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Estado de Minas ENTREVISTA

Psol não quer dar 'cheque em branco' a Lula e vê Alckmin como 'problema'

Ex-governador representou projeto que em nada tem a ver com o que o partido defende, afirma Juliano Medeiros


21/02/2022 04:00 - atualizado 21/02/2022 09:15

Juliano Medeiros, presidente nacional do Psol
"Alckmin, historicamente, representou um projeto que em nada tem a ver com o que defendemos. Não vi, até agora, ele fazer autocrítica" (foto: PSOL/REPRODUÇÃO)
Após lançar candidaturas próprias em todas as eleições presidenciais que disputou, o Partido Socialismo e Liberdade (Psol), nascido em 2004 como dissidência do PT, debate a possibilidade de apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno. O partido lançou documento com propostas para nortear a união das esquerdas. A lista inclui reforma tributária para distribuir renda e a revogação das reformas trabalhista e previdenciária. A possibilidade de o líder petista ter Geraldo Alckmin (sem partido) como vice, porém, pode frear o apoio.
 
“Não vi, até agora, ele [Alckmin] fazer autocrítica, dizer que estava errado ou que renega o seu passado neoliberal. Não acho positivo. Primeiro, porque é um sinal que confunde o que queremos fazer. E, do ponto de vista eleitoral, é inócuo”, diz o cientista político e historiador Juliano Medeiros, presidente nacional do Psol, nesta entrevista ao Estado de Minas. Medeiros afirma que a busca por diálogo entre as legendas de esquerda deve passar por um debate programático. “O Psol não está disposto a dar cheque em branco a qualquer partido ou candidato”. O espaço do partido na campanha de Lula também vai ser pauta das negociações — o dirigente garante que não quer ver o Psol como mero “adesista” à candidatura petista. Em conversas com a Rede para a formação de uma federação partidária, a legenda deve ter candidato próprio ao governo de Minas Gerais.

O Psol aprovou a abertura de negociações para eventual apoio a Lula já no primeiro turno e apresentou documento com os eixos que vão nortear o diálogo. Em que pé estão as conversas?
O processo que estamos iniciando é inovador. É buscar construir diálogo entre os partidos de esquerda não só baseado na troca de apoios, na formação de governos ou, mesmo agora, com as federações, mas tentar construir um entendimento em cima de saídas concretas para superar a crise que o Brasil vive. Hoje, nenhum partido sozinho consegue dar conta das tarefas colocadas para a superação dessa crise. O tema da unidade não só contra Bolsonaro, mas para superar a situação trágica do país, é indispensável.

O que pode viabilizar o apoio do Psol ao PT?
Propomos uma lista inicial de 12 pontos. Os principais são a revogação das medidas aprovadas a partir do golpe contra Dilma em 2016 — que representaram choque de neoliberalismo —, como as reformas trabalhista e da Previdência, teto de gastos, lei das terceirizações e mudança no regime de exploração do pré-sal. Em segundo lugar: enfrentamento frontal à crise climática. O que houve em Petrópolis não é uma tragédia só natural, mas consequência da ação humana, do racismo ambiental e da desigualdade social. O tema ambiental envolve, também, a demarcação de terras indígenas e a mudança da matriz energética. É um déficit da esquerda com o país. O terceiro, mas não menos importante, é o tema distributivo. Como distribuir a riqueza que o país produz para que não fique concentrada em uma ínfima minoria de homens brancos bilionários. Portanto, há a proposta de uma reforma tributária — que os governos do PT não promoveram em 13 anos — capaz de, efetivamente, ter papel importante na redistribuição de renda, inclusive, para o financiamento de renda básica permanente, não só na forma do auxílio emergencial.

O que é mais viável neste momento: apoiar Lula ou candidatura própria?
As sinalizações dos partidos que dialogam com a candidatura de Lula em relação a esses temas são positivas. No ato que realizamos na Câmara, a vice-presidente do PCdoB, Jandira Feghali, e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, foram muito afirmativas de que essa plataforma é correta, justa e adequada para enfrentar a crise. Estou otimista de que essas propostas podem ter boa acolhida e representar uma síntese programática entre esses partidos. Se acontecer, facilita muito a possibilidade de apoio do Psol a Lula. Mas é um processo que está começando agora e ainda vai ser testado. Uma coisa é o que se diz em um evento festivo na Câmara, outra é incorporar isso ao programa de governo de Lula.

A possibilidade de Lula ter Geraldo Alckmin como vice diminui a possibilidade de o Psol caminhar ao lado do PT?
Com certeza é um problema para o Psol. Temos reafirmado a necessidade de uma frente com conteúdo claro de esquerda, que expresse, de forma transparente, compromisso com o combate às políticas neoliberais. Alckmin foi fiador dessas políticas nos últimos anos; apoiou as reformas trabalhista e da Previdência, o impeachment de Dilma, ficou muito próximo do governo Temer. Alckmin, historicamente, representou um projeto que em nada tem a ver com o que defendemos. Não vi, até agora, ele fazer uma autocrítica, dizer que estava errado ou que renega o seu passado neoliberal. Não acho positivo. Primeiro, porque é um sinal que confunde o que queremos fazer; segundo, do ponto de vista eleitoral, é inócuo. Não acredito que ele agregue nada significativo eleitoralmente. Terceiro, pela experiência recente do golpe parlamentar contra Dilma. Imagina você ter algum tipo de interdição política ou jurídica do Lula e ter Alckmin como presidente. Não vejo vantagem nessa composição.

Então, se a composição Lula-Alckmin sair do papel, o Psol não entra no grupo?
É um dos elementos que vamos considerar para tomar nossa decisão. Na resolução aprovada pela Executiva nacional, há três temas objetos de debate com a candidatura de Lula: o tema programático, prioritário, a composição da chapa, e o lugar do Psol na campanha — o espaço que teremos na coordenação e como poderemos contribuir efetivamente para não sermos apenas uma adesão à campanha de Lula. A composição da chapa presidencial é um dos temas [debatidos]. Se fosse o único, era muito mais difícil a possibilidade de uma composição.

O senhor acredita na possibilidade da formação de uma frente ampla à esquerda para vencer Bolsonaro? O fato de o PDT lançar Ciro Gomes fragmenta o campo?
Defendemos uma frente das esquerdas. Qualquer partido de esquerda ou centro-esquerda que quisesse compor essa estratégia, em meu ponto de vista, seria bem-vindo. Isso vale para o PDT, para a Unidade Popular (UP), partido que tem uma força em Minas, e para o PCB, que já lançaram pré-candidaturas. Nossa concepção é uma frente liberal e antifascista. Esses partidos seriam bem-vindos, mas reconheço toda a legitimidade do PDT e do Ciro de postularem uma candidatura. Assim como não vou querer que ninguém questione o Psol caso nossa opção, lá na frente, não tendo sucesso nosso processo de construção de unidade, seja lançar uma candidatura. O esforço que estamos fazendo é pela unidade. Esse tinha que ser o esforço de todos os partidos tanto no plano nacional quanto no plano local.

Se o Psol, futuramente, optar pela candidatura própria ao Planalto, há nomes postos? O deputado federal Glauber Braga (RJ) tenta se cacifar.
O Psol não abriu essa discussão. A prioridade é construir unidade. Se isso der errado — oxalá não aconteça — vamos iniciar o debate interno, permitindo que sejam apresentados nomes. Oficialmente, não há nenhuma pré-candidatura reconhecida pela Executiva ou pelo diretório nacional.

O partido deseja ter uma candidatura própria em Minas Gerais? Quem?
Sei que os companheiros de Minas teriam toda a disposição para debater o processo de unidade das esquerdas, mas lamentavelmente essas esquerdas, neste momento, estão privilegiando o diálogo com Alexandre Kalil. Neste contexto, reconhecendo que Kalil não expressa posições que nos contemplam, do ponto de vista programático e mesmo de gestão pública, a tendência principal é o Psol ter candidatura própria. Ainda não foi aberto o processo de debate sobre nomes, mas a tendência principal é a apresentação de uma candidatura diante do quadro de dificuldade de construção das esquerdas. Você só encontra unidade se tem com quem construir.

Mesmo se Kalil estiver no palanque de Lula em Minas, dentro de uma grande união em torno do petista, é fora de questão caminhar com o prefeito de BH?
O PSD não está no arco de partidos que o Psol, hoje, permite para alianças. Mesmo nesse contexto, seria impossível. Não só com Kalil, mas com outras lideranças que vão [podem] estar na campanha do Lula. No Nordeste, várias lideranças do PSD e do MDB vão fazer campanha para Lula; nem por isso, o Psol vai apoiá-las. O pressuposto é fortalecer os partidos e candidatos do campo das esquerdas. Não é o caso de Kalil e do PSD.



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