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Estado de Minas MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Minas já tem um quarto dos municípios no semiárido

Número de cidades do estado que receberam nova classificação climática pelo IBGE saltou de 91 para 217, devido às altas temperaturas


31/07/2023 04:00 - atualizado 31/07/2023 13:27
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José Irineu Rigotti, geógrafo, demógrafo e integrante do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas (Cedeplar) da UFMG
''O cenário de crescente aquecimento que vivemos não ajuda essa região do semiárido, que já tem tradição de perdas de população, o que faz a gente prever que a região em particular ainda experimentará grandes dificuldades em um futuro não muito distante'' - José Irineu Rigotti, geógrafo, demógrafo e integrante do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas (Cedeplar) da UFMG (foto: ARQUIVO PESSOAL)
Julho começou com recordes de calor global sendo quebrados de forma consecutiva na que foi considerada pelo Centro Nacional de Previsão Ambiental dos Estados Unidos, órgão ligado à Administração Oceânica e Atmosférica (Noaa, na sigla em inglês), a semana mais quente já registrada na história do planeta.

Neste mesmo mês, enquanto o mundo se alarmava com a onda de calor na Europa e os descontrolados incêndios florestais na América do Norte, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou atualização de dados que acende o alerta para as mudanças climáticas em nosso quintal e mostra que os impactos do aquecimento global se avizinham de maneira preocupante: o número de municípios mineiros na lista de cidades pertencentes ao semiárido brasileiro mais do que dobrou, saindo de 91 para 217.

O último levantamento havia sido divulgado em 2021, levando em consideração regras válidas desde 2017. No mapa, a mancha que representa o semiárido se expandiu a partir do Norte de Minas e avançou sobre outras mesorregiões como os vales do Jequitinhonha, Mucuri e do Rio Doce.
Na prática, o aumento da lista significa que mais cidades se enquadram nos critérios que definem o clima, marcado por altas temperaturas, pouca chuva e escassez hídrica. O cenário é, portanto, indicador da ampliação da seca no estado.

Para integrar a lista do semiárido, a cidade deve atender ao menos um de três critérios que determinam o território. O primeiro é ter precipitação pluviométrica média anual igual ou inferior a 800 milímetros. O segundo é ter um Índice de Aridez de Thornthwaite (regra que calcula a diferença entre a quantidade de chuva e a perda de água do sistema) igual ou inferior a 0,5. O terceiro parâmetro é um percentual diário de déficit hídrico igual ou superior a 60% considerando todos os dias do ano.

O semiário brasileiro

O território do semiárido brasileiro é determinado pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) em estudos feitos em conjunto por órgãos como o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA).

Estas entidades determinaram que a lista divulgada neste mês, que corresponde a dados levantados no ano passado, seria feita a partir da aplicação dos critérios dentro do período de 30 anos entre 1991 e 2020.

A alteração do período analisado é a grande diferença entre as listas divulgadas em 2021 e 2023. A mais antiga levou em conta os registros climatológicos das cidades entre 1981 e 2010. A diferença de uma década de coleta de dados foi o suficiente para 126 novas cidades mineiras se tornarem aptas a integrar o grupo de municípios quentes e secos do semiárido. A meteorologista e assessora técnica especializada do Inmet, Danielle Barros Ferreira comentou a alteração e o significado dos resultados obtidos a partir dela.

"Déficit hídrico na região"

“Com as mudanças climáticas, foi instituído que esse período sempre seria atualizado. Na meteorologia sempre deve-se analisar recortes de 30 anos e, em 2021, passamos a utilizar o trecho entre 1991 e 2020. Nesse período, a gente vem observando um aumento da temperatura no Brasil todo e, em Minas, um aumento no regime de chuvas do centro ao Sul e uma redução do centro ao Norte”, explica Danielle.

A especialista destaca que os principais critérios que determinaram a inclusão de mais cidades nos vales do Mucuri e Jequitinhonha foram os que avalia o déficit hídrico da região e o volume anual de chuvas. Segundo ela, Minas sente o impacto de um fenômeno global de aquecimento que é evidenciado pela divulgação de dados como a atualização da composição do semiárido.

“Temos observado isso no Brasil assim como em outras regiões do planeta. A última década foi mais quente que a anterior. Esse aumento de temperatura causa irregularidades na atmosfera e a tendência é termos eventos climáticos mais severos. No Norte de Minas, a gente observou aumento de 0,9 a 1,2 grau na temperatura média entre 1991 a 2020 comparado ao recorte entre 1961 e 1990, por exemplo. Houve também uma redução das chuvas de 50mm a 100mm anualmente. É por isso que fazemos a revisão da delimitação, para termos critérios mais rigorosos e atualizar a base de dados diante das mudanças que estamos vivendo”, afirma Danielle.

Desertificação avança no Cerrado

Ter 217 cidades no semiárido brasileiro implica dizer que um quarto dos municípios mineiros se alinha às características de clima seco, pouca chuva e baixa disponibilidade de água. Na lista anterior, esse percentual era pouco maior que 10%. O avanço de uma década no recorte analisado pela Sudene foi suficiente para aumentar significativamente a porção de Minas enquadrada no território mais propenso a secas do país.

“Os impactos das mudanças climáticas já são perceptíveis. No Norte e Noroeste de Minas e nos vales do Jequitinhonha e do Mucuri, os impactos se manifestam no aumento da temperatura, prolongamento das secas e aumento da irregularidade das chuvas, com extremos climáticos cada vez mais frequentes. Essas alterações nos parâmetros climáticos conferem a alguns municípios características semelhantes ao do semiárido brasileiro”, aponta a geógrafa e pesquisadora da PUC Minas Letícia Oliveira Freitas.

Letícia explica que as cidades mineiras recém-inseridas no semiárido brasileiro se localizam no Cerrado, um bioma que já passa por um processo de desertificação, outro sintoma das mudanças climáticas. Ela destaca que o desmatamento, as alterações no uso do solo e as atividades poluidoras que envolvem emissões de gases de efeito estufa estão entre as principais causas das alterações no clima que já surtem efeito na vida das pessoas.

A geógrafa destaca que a inclusão no semiárido pode auxiliar os municípios no ingresso a programas públicos para mitigar os variados efeitos da seca e altas temperaturas, mas aponta medidas que podem ser tomadas para evitar que os impactos das mudanças climáticas sejam mais nocivos às comunidades.

“É interessante que os municípios elaborem os seus inventários de gases de efeito estufa e planos de enfrentamento às mudanças climáticas, com medidas de mitigação e adaptação. As medidas de adaptação envolvem custos mais elevados, sendo mais desafiadoras para os municípios com limitações socioeconômicas. Neste contexto, a ampliação do semiárido favorece os novos municípios no acesso às políticas públicas específicas. A proteção das comunidades tradicionais (ribeirinhos, quilombolas, pescadores artesanais, extrativistas artesanais, geraizeiros, caatingueiros e outras), no âmbito da Convenção nº169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) também é uma estratégia importante. Essas comunidades possuem modos de vida com estreita relação de interdependência com a biodiversidade e ecossistemas, promovendo a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais”, avalia.

Um dos impactos do aumento da aridez é a redução populacional forçada pela migração e as dificuldades econômicas em lidar com alterações econômicas impostas por este contexto, como alteração da fertilidade do solo e disponibilidade hídrica para irrigação de plantações.

ÊXODO RURAL 

O geógrafo, demógrafo e integrante do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar-UFMG), José Irineu Rigotti, explica que as mudanças climáticas acentuam o processo de redução populacional vivido pelas regiões mais setentrionais de Minas há décadas.

“Há muito tempo as regiões ao Norte do estado vivem com a perda populacional. Esse é um processo que não tem a ver somente com a migração, mas engloba a queda da população de base rural, o que acontece ao menos desde as décadas de 1960 e 1970 e a saída de mulheres em idade reprodutiva, o que implica em um envelhecimento da população e na queda da taxa de natalidade”, avalia.

“Tudo isso leva a uma dinâmica demográfica muito complexa que certamente está relacionada à seca e as dificuldades econômicas de uma área com solo pobre, com hidrografia pobre. O cenário de crescente aquecimento que vivemos não ajuda essa região do semiárido, que já tem tradição de perdas de população, o que faz a gente prever que essa região em particular ainda experimentará grandes dificuldades em um futuro não muito distante”, diz Rigotti também.

Dados do Censo de 2022 mostram que, em comparação com as estatísticas do levantamento de 2010, as únicas mesorregiões mineiras que tiveram perda populacional são exatamente onde a caracterização do semiárido brasileiro avançou: Vale do Jequitinhonha, que perdeu 4,45% dos habitantes; Vale do Mucuri, com queda de 4,75%; e o Vale do Rio Doce, com déficit de 1,31% no número de moradores.

"Era da fervura global"

O ingresso de 126 municípios mineiros no semiárido brasileiro é mais um elemento da longa lista que alerta para a urgência de tratar as mudanças climáticas como fenômeno contemporâneo e não assunto para o futuro.

Na semana passada, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) das Nações Unidas e o Observatório Europeu Copernicus anteciparam que julho é o mês mais quente já registrado na história do planeta. De acordo com o secretário-geral da ONU, António Guterres, o mundo chegou à “era da fervura global”.

Segundo a Universidade de Leipzig, na Alemanha, a média da temperatura de julho está projetada para ficar entre 1,3 e 1,7 grau acima dos níveis pré-revolução industrial, parâmetro usado para determinar as variações climáticas globais. No Acordo de Paris, a meta é limitar o aumento nos termômetros a 1,5 grau entre a era pré-industrial e o ano 2100.
 
Confira a lista de municípios que estão no semiárido

AÇUCENA
ÁGUA BOA
ÁGUAS FORMOSAS
Águas Vermelhas
AIMORÉS
Almenara
ALPERCATA
ALVARENGA
Cachoeira de Pajeú
Araçuaí
ARINOS
ATALÉIA
Bandeira
Berilo
BERTÓPOLIS
Berizal
BOCAIÚVA
BONFINÓPOLIS DE MINAS
Bonito de Minas
BOTUMIRIM
BRASÍLIA  DE MINAS
BRAÚNAS
Buritizeiro
CAMPANÁRIO
CAMPO AZUL
CANTAGALO
CAPITÃO ANDRADE
Capitão Enéas
Caraí
CARLOS CHAGAS
CARMÉSIA
CATUJI
Catuti
CENTRAL DE MINAS
Chapada do Norte
CHAPADA GAÚCHA
Comercinho
Cônego Marinho
CONSELHEIRO PENA
CORAÇÃO DE JESUS
COROACI
Coronel Murta
CRISÓLITA
Cristália
CUPARAQUE
Curral de Dentro
DIVINO DAS LARANJEIRAS
DIVINOLÂNDIA DE MINAS
Divisa Alegre
Divisópolis
DOM  BOSCO
DORES DE GUANHÃES
ENGENHEIRO CALDAS
Espinosa
Felisburgo
FERNANDES TOURINHO
FORMOSO
Francisco Badaró
Francisco Sá
FRANCISCÓPOLIS
FREI GASPAR
FREI INOCÊNCIO
FRONTEIRA DOS VALES
Fruta de Leite
GALILÉIA
Gameleiras
GLAUCILÂNDIA
GOIABEIRA
GONZAGA
GOVERNADOR VALADARES
Grão Mogol
GUANHÃES
GUARACIAMA
IBIAÍ
Ibiracatu
ICARAÍ DE MINAS
Indaiabira
INHAPIM
ITABIRINHA
ITACAMBIRA
Itacarambi
ITAIPÉ
ITAMBACURI
ITANHOMI
Itaobim
Itinga
ITUETA
Jacinto
Jaíba
JAMPRUCA
Janaúba
Januária
Japonvar
Jenipapo de Minas
JEQUITAÍ
Jequitinhonha
Joaíma
Jordânia
José Gonçalves de Minas
JOSÉ RAYDAN
Josenópolis
JURAMENTO
Juvenília
LADAINHA
LAGOA DOS PATOS
LASSANCE
LEME DO PRADO
Lontra
LUISLÂNDIA
MACHACALIS
MALACACHETA
Mamonas
Manga
MANTENA
MARILAC
Mata Verde
Matias Cardoso
Mato Verde
Medina
MENDES PIMENTEL
MINAS NOVAS
MIRABELA
Miravânia
Montalvânia
Monte Azul
Monte Formoso
MONTES CLAROS
Montezuma
MUTUM
NACIP RAYDAN
NANUQUE
NAQUE
Ninheira
NOVA BELÉM
NOVA MÓDICA
Nova Porteirinha
Novo Cruzeiro
NOVO ORIENTE DE MINAS
Novorizonte
OURO VERDE DE MINAS
Padre Carvalho
Padre Paraíso
Pai Pedro
Patis
PAVÃO
PEÇANHA
Pedra Azul
Pedras de Maria da Cruz
PERIQUITO
PESCADOR
PINTÓPOLIS
Pirapora
PONTO CHIQUE
Ponto dos Volantes
Porteirinha
POTÉ
RESPLENDOR
RIACHINHO
Riacho dos Machados
Rio Pardo de Minas
Rubelita
Rubim
SABINÓPOLIS
Salinas
Salto da Divisa
Santa Cruz de Salinas
SANTA EFIGÊNIA DE MINAS
Santa Fé de Minas
SANTA HELENA DE MINAS
Santa Maria do Salto
SANTA MARIA DO SUAÇUÍ
SANTA RITA DO ITUETO
Santo Antônio do Retiro
SÃO DOMINGOS DAS DORES
SÃO FÉLIX DE MINAS
São Francisco
SÃO GERALDO DA PIEDADE
SÃO GERALDO DO BAIXIO
SÃO JOÃO DA LAGOA
São João da Ponte
São João das Missões
SÃO JOÃO DA MANTENINHA
SÃO JOÃO DO PACUÍ
São João do Paraíso
SÃO JOÃO EVANGELISTA
SÃO JOSÉ DA SAFIRA
SÃO JOSÉ DO DIVINO
SÃO JOSÉ DO JACURI
SÃO PEDRO DO SUAÇUÍ
São Romão
SÃO SEBASTIÃO DO ANTA
SÃO SEBASTIÃO DO MARANHÃO
SARDOÁ
SETUBINHA
SENHORA DO PORTO
SERRA DOS AIMORÉS
Serranópolis de Minas
SOBRÁLIA
Taiobeiras
TAPARUBA
TARUMIRIM
TEÓFILO OTONI
TUMIRITINGA
TURMALINA
UBAÍ
UBAPORANGA
UMBURATIBA
URUANA DE MINAS
URUCUIA
Vargem Grande do Rio Pardo
Várzea da Palma
Varzelândia
Verdelândia
MATHIAS LOBATO
Virgem da Lapa
VIRGINÓPOLIS
VIRGOLÂNDIA


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