ômicron, que é hoje disparadamente a mais disseminada pelo mundo. Também gera proteção contra algumas subvariantes da ômicron, como a B1, a B4 e a B5, mas existem atualmente diversas outras subvariantes da ômicron - não podemos falar o número exato, mas são mais de 10. Por cobrir algumas dessas subvariantes, a vacina bivalente pode, sim, se comportar melhor contra outras. Oferecendo o estímulo a essa resposta imunológica conhecida, pode ter robustez contra outras cepas, não necessariamente contempladas no imunizante. É o que chamamos de reação cruzada. O anticorpo produzido contra a B1, por exemplo, pode atuar em outras subvariantes.

 

Qual é o índice de cobertura da vacina bivalente? É mais eficaz por ser composta por duas vacinas?


Ainda temos muito o que aprender sobre a vacina bivalente. Essa resposta ainda não está muito clara. Estudos estão em andamento. A expectativa é que mantenha um bom nível de anticorpos contra a COVID, especificamente em relação à ômicron, por um período mais longo do que as vacinas monovalentes, ou seja, com proteção por mais tempo. Isso significa uma provável maior eficácia contra formas leves e graves da doença, mas esse também é um comportamento individual - cada pessoa responde de um jeito à vacina.

Quem não tem a cobertura completa, ou seja, quem não tomou quatro doses, pode se vacinar com a quinta dose? Quantas doses seria o mínimo para poder se vacinar?


Pessoas que tomaram pelo menos duas doses da vacina monovalente já estão aptas a tomar a bivalente, respeitando os critérios divulgados pelo Ministério da Saúde em relação ao cronograma e o público-alvo em cada fase da vacinação. Não precisa esperar pela quarta dose para tomar a quinta. Daqui para frente, quem já tem duas doses pode procurar diretamente a bivalente.

Qual é a distância (em meses) da última dose para esta? Por que é importante esse intervalo?


Pelo menos quatro meses depois da última dose. Isso porque, nesse intervalo, é esperado que o número de anticorpos no organismo se mantenha em um bom nível, que começa a cair depois desses quatro meses.

E com relação às vacinas anteriores? Coronavac, Pfizer e AstraZeneca? Importa se a pessoa tomou uma delas ou todas elas? Faz alguma diferença com relação aos efeitos colaterais? Aliás, a bivalente pode ter efeitos colaterais mais fortes?


É indiferente. Não importa qual é o laboratório das doses anteriores. Pode tomar a bivalente, que hoje é da Pfizer. Em relação aos efeitos colaterais, por esse tipo de imunizante ter mais componentes, pode haver mais chance de manifestação. Mas são os mesmos já descritos, como febre, dor de cabeça e dor no corpo, sempre em manifestações brandas, que melhoram entre 24 horas a 48 horas depois da aplicação da vacina, sem perigo algum para o indivíduo.

 

 

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Quais são os riscos se a pessoa não tomar a quinta dose?


Também não se sabe exatamente. É sabido que pessoas nos grupos de risco têm mais chance de manifestar as formas graves da COVID-19, com chance de internação, CTI e óbito. É importante que todos tomem a dose da bivalente, seguindo o calendário, mesmo pelo ponto de vista coletivo, da proteção da população como um todo. Se uma pessoa teve COVID ou não, tomou essa quantidade ou outra de vacina, tem comorbidade ou não, está naquele ou outro grupo de risco, a resposta imunológica é diferente. Não dá para falar em valores quando pensamos na vacina. Todos devem tomar a vacina. Poderá haver benefícios importantes para a proteção contra as formas leves e graves da doença.

É intenção das autoridades incluir as vacinas contra COVID no calendário nacional?

Isso está em debate, mas provavelmente sim. Caminhamos nessa direção.

 


É indicado manter as medidas sanitárias, mesmo com o arrefecimento da pandemia?

Sim. Principalmente para pessoas nos grupos de risco, como idosos e imunossuprimidos, por exemplo, e quem é de seu círculo de convivência. Se você vai a locais fechados, de aglomeração, vale a pena usar a máscara, ainda que a vacina diminua sua importância. Uma coisa se soma à outra. Com a máscara e a vacina, o risco de contrair a infecção é menor.

Depois das aglomerações durante o carnaval em Belo Horizonte, há receio de que aumentem os casos de COVID?

Só podemos ter certeza observando o que vai acontecer nos próximos sete a 10 dias. Antes do carnaval, vivíamos um período de acalmia da pandemia, ou seja, de baixa transmissão do vírus. Se nas aglomerações havia muitos contaminados, a tendência é de que os casos se multipliquem, mesmo os leves. Mas se a maioria das pessoas não estava com COVID, o carnaval não terá grandes impactos nesse sentido. Tudo ainda é uma suposição. Só monitorando o que vai acontecer nos próximos dias é que teremos essa resposta.

Como é o cenário da pandemia no Brasil e no mundo? Há perspectiva de que seja completamente superada? A tendência é de que, daqui para frente, a COVID-19 se manifeste de forma mais leve, no geral?


O cenário, tanto no Brasil como no mundo, é de um período bom, de transmissão baixa, poucos casos graves e mortes, e muito disso se deve às vacinas. São suposições. No futuro, é mais provável que convivamos com o coronavírus de forma endêmica. É um vírus que veio para ficar, e deve se manifestar daqui para frente em casos mais leves. Para que haja um desequilíbrio nesse panorama, depende das pessoas seguirem sempre as recomendações futuras sobre a vacinação, nunca deixando de se imunizar conforme for determinado, ou se aparecer uma variante completamente diferente, mais agressiva e que fuja à ação das vacinas.