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Estado de Minas PANDEMIA

Exercícios pós-COVID pedem ida ao cardiologista, recomendam médicos

Mesmo quem teve a forma leve ou moderada da doença pode ter herdado sequelas sem ter se dado conta


15/09/2022 15:33 - atualizado 15/09/2022 17:35

Mulher usando máscara e fazendo exercício
Muitos pacientes apresentaram arritmia após a infecção pelo coronavírus. O distúrbio também pode ser assintomático (foto: Pexels)

Antes de retomar a academia, a corrida ou até os exercícios com menor impacto, especialistas sugerem que os praticantes de atividades físicas e esportivas que tiveram COVID-19 passem por uma avaliação cardiológica chamada APP (avaliação pré-participação). A regra independe da performance ou do nível da atividade.

Segundo Agnaldo Piscopo, diretor do Centro de Treinamento em Emergências Cardiovasculares da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo), a doença pode pode ter gerado sequelas cardiovasculares (sintomáticas ou não). Mesmo quem teve a doença leve ou moderada é recomendado que passe por avaliação.


"Nós temos encontrado um número grande de pacientes que tiveram a COVID e apresentaram um cansaço inexplicável. Quando vão ao consultório, estão diante de uma insuficiência cardíaca em decorrência da miocardite. Acometidos pela COVID-19 também têm mais chances de desenvolverem arritmias, insuficiência cardíaca, além de um risco maior de doença arterial coronariana", explica Piscopo.

Segundo o cardiologista e intensivista Gustavo Eder Sales, coordenador-chefe da UTI (unidade de terapia intensiva) do Hospital Albert Sabin, além da miocardite, muitos pacientes apresentaram arritmia após a infecção pelo coronavírus. O distúrbio também pode ser assintomático.

"Durante o esforço na atividade física, a pessoa pode precisar mais do coração e ter uma complicação. Nem toda arritmia causa morte súbita, mas pode trazer complicações. Como o músculo bate descompassado, perde a função e fica mais dilatado. Isso faz gerar mais arritmia. É como se fosse um círculo vicioso", explica Sales.

Outra possibilidade é a ocorrência de um AVC (Acidente Vascular Cerebral). "Como o coração não bate direito, forma coágulos que podem ir para outra parte do corpo", completa Sales.

De acordo com Piscopo, o primeiro passo é se submeter a uma anamnese, que pode ser feita por um clínico geral ou cardiologista. Depois, o paciente deverá passar por um exame clínico cardiológico.
 
 
Durante a investigação, é importante verificar se há sinal de insuficiência cardíaca, como inchaço dos membros inferiores, cansaço e falta de ar ao fazer pequenos ou médios esforços ou esforços progressivos.

Completam a lista de exames recomendados a ausculta cardíaca, o eletrocardiograma, o ecocardiograma -se houver suspeita de alguma doença cardíaca- e teste de esforço. Pessoas com suspeita de miocardite também devem fazer uma ressonância magnética do coração.

Mesmo com a saúde do coração em dia, a volta para as atividades deverá ser progressiva e com cargas mais leves.

"Antes do retorno para a academia, à corrida ou à caminhada, pergunte-se: estou bem para voltar à atividade física que sempre fiz?", diz Piscopo.

Para a empresária Andréa Bulbarelli, 52, moradora no Ipiranga (zona sul da capital), a resposta é sim. A atividade física estava inserida na sua vida desde antes da pandemia.

"Eu nunca fiquei parada por longos períodos, mas também nunca fui uma atleta de carteirinha. Gosto de variar os treinos. Já fiz dança e amei, gosto de ioga e de caminhar pelo bairro", comenta.

Antes da pandemia, ela praticava ioga, musculação e exercícios aeróbicos. Com a chegada da COVID, parou de se exercitar. Na época, a transmissão rápida do coronavírus obrigou o governo estadual a adotar medidas de restrição. As academias ficaram fechadas durante meses.

Em maio de 2021, a pressão arterial de Andrea descompensou. Preocupada, foi ao cardiologista, fez os exames solicitados e recebeu diagnóstico de ansiedade. Dois meses depois, começou a praticar corrida de rua.

Em janeiro de 2022, Andréa pegou COVID-19. O fato de ter três doses da vacina no braço proporcionou uma recuperação rápida. Em 14 dias estava curada e de volta à corrida. Atualmente, ela divide os cinco dias na semana entre os treinos de corrida e de fortalecimento muscular. "A minha ideia é participar da [Corrida de] São Silvestre no final do ano", afirma.

No pós-COVID, Andréa não voltou ao cardiologista. Considerou o diagnóstico de meses atrás. "Não tenho nenhum problema cardiológico. O médico fez algumas recomendações e disse que o esporte deve fazer parte da minha vida", conta.

Para Páblius Staduto Braga, médico especialista em medicina do esporte pela SBMEE (Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte) e pela Associação Médica Brasileira, caminhar e pedalar sem alcançar altos níveis de fadiga e exaustão são atividades indicadas para o recomeço de atividade física.

Ele chama a atenção para o cuidado que se deve ter com a corrida, se nunca praticou. Para os iniciantes, o ideal é alternar caminhada e pequenos trotes. Opte por distâncias curtas. "A corrida emagrece, mas se você nunca fez não vá simplesmente sair correndo."

"Mesmo que não tenha problema cardíaco, ultrapassar o limite pode trazer doenças e lesões", afirma Braga.

Outro alerta importante é para possíveis doenças que a pessoa possa ter adquirido sem saber durante o tempo em que ficou sedentária, como por exemplo a hipertensão. Faz toda a diferença para o corpo se exercitar com frequência e parar de repente.

"As pessoas querem bem-estar, fazer atividades que proporcionam prazer e boas experiências, mas sem limite. Tome cuidado. Fique atento ao seu corpo, ao cansaço acentuado, e a sintomas que não apresentava antes. Valorize as dores. Se sentir, procure imediatamente um especialista. Às vezes, é melhor dar um passo para trás e voltar aos poucos do que passar do limite e ter problemas mais para a frente", orienta Braga.

"Vale o alerta: respeite seu corpo, o que você trata e os sintomas que não conhecia."


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