o álcool em excesso, pode causar danos irreparáveis a órgãos como fígado e pâncreas

Em quantidades moderadas, o álcool não é prejudicial. Em excesso, pode causar danos irreparáveis a órgãos como fígado e pâncreas

Romli/Pixabay

Enfim, chegou o período das férias e nada melhor do que relaxar! Há, porém, quem não dispense a companhia do álcool e, a depender da quantidade de consumo, esse momento de descanso pode se transformar em transtorno. Dores de cabeça, vômitos, confusão mental, vexame… a lista é longa.

Nesse contexto, o nutrólogo e coloproctologista Celso de Paiva Melo lembra que a ingestão de etanol, quando em quantidades moderadas, geralmente, não é prejudicial. Mas quando ocorre sem moderação, pode causar sérios danos ao organismo. Isso porque, além de ser prejudicial ao sistema nervoso central, o álcool é capaz de debilitar permanentemente órgãos como o fígado, o coração e o pâncreas.

Esses danos podem ser imediatos ou tardios e dependem da quantidade ingerida, da genética individual, do sexo, do tipo de bebida e da frequência. O maior problema é que, muitas vezes, só percebem-se os prejuízos instantâneos ao corpo - mal-estar e irritação gástrica, por exemplo - e não há preocupação com aqueles que podem tornar-se crônicos e até irreparáveis (cirrose hepática e pancreatite crônica).

Daí a importância de compreender o seu limite no quesito bebedeira e estar atento aos sinais da ressaca, a fim de que não ocorra novamente ou, pelo menos, com tanta frequência. Mas, de toda forma, se não deu para evitá-la, vale a pena pegar algumas dicas de como cuidar-se neste momento, para que este seja o  menos desagradável possível, para si e para os outros.

Intoxicação 

A ressaca é causada pela intoxicação aguda da ingestão de álcool. O álcool, após ingerido, é rapidamente absorvido pelo intestino e transportado através da corrente sanguínea até o fígado. Neste órgão, o etanol sofre metabolismo até transformar-se em acetato - ativo não tóxico ao organismo.

O problema é que, nessa transformação, o etanol precisa ser metabolizado em acetaldeído, um ativo extremamente prejudicial ao organismo. Assim, dependendo da quantidade de bebida alcoólica ingerida, o fígado não é capaz de metabolizar todo o etanol em acetato, liberando na corrente sanguínea esse metabólito tóxico.

“Para se ter uma ideia, o fígado consegue metabolizar apenas 7g de etanol até acetato por hora, ou seja, se ingerimos uma quantidade superior a essa (por exemplo, uma latinha de 300ml de cerveja possui aproximadamente 12g de etanol) podemos ter todos os sintomas da conhecida ressaca”, explica o nutrólogo Celso de Paiva Melo.

Os sintomas mais comuns, iniciados de seis a oito horas após a ingestão da bebida, incluem: dores de cabeça, boca seca, náuseas, vômitos, confusão mental decorrentes da perda de eletrólitos, hipoglicemia e irritação gástrica.

Mulheres, jovens, idosos, pessoas em jejum ou desidratadas tendem a sofrer mais as consequências da ressaca. A genética também pode ser um fator determinante.

Entre os cuidados, o especialista recomenda evitar beber mais álcool no dia seguinte, pois é um mito pensar que a ressaca deve ser curada bebendo-se mais. Procure se hidratar bem, descansar e ingerir alimentos mais leves. “O seu corpo já sofreu muito no dia anterior e merece um descanso”. (LM)

*Estagiária sob a supervisão de Sibele Negromonte

Pílula brasileira promete evitar ressaca

Um suplemento alimentar que chegou ao mercado brasileiro em abril promete prevenir a dor de cabeça e o mal-estar associados à ressaca com a ingestão de três comprimidos antes do consumo de álcool.

Segundo a fabricante, cerca de 80 mil pessoas já teriam provado o produto, chamado Novvo, com uma avaliação positiva de 92% dos usuários.

efeitos da ressaca

Suplemento alimentar desenvolvido no Brasil para minimizar os efeitos da ressaca é diferente do medicamento lançado no Reino Unido

Michal Jarmoluk/Pixabay

A promessa é semelhante à dos comprimidos da empresa sueca Myrkl (lê-se no inglês "miracle") vendidos desde julho no Reino Unido. O "milagre" anunciado por lá, que causou euforia ao mercado dos apaixonados por bebidas, é que o produto decomporia até 70% do álcool ingerido em uma hora, bastando tomar duas unidades pelo menos uma hora antes para não sofrer no dia seguinte.

Mas o mecanismo de ação de cada um é diferente e, nos dois casos, ainda é cedo para falar em eficácia.

O Novvo, da Biotech, é composto de vitamina C, vitamina E, complexo B, L-cisteína e quitosana, explica Rodrigo Hidaka, de 40 anos, cofundador da Novvo Bem Estar. Ele vem com uma dose de três comprimidos, que deve ser repetida se a farra durar mais que sete horas. 

O empresário conta que o produto foi descoberto por acaso em 2014, quando o sócio, Felipe Rebelatto, percebeu que um suplemento que tomava o ajudava a evitar a ressaca. "Ele resolveu estudar mais a fundo e, em parceria com cientistas, descobriu a forma de atuação, como uma glucosamina e vitaminas poderiam ajudar o corpo, retirando aldeídos [tóxicos] de nosso sistema circulatório e auxiliando na recuperação do organismo", relata.

O fabricante defende que a propriedade do pré-drinque Novvo é única e atua na absorção de aldeídos resultantes da quebra da molécula do álcool pelo fígado, diferentemente da pílula do Reino Unido, feita de outros componentes.

Segundo Hidaka, a pílula foi estudada por dois anos, mas o resultado ainda não foi publicado para não atrapalhar o processo de patente. A indicação é para qualquer pessoa acima de 19 anos que não seja lactante ou gestante.

Suplemento 

O comprimido é um suplemento alimentar, não um medicamento. "É um produto natural que não precisa ser registrado, sendo necessária a comunicação de fabricação à Anvisa", diz o empresário.

A Agência de Vigilância Sanitária informou que, de fato, não existe medicamento registrado com nome Novvo e que a categoria de suplementos alimentares é vista como alimento, devendo os produtores informar e seguir apenas as regras de composição. "Neste caso, o produto não pode fazer alegações terapêuticas", afirmou o órgão, em nota.

Mesmo não sendo medicamento, especialistas lembram que suplementos, mesmo fitoterápicos, podem causar reações e que o uso excessivo pode desregular da flora natural do corpo até o sistema neural, levando a um maior consumo alcoólico. (DC/Folhapress)