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Estado de Minas Entrevista

Aécio Neves: 'Ainda tenho esperança na 3ª via'

Para tucano, gesto de João Doria, apoiando o governador gaúcho, Eduardo Leite, consagraria uma opção viável a Lula e Bolsonaro


22/04/2022 04:00 - atualizado 22/04/2022 07:29

Aécio Neves usa camisa branca durante entrevista
Aécio: Doria deveria assumir o papel de liderar esse processo, apoiando a candidatura de Eduardo Leite e levando-a à consagração da terceira via. Seria um gesto surpreendente para alguns, mas à altura dos grandes homens públicos do país' (foto: Leandro Couri/EM/D.A PRESS - 15/12/17)
O deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) ganhou as manchetes nesta semana por causa de reuniões políticas. Fez visitas aos ex-presidentes Michel Temer (MDB) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB), além de ter conversado com Paulinho da Força, presidente do Solidariedade. O tucano, defensor da participação do correligionário Eduardo Leite na corrida à Presidência da República, crê em uma terceira via na disputa pelo Palácio do Planalto e prega “desprendimento”, inclusive, a João Doria – oficialmente, o pré-candidato tucano.

“Ainda tenho esperança e acho que existe espaço para a construção de um caminho ao centro. Isso, obviamente, passa por gestos de desprendimento de todos os lados. Se alguém de fora do PSDB se mostrar mais viável, deve ter o nosso apoio. Mas, também, temos que cobrar que, se o nome do PSDB for aquele com as melhores condições, que os outros partidos possam apoiá-lo”, diz, em entrevista exclusiva ao Estado de Minas.

Embora afirme que Doria, o vencedor das prévias internas, tem legitimidade para tentar emplacar a candidatura, Aécio garante que o ex-governador paulista enfrenta um “boicote” interno, nascido em São Paulo. Assinala, também, que não será ele o nome de consenso da coalizão, formada, também, por União Brasil, MDB e Cidadania. “Doria deveria assumir o papel de liderar esse processo, apoiando a candidatura de Eduardo Leite e levando-a à consagração da terceira via. Seria um gesto surpreendente para alguns, mas à altura dos grandes homens públicos do país.”

Aécio prega a ampliação do tamanho da via alternativa a Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Para isso, sugere tratativas com Ciro Gomes, do PDT, e com o PSD de Gilberto Kassab. Ele reconhece que o plano nacional pode afetar o cenário em Minas, caso o Novo de Romeu Zema aceite fazer parte de uma grande união ao centro. Apesar disso, prega por candidatura própria dos tucanos ao governo do estado. “Acho, ainda, muito pobre o quadro eleitoral em Minas”, pontua, citando os correligionários Paulo Brant, vice-governador, e Marcus Pestana, ex-deputado federal, como nomes capazes de sustentar um palanque próprio do PSDB.

Por que o senhor considera que Eduardo Leite é uma opção de candidatura mais viável do que João Doria, mesmo que as prévias do PSDB tenham apontado um outro resultado?
O PSDB é um partido, ainda, extremamente relevante para o Brasil. Vemos o crescimento, no país, de grande número de partidos extremamente pragmáticos, que têm como lógicas eleger bancadas, com isso, arrecadar mais fundo eleitoral, depois eleger mais bancadas e participar de governos – quaisquer que sejam eles. O PSDB, goste-se ou não, tem projeto de país: é liberal na economia, preza pela responsabilidade fiscal e pela inclusão social, e não pode sucumbir. Vejo em Eduardo Leite grande possibilidade de renovação do PSDB. Ele fez um governo de muitos bons resultados no Rio Grande do Sul e tem aquilo que é essencial para construir uma terceira via minimamente competitiva: baixa rejeição – o que não acontece com o governador de São Paulo. Justa ou não, exagerada ou não, ele tem, infelizmente, uma rejeição, hoje, que impede que seu nome seja abraçado por outras forças políticas. É legítimo que ele coloque seu nome, e tem todo esse mérito, mas o PSDB não pode abrir mão de ter uma candidatura que permita ao partido voltar a crescer a bancada e ter influência nas grandes questões nacionais. De todos os nomes colocados até aqui, vejo Eduardo com melhor perfil para apresentar um novo projeto ao país.

O que construí ao longo de 30 anos de mandatos eletivos foram relações políticas. Vejo que está faltando certa coordenação e desprendimento dos principais atores na busca pela terceira via. Tenho conversado com Temer, Paes, Luciano Bivar e outros atores sobre isso


O senhor considera que o PSDB errou ao escolher Doria nas prévias? A eleição interna ocorreu em um momento inadequado?
Há um ano, propus que as prévias ocorressem em abril. Elas foram realizadas de forma extemporânea – e nem vou entrar nos métodos utilizados para dar a vitória a Doria. Daqueles que deram a Doria a vitória, boa parte já saiu do PSDB. Eduardo teria vencido as prévias se abatêssemos os votos dos que saíram. O mais relevante é que aqueles que votaram em Doria e permanecem no partido, principalmente ligados ao PSDB de São Paulo, não querem mais a sua candidatura. Tem havido um boicote à candidatura de Doria vindo do PSDB de São Paulo, com o mesmo temor que tinham se ele continuasse no governo, como quis ficar há um mês, mas não permitiram. É um paradoxo: os que assumiram compromissos e viabilizaram a eleição de Doria dentro do PSDB, hoje, trabalham de forma silenciosa para que ele deixe de ser candidato. Minha questão pessoal com Doria está superada. Quero que o PSDB possa liderar a terceira via. É quem tem projeto para o país. Independentemente do resultado eleitoral, temos que estar fortes lá na frente para continuar combatendo os extremos, que não fazem bem à vida pública nacional. Costumo repetir uma frase do presidente Tancredo (Neves): “A virtude, geralmente, não está nos extremos”. Infelizmente, se não tivermos responsabilidade, grandeza e desprendimento, vamos privar o Brasil de ter uma terceira opção além das duas, Lula e Bolsonaro, já colocadas.

Na resposta anterior, o senhor disse que não trataria dos “métodos” que fizeram Doria vencer. Quais são esses “métodos”?
É conhecido, dentro do partido, que a força da máquina administrativa de São Paulo viabilizou mudanças de posição de inúmeros líderes e parlamentares. Isso é notório, mas uma questão já superada. A partir do momento em que Eduardo participou das prévias e aceitou o resultado, esse assunto está superado. Prefiro ficar no fato objetivo de que oito deputados federais que votaram em Doria deixaram o partido. Somados a cerca de cinco ou seis estaduais que os acompanharam – o peso deles – já inverteria o resultado das prévias. Temos que avaliar o que é melhor para o país fora dessas amarras formais.

Nesta semana, o senhor esteve com FHC e Temer; antes, foi falar com Eduardo Paes, no Rio. Sua equipe divulgou os encontros como bate-papos para tratar da terceira via. Por que resolveu se engajar nesse debate? Ainda há tempo para o surgimento de uma candidatura forte para enfrentar Bolsonaro e Lula?
É a minha responsabilidade. Disputei a Presidência em 2014 apresentando um projeto de país. Infelizmente, depois de nossa derrota, as coisas vêm sendo muito difíceis para o Brasil. Veio a presidente Dilma, que pelo que fez em 2014 não conseguiu sequer se manter no cargo. Tivemos um hiato no governo Temer e, agora, outro governo com um projeto de país que não é o nosso. O que construí ao longo de 30 anos de mandatos eletivos foram relações políticas. Vejo que está faltando certa coordenação e desprendimento dos principais atores na busca pela terceira via. Tenho conversado com Temer, Paes, Luciano Bivar e outros atores sobre isso. 

Temos de chamar todas essas lideranças à responsabilidade de que ou há um gesto coletivo de desprendimento em favor de algo efetivamente competitivo, ou vamos sucumbir, dando nosso aval à consolidação da polarização. É um cenário muito pobre para o Brasil não ter pelo menos uma terceira opção razoavelmente viável. Defendo que essa terceira via seja ampliada, que o PSD participe dessas discussões em nível nacional, por mais que tenha compromissos assumidos em estados. Acho que Ciro Gomes deveria ser chamado para conversar. A terceira via deveria chamar Ciro para jantar, para que possamos ter algo com musculatura, a fim de enfrentar uma polarização que se consolida um pouco mais a cada semana.

O PSDB tem acordo com Cidadania, União e MDB para anunciar, em 18 de maio, uma pré-candidatura de consenso. O senhor defende que Leite seja o nome levado pelos tucanos à mesa de negociações com o restante do grupo?
Todas as pesquisas que temos, qualitativas e quantitativas, ele (Leite) é quem apresenta o melhor perfil para crescer, a menor rejeição e o melhor portfólio de resultados a apresentar, porque tem um governo com muitos bons resultados em um estado tradicionalmente desequilibrado. Ele superou enorme crise, fez reformas profundas com diálogo e sem imposições. Fez algo muito parecido com o que fiz em Minas em 2003. Talvez, daí, venha nossa identidade. Vejo muitas semelhanças entre as heranças que recebemos e os resultados que entregamos. É alguém que tem a cara nova, moderno na visão de mundo e de país. Continuo achando ser o melhor nome. Temos de estar abertos ao surgimento de alguém que se mostre mais viável, mas não vejo, no cenário político, alguém com melhores condições do que Eduardo. Espero, daqui a alguns dias, levá-lo a Belo Horizonte para conversar com lideranças empresariais, políticas e sociais do estado, na primeira quinzena de maio.

Passei por um calvário com as acusações infames de que fui vítima e com armações que serviram apenas a interesses escusos de empresários que se aliaram a membros do Ministério Público e forjaram uma denúncia inexistente, desmascarada pela Justiça


O senhor acha que o acordo PSDB-Cidadania-União-MDB sai  mesmo do papel? Será viável apresentar um nome único em 18 de maio, como prometeram dirigentes, e seguir em torno do escolhido?
Não me fixo a essa data, que surgiu de forma meio aleatória. Temos de intensificar os chamamentos: ou vamos criar critérios objetivos, públicos, através de pesquisas e da participação das bancadas desses partidos para definir o melhor nome, ou esse processo vai sendo extremamente retardado. Ainda tenho esperança e acho que existe espaço para a construção de um caminho ao centro. Isso, obviamente, passa por gestos de desprendimento de todos os lados. Se alguém de fora do PSDB se mostrar mais viável, deve ter o nosso apoio. Mas, também, temos que cobrar que, se o nome do PSDB for aquele com as melhores condições, que os outros partidos possam apoiá-lo. Um gesto, hoje, que seria surpreendente, mas nobre, o governador João Doria poderia fazer. Ele já foi informado por líderes de outros partidos e pelo presidente do PSDB de que seu nome não será indicado pelo conjunto de forças da terceira via – isso está claro por sua rejeição, que não é um demérito, mas um fato. Doria deveria assumir o papel de liderar esse processo, apoiando a candidatura de Eduardo Leite e levando-a à consagração da terceira via. Seria um gesto surpreendente para alguns, mas à altura dos grandes homens públicos do país, registrado mais à frente como algo extremamente relevante. Se ele terá grandeza para isso, o tempo dirá. Muitos acham que não, mas prefiro aguardar.

A que o senhor atribui a alta rejeição de Doria?
Muitos dizem que a rejeição é exagerada em relação aos resultados do governo. Não tenho receita para diminuí-la. Vejo que há um esforço do marketing para diminuir. Talvez o excesso de aparições e autoelogios tenha contribuído. Se pudesse dar uma sugestão a ele e aos seus marqueteiros, seria um gesto claro, real (abrir mão da pré-candidatura em prol de Leite). Ele é muito acusado de (ter) posições um pouco oportunistas, mas não entro nesse mérito. Acho apenas que tem a oportunidade de um gesto real e construtivo. Isso, sim, impactaria na imagem. Em 2010, era governador reeleito, com altíssimos índices de avaliação, e tinha apoio da ampla maioria dos diretórios estaduais. Mas eu não tinha todos, como São Paulo, que estava com (José) Serra. Quando vi que não consegui unir o partido, fui à imprensa dizer que não era mais candidato – e que seria Serra. Disputei o Senado e, quatro anos depois, fui candidato (ao Planalto) com apoio unânime do PSDB. Na política, mais do que palavras e marketing, gestos são muito relevantes. Esse seria o grande gesto que Doria poderia fazer para desobstruir a terceira via e permitir que um nome como o de Eduardo possa crescer.

O senhor já defendeu publicamente que o PSDB lance candidato próprio ao governo de Minas Gerais. Neste momento, esse cenário é possível? Para onde vai o PSDB em Minas?
Acho, ainda, muito pobre o quadro eleitoral em Minas. Os últimos governos transformadores foram do PSDB, especialmente os nossos dois, que fizeram com que Minas tivesse a melhor educação fundamental do país, a melhor saúde da região, os melhores indicadores de segurança e os maiores programas de infraestrutura. As grandes transformações em Minas, em todas as áreas, foram com o PSDB. Uma candidatura do PSDB, para resgatar o tempo em que política e resultados caminhavam juntos, pode ser boa para o eleitorado mineiro ter mais uma opção. Há dois nomes colocados: o vice-governador Paulo Brant e o ex-secretário de Saúde e ex-deputado Marcus Pestana. Se a questão nacional caminhar em torno de Eduardo Leite, facilita esse caminho, mas nossa intenção, do presidente Paulo Abi-Ackel e demais companheiros, é colocar candidaturas ao governo e ao Senado que, quem sabe – além do Cidadania –, aglutine outras forças que não se sentem representadas nas duas candidaturas postas (Zema e Alexandre Kalil). Minas deixou de ter relevância política no país. O cargo de governador é muito mais do que um gerente de obras, mas político, que influencia decisões nacionais referentes à vida das pessoas. Minas merece mais do que teve no passado recente, com o PT, e mais do que vem tendo agora.

Há quem aponte a possibilidade de o Novo estar em uma união nacional com PSDB, MDB, Cidadania e União. Caso isso se concretize, o senhor teria restrições em apoiar a candidatura de Romeu Zema?
Se essa possibilidade ocorrer, é claro que, de alguma forma, os entendimentos estaduais se subordinam aos entendimentos nacionais. Conversei com parlamentares do Novo e não vejo, no partido, um interesse em participar dessa frente. O Novo ainda caminha para se firmar na lógica de que deve ser diferente – e não acho que se preocupa em ser melhor (do que os outros partidos), mas apenas em ser diferente. O PSDB foi muito relevante para a viabilização do governo Zema. Não fosse o PSDB no início do governo, provavelmente não teria caminhado em direção alguma na Assembleia. Mas não vejo que haja, por parte de Zema, o reconhecimento à necessidade de uma construção política sólida para viabilizar um governo. A política, feita adequadamente e em torno de propostas, é extremamente nobre. Vejo, ainda, em algumas lideranças do Novo – talvez por estarem estreando no "andar de cima" – dificuldade de compreender a natureza dessas alianças.

Neste momento, o que é mais provável: candidatura própria ou seguir com Zema?
Uma candidatura própria.

O senhor acumulou vitórias judiciais a respeito de denúncias sobre seu nome. O que as sentenças representaram? Qual será seu futuro político?
Passei por um calvário com as acusações infames de que fui vítima e com armações que serviram apenas a interesses escusos de empresários que se aliaram a membros do Ministério Público e forjaram uma denúncia inexistente, desmascarada pela Justiça. Uma a uma, as acusações sobre campanhas eleitorais – eram mais sobre elas do que sobre mim – estão sendo arquivadas. Muitas delas, por iniciativa da Justiça. Isso lava a alma. Vou continuar fazendo o que sempre fiz, com absoluta seriedade. Só fiz política a vida inteira. Não tive empresas ou busquei ter benefícios vindos da política. Tenho muito menos hoje do que quando entrei. Vou avaliar, no futuro, o meu caminho. Não coloco pretensões pessoais à frente dos interesses do estado. O que posso dizer é, aos mineiros que me estimulam a retomar a caminhada majoritária, é dar tempo ao tempo. Ainda tenho grande contribuição a dar à boa política mineira e às transformações que precisam ocorrer no Brasil. Tenho feito um trabalho na Comissão de Relações Exteriores que me estimula, ajudando a impedir a radicalização da política externa. Esse é um papel que me faz pensar em uma candidatura a deputado, mas o tempo é o senhor do destino.
 


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