Câncer de próstata: PhD em oncologia tira dúvidas que rondam pacientes
Urologista treinado no Memorial Sloan Kettering Cancer Center (NY), Renato Corradi esclarece mitos sobre prevenção, remédios, exame de toque, idade etc.
Geralmente, costumamos falar muito do câncer de próstata em períodos de campanhas, como a do Novembro Azul. No entanto, o que funciona mesmo é ter informações corretas durante todo o ano. Afinal, o quanto antes, melhor. Para Renato Corradi, onco-urologista, as pessoas ainda têm muitas dúvidas em relação aos fatores de risco deste tipo de câncer e como prevenir ou minimizar essa patologia tão prevalente entre os homens, responsável por cerca de 1,4 milhões de casos diagnosticados apenas em 2020.
Importante reforçar que o câncer, muitas vezes, não dá sinais de que vai aparecer e segue como um desafio para a ciência, já que, até mesmo em pessoas saudáveis, novas e com bons hábitos, ele pode vir a se instalar. "Mesmo assim, embora não seja possível controlarmos todas as variáveis, podemos elencar alguns aspectos de atenção. E outros, no entanto, precisamos informar que são apenas senso comum popular", afirma.
Renato Corrai, urologista: 'Mesmo assim, embora não seja possível controlarmos todas as variáveis, podemos elencar alguns aspectos de atenção'
Arquivo pessoal
Assim, muitos mitos e dúvidas ainda rondam a doença. Para resolver este problema de vez, o médico esclarece pontos importantes com base científica. Veja em tópicos:
Genética
Segundo ele, histórico familiar e origem étnica estão associados a um maior risco de desenvolver câncer de próstata, mas apenas uma pequena subpopulação de pacientes apresenta doença verdadeiramente hereditária. "A hereditariedade está associada a um risco até 7 vezes maior de aparecimento precoce da doença, mas não impõe um risco maior de agressividade dela".
Exame de toque
Em razão disto, a Sociedade brasileira de Urologia recomenda que os exames de Screening do câncer de próstata como o toque retal e PSA devam ser iniciados aos 45 anos nos homens que possuem pai ou irmãos com câncer de próstata, 5 anos mais cedo do que os homens em geral. "É preciso reforçar que, no caso destes, os exames devem ser iniciados aos 50 anos", afirma.
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Prevenção
De acordo com o médico, uma extensa variedade de fatores exógenos e comportamentais já foram estudados e discutidos como sendo associados a um risco maior de desenvolver o câncer de próstata. Porém, não existem nenhuma dieta ou tratamento medicamentoso efetivo para prevenção.
Metformina
A associação entre o uso de metformina (uma droga usada no tratamento do diabetes tipo 2) mostrou benefício em diminuir o diagnóstico de câncer de próstata. Porém, em um importante estudo (REDUCE) com 540 pacientes diabéticos a Metformina não foi associada, de forma significativa, a uma redução do desenvolvimento da doença, logo não deveria ser prescrita com este objetivo.
Obesidade
Este mesmo estudo também não mostrou efeito do uso das estatinas e dos níveis de colesterol do sangue em relação ao câncer de próstata. Outra doença muito prevalente na população mundial, a obesidade estaria associada a um maior número de casos de câncer de próstata de alto risco.
Testosterona
Uma dúvida frequente entre os homens que fazem reposição de testosterona é sobre o seu risco aumentado de desenvolver a doença, porém, nos pacientes hipogonádicos, esta reposição não estaria associada a um risco maior de desenvolver câncer de próstata. "Muito importante salientar que isto vale apenas para os pacientes com diagnóstico clínico e laboratorial de hipogonadismo e não para aqueles que utilizam a testosterona de forma recreativa e sem indicação de reposição. Neste grupo de indivíduos não existe segurança de se utilizar a medicação".
Alimentação
Corradi explica que, historicamente, alguns alimentos como proteínas derivadas do leite e carnes vermelhas são apontados como fatores de risco, porém as evidências científicas não comprovaram esta associação. Assim como não estão comprovados a proteção pelo consumo de tomate, licopeno, selênio e Vitamina E.
Cigarro e álcool
O cigarro e alto consumo de bebidas alcoólicas, além de predisporem a várias doenças cardiovasculares e pulmonares, também estão associados a tumores de próstata mais agressivos e, quanto maior o consumo, maior o risco, segundo explica o médico.
Idade e hábitos saudáveis
De acordo com ele, o câncer de próstata tem incidência aumentada em idades mais avançadas e está associado a fatores genéticos. Não existem estudos conclusivos que mostrem medidas alimentares efetivas em relação à proteção de se desenvolver o câncer de próstata. "De qualquer maneira, hábitos saudáveis de vida como uma boa alimentação, prática de exercícios físicos, não consumo excessivo de bebidas e não fumar são medidas importantes de promoção da saúde e podem evitar o aparecimento do câncer de próstata agressivo. Além disso, indivíduos saudáveis que desenvolvem a doença apresentam melhor recuperação e menores efeitos colaterais caso precisem de tratamento."
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