dor

Para que a dor não seja persistente, o cérebro libera endorfinas e encefalinas que inibem essa sensação ruim

www.southplattesentinel.com/Reprodução


O empresário Daniel Duarte de Oliveira, de 67 anos, conta que convive, desde 2011, com a fibromialgia. Segundo ele, os primeiros sintomas começaram com uma dor parecida com a causada por um cálculo renal, mas depois de um tempo evoluiu e começou a descer para a perna.
 
empresário Daniel Duarte

Diagnosticado com fibromalgia,o empresário Daniel Duarte,de 67 anos, faz avaliações esporádicas e convive com as dores usando medicação de forma paliativa

arquivo pessoal
 
 
“Foram necessárias algumas consultas para que o médico constatasse a enfermidade. Na época, procurei uma clínica especializada em dor e foram feitos exames de imagem e ressonâncias, além de outro, usando eletrodos, para entender a extensão e o alcance da fibromialgia.”
 
 
A dor crônica, como a de Daniel, caracterizada por durar mais de três meses, pode ser debilitante e ter consequências que envolvem não só a condição física do paciente, mas comportamental e emocional.
 
O ortopedista Daniel Oliveira, especializado em coluna vertebral e diretor do NOT – Núcleo de Traumatologia e Ortopedia de Belo Horizonte – , diz que a dor é considerada normal e surge quando há alguma ameaça de dano em nossos tecidos ou órgãos.
 
ortopedista Daniel Oliveira

O ortopedista Daniel Oliveira diz que a dor, por ser duradoura, pode provocar ou piorar problemas psicológicos, como depressão e ansiedade

Arquivo pessoal
“É assim que conseguimos entender quando algo não está funcionando da forma correta. Se nós sofremos algum trauma, substâncias químicas são liberadas e detectadas pelas terminações nervosas, que disparam impulso elétrico para a parte posterior da medula espinhal, onde neurônios o transmitem para o córtex cerebral, que vai perceber e interpretar a dor.”
 
Para que a dor não seja persistente, nosso cérebro libera endorfinas e encefalinas que inibem essa sensação ruim. No caso da crônica, ela acontece quando há uma desordem do sistema que a percebe ou a inibe, fazendo com que se torne constante.
 
Por ser duradoura, o médico ressalta que ela pode provocar ou piorar problemas psicológicos, que vão desde a percepção da dor até depressão e ansiedade, influenciando tanto no comportamento do paciente quanto no convívio social.
 
Os sintomas são caracterizados por dores duradouras (por mais de três meses), que podem se arrastar por mais de um ano. “Aliado a esse incômodo, podem aparecer sintomas como: distúrbio de sono, perda de apetite, constipação intestinal, diminuição da libido, perda de vontade de estar com pessoas queridas, tristeza, medo com relação à própria saúde”, sinaliza.
 
O diagnóstico, de acordo com o ortopedista, vai depender de uma anamnese minuciosa do médico para descobrir a causa inicial da dor e histórico do paciente. Além disso, pode ser importante a avaliação através de ressonância magnética, radiografia ou eletromiografia. “O tratamento é contínuo e vai depender do que está sendo afetado: miofascial, musculoesquelética, neuropática, cefaleia crônica, fibromialgia.”
 
No caso de Daniel Duarte, o tratamento paliativo é baseado em analgesia e o uso de medicação não chega a ser diário, mas é constante.
 
Foi o que ocorreu também com Paulo Henrique Feliciano de Azevedo, operador de processo industrial, de 28. Ele conta que sentia dor na lombar e que o problema descia para as pernas há cerca de um ano e três meses.
 
“O diagnóstico foi dado pelo médico da empresa, que me encaminhou para o médico especialista ortopedista. Depois desse médico, passei pela mão de outra médica, que me indicou um especialista em coluna vertebral. Já tinha feito 60 sessões de fisioterapia e também uso de medicações injetáveis para aliviar a dor, além de consultas com psicóloga, que foram muito importantes para que eu mantivesse a calma em meio à dor.”
 
De acordo com o operador de processo industrial, a dor era tão forte que ficou sem muita mobilidade para andar, principalmente na perna esquerda.
 
“Como eu já havia feito outros tratamentos alternativos e mesmo assim a dor persistia, o último médico me explicou e indicou a cirurgia, que deu fim ao meu sofrimento.”  

MULTIDISCIPLINAR
 
Além do diagnóstico médico e da prescrição de medicação para dor, é muito importante que o cuidado e a atenção ao paciente sejam abordados por outros profissionais também, como enfermeiros, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos e psiquiatras.
 
Todos eles desempenham papel fundamental para que o paciente com dor crônica consiga diminuir e/ou eliminar a dor e melhorar a qualidade de vida.
 
Daniel ressalta que o diagnóstico é dado pelo médico que realizou a anamnese minuciosa e os exames específicos de acordo com a queixa do paciente.
 
“A partir disso, são indicados outros profissionais que vão trabalhar no intuito de melhorar a condição e a qualidade de vida do paciente. Todo o tratamento é compartilhado entre os especialistas.

A enfermeira da empresa especializada em home care Saúde no Lar, Juliana Ferreira das Neves Dantas

"A sensação de dor é um fenômeno individual", diz a enfermeira da empresa especializada em home care Saúde no Lar, Juliana Ferreira das Neves Dantas

Arquivo Pessoal
Para Juliana Ferreira das Neves Dantas, de 44, enfermeira da empresa especializada em home care Saúde no Lar, que lida diretamente com pacientes com dores crônicas, o enfermeiro desempenha papel importante como membro de uma equipe interdisciplinar. “A sensação de dor é um fenômeno individual. Nós, enquanto profissionais, é que estamos, na maioria das vezes, com o paciente na maior parte do tempo. Temos a função de cuidar e a responsabilidade de administrar as medicações prescritas, bem como a avaliação e monitorização dessa dor.”
 
Segundo Juliana, não há um tratamento padrão e tudo deve ser analisado por um contexto mais amplo. “A dor é uma experiência pessoal e apresenta variáveis de acordo com os fatores biológicos, sociais e psicológicos. A equipe de enfermagem deve realizar um acolhimento adequado ao paciente e ao familiar desse paciente, pois esses fatores estão entrelaçados. Uma  família segura do cuidado prestado reflete no alívio da dor do indivíduo enfermo.”
 
O acolhimento ao paciente portador de dor crônica é um desafio para a equipe de enfermagem, já que não é um espaço ou um lugar, mas sim a postura ética do profissional em saber lidar com a dor e a angústia do outro, tomando como responsabilidade a resolutividade daquela situação.
 
“Essa resolução começa com a empatia e até com o tom de voz usado com o paciente. Tudo isso torna a comunicação eficaz e nos possibilita o cuidado em sua totalidade e de forma acolhedora com aquele que está passando pelo momento de dor.”
 
A conversa com outros profissionais que estão envolvidos no tratamento da dor crônica deve acontecer a todo momento, pois o paciente precisa ser cuidado na sua globalidade e envolve a equipe a todo instante. As especialidades devem estar abertas a toda informação ou mudança do quadro clínico que possam surgir no decorrer do tratamento em questão.
 
Daniel finaliza ressaltando que quando há um compartilhamento com relação aos métodos utilizados, há mais chances de que os tratamentos sejam integrados e funcionem melhor. “Quem ganha é o paciente.”