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Estado de Minas CONGRESSO NACIONAL

Hora de o Centrão apresentar a fatura para Lula

Aprovação folgada e troca anunciada no Ministério do Turismo indicam alinhamento entre o petista e o presidente da Câmara após semestre de divergências


09/07/2023 04:00 - atualizado 09/07/2023 11:41
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Arthur Lira, (PP-AL), presidente da Câmara, em discurso no plenário, horas antes da aprovação da reforma tributária
''Não nos deixemos nos levar pelo radicalismo político. O povo brasileiro já está cansado. As eleições já ocorreram, os vitoriosos estão no poder. Lembro a vocês que meu candidato [Jair Bolsonro] perdeu a eleição presidencial. Deixemos as urnas de lado. Voltemos nossos olhos para o povo brasileiro'' Arthur Lira, (PP-AL), presidente da Câmara, em discurso no plenário, horas antes da aprovação da reforma tributária (foto: SERGIO LIMA/AFP)
O convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL),  e a líderes do Centrão ao Palácio da Alvorada, na tarde de sexta-feira, representou mais do que um agradecimento pela aprovação da reforma tributária e do projeto de lei (PL) sobre o Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf), no plenário da Câmara, na sexta-feira.
 
Ao lado de Lira, a foto de Lula em meio aos velhos aliados da esquerda e possivelmente aos novos aliados do Centrão lirista indicam um novo caminho do terceiro mandato de Lula e uma nova correlação de forças partidárias na Câmara e no poder Executivo.
 
A imagem pode ser considerada uma materialização dos ecos e comentários dos bastidores entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional de que o Progressistas (PP) de Lira passará a ocupar espaço na Esplanada.

Mesmo a aprovação do voto de qualidade pelo Carf, votado depois da reforma tributária, também foi um gesto de que Lira está disposto a ajudar o governo e entregar votos necessários. Juntamente à articulação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a influência do presidente da Câmara contou para o projeto, polêmico em diversos pontos, que dá vantagem ao governo em julgamentos fiscais.

O próprio plenário, a partir da noite de quarta-feira, já mostrava um clima favorável e de tranquilidade que não foi visto em nenhuma outra sessão. De modo geral, era possível ver nas conversas e nos semblantes dos parlamentares governistas a tensão e as incertezas em torno da articulação política e da votação das propostas de interesse da base.

Após décadas em tramitação, o relatório de Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) só avançou por convergência e vontade política envolvendo nomes do Centrão e do governo. Desde o grupo de trabalho (GT) da reforma, comandado por Reginaldo Lopes (PT-MG), esse acerto passou a ser construído. Como disse um parlamentar do Centrão, o “pedido de casamento” do governo Lula ao grupo de Lira deverá ser, enfim, feito.

Os gestos foram dados de ambos os lados. Lula já efetivou a troca no Ministério do Turismo. Sai Daniela Carneiro e entra Celso Sabino (PA), do União Brasil, e próximo de Lira. O presidente da Câmara também mostrou estar disposto a juntar os “Ls”. Ao discursar antes da votação da reforma tributária, deu um firme recado contra os radicais “que se prendem ao passado” e se posicionaram contra a reforma tributária, em sua grande maioria bolsonaristas.
 
Lira ainda fez questão de frisar que o seu candidato nas eleições de 2022, Jair Bolsonaro, foi derrotado e que as questões eleitorais deveriam ser deixadas de lado.

“Não nos deixemos, também, levar pelo radicalismo político. O povo brasileiro já está cansado disso. As eleições já ocorreram, os vitoriosos estão no poder. Lembro a vocês que meu candidato perdeu a eleição presidencial. Deixemos as urnas de lado. Voltemos nossos olhos para o povo brasileiro”, disse Lira no discurso feito na noite de quinta-feira.

A tendência é que o presidente da Câmara indique nomes para outras duas pastas: Desenvolvimento Social (MDS) e Esporte (ME). O grupo também quer indicar novos presidentes para a Caixa Econômica Federal (CEF), para os Correios e para a Embratur. O primeiro alvo de Lira era o Ministério da Saúde, mas Lula fechou a porta e descartou trocar Nísia Trindade. O recado é de que a pasta é do governo e não teria negociação.

Caso as trocas se efetivem, Wellington Dias (MDS), Ana Moser (ME), Rita Serrano (CEF), Marcelo Freixo (Embratur) e Fabiano Silva (Correios) podem perder seus cargos. Os nomes de Dias e Freixo podem enfrentar a maior resistência do governo. O ministro do MDS e ex-governador do Piauí é amigo pessoal de Lula e é uma tradição petista colocar um ministro do partido na pasta que controla o Bolsa Família.
No entanto, caso perca o cargo, Wellington Dias passará a exercer o mandato de senador, já que foi eleito no ano passado. O caso de Freixo é pior. Importante quadro da esquerda, disputou as eleições para o governo do Rio de Janeiro pelo PSB, mas foi derrotado por Cláudio Castro e está sem mandato. Em março, Marcelo Freixo se filiou ao PT.

Entre os nomes para ocupar o comando dos órgãos estão André Fufuca (PP-MA), cotado para assumir o Ministério do Desenvolvimento Social; Elmar Nascimento (União-BA), cotado para a Embratur; Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) é o nome que pode entrar no Ministério do Esporte. Lulista, Silvio é a favor da entrada do Republicanos como base do governo, o que pode facilitar o acordo.
 
Para a Caixa, o nome de Gilberto Occhi é cotado. A nomeação também pode ser facilitada, pois além de ser um quadro político, Occhi é técnico e presidiu a Caixa no governo Michel Temer e foi ministro das Cidades e da Integração Nacional durante o governo Dilma Rousseff.

Bolsonarismo


 Outros nomes como Hugo Motta (Republicanos-PB) e até do líder do PL, Altineu Côrtes (RJ) também estão entre os pedidos do Centrão para ocupar a Esplanada. A entrada de Altineu no governo representaria um enfraquecimento ainda maior do bolsonarismo e do ex-presidente Jair Bolsonaro, que não conseguiu comandar uma ofensiva do PL e da direita contra a reforma tributária. Por sinal, há quase um consenso entre os que apoiaram a reforma tributária de que apenas “radicais” foram contrários ao texto.

Com a aproximação Lula-Lira, quadros petistas e da esquerda devem ficar de fora da Esplanada e, além disso, a presença de mulheres sob o comando de cargos relevantes vai cair, com as possíveis saídas de Rita Serrano e Ana Moser. Em troca, o governo conseguirá a tão importante governabilidade para evitar surpresas negativas e principalmente aprovar suas medidas prioritárias, como o arcabouço fiscal e o Desenrola, uma das prioridades do governo no segundo semestre para socorrer famílias endividadas.
 


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