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Estado de Minas ENTREVISTA

Otto Alencar diz que Bolsonaro é réu confesso por ações contra COVID

Senador da CPI afirma que dificilmente o presidente da República deixará de ser responsabilizado por causa da omissão e negacionismo


01/06/2021 04:00 - atualizado 01/06/2021 07:12

Senador Otto Alencar(foto: LEANDRO COURI/EM/D.A.PRESS - 5/1/21)
Senador Otto Alencar (foto: LEANDRO COURI/EM/D.A.PRESS - 5/1/21)


Brasília - Há um mês, o senador Otto Alencar (PSD-BA), de 73 anos, médico abria a reunião de instalação da CPI da COVID do Senado, criada para apurar a atuação do governo federal na pandemia do novo coronavírus e o uso de verbas transferidas pela União para estados e municípios enfrentarem a crise sanitária.

Na ocasião, foram escolhidos o presidente, o vice-presidente e o relator do colegiado. Essa distinção foi concedida a Alencar por ser ele o mais idoso entre os indicados para compor a comissão.

Ele destaca que, dificilmente, o presidente Jair Bolsonaro não será responsabilizado pela comissão por receitar medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença, incentivar a imunidade de rebanho e virar as costas para várias ofertas de vacinas ao Brasil. O presidente “é réu confesso”, diz o parlamentar nesta entrevista.

Que balanço o senhor faz do primeiro mês de investigações da CPI?
Achávamos que criando a CPI se mudaria o modus operandi do Ministério da Saúde. Então quando se chegou a 28 assinaturas, inclusive demorou para o presidente [do Senado, Rodrigo Pacheco instalar a CPI, logo o Bolsonaro demitiu Pazuello e colocou um médico [Marcelo Queiroga] no lugar, porque Pazuello é um general que não entende nada de epidemiologia, medicina sanitária, COVID muito menos. As perguntas mais simples que eu fiz ele não respondeu. Perguntei coisas óbvias, que qualquer estudante de medicina saberia responder, do primeiro ou do segundo ano. Então, Bolsonaro colocou um médico no Ministério da Saúde. Mas ele deve ter dito para o ministro: ‘Olha, você faz a sua parte, eu faço a minha. Você pede para fazer isolamento físico, e eu não faço isolamento físico, eu vou aglomerar, você aceita?’. O Marcelo aceita. Aí o presidente continua: ‘Eu não vou defender vacina, você fica lá com o seu Zé Gotinha que eu fico com o meu Zé Gotinha, que é o Pazuello’. Ele levou o Pazuello ao Rio de Janeiro para ficar como o Zé Gotinha dele, para ficar aglomerado também. Aí o presidente diz ao ministro: ‘Você não vai defender hidroxicloroquina, mas eu vou defender’. Só que o Bolsonaro entendeu que não pode mais falar o nome hidroxicloroquina, agora ele só fala ‘o remédio’, porque a ação dele com a hidroxicloroquina matou muita gente no Brasil, inclusive aqui na Bahia.

O senhor considera que o presidente tem que ser responsabilizado por essas mortes?
Sim, porque hidroxicloroquina ser receitada pelo presidente da República, para um paciente que é cardíaco, ela mata. É crime, é crime. Quem tem arritmia cardíaca, doença do coração, não pode tomar hidroxicloroquina. Um presidente da República, que teve cinquenta e tantos milhões de votos, ainda é líder. Quando ele diz que toma hidroxicloroquina, você acha que muitos não vão tomar? Aqui, na Bahia, um colega meu, médico, morreu porque tomou hidroxicloroquina. Ele não sabia que tinha arritmia e, desavisado, tomou, teve parada cardíaca e morreu. Tem vários outros casos Brasil afora. O pessoal vai ter que dotar a União para pagar muita indenização. Por causa da receita irresponsável do presidente da República. Quando é um médico que receita um medicamento sem eficácia, ele perde o CRM [licença profissional expedida pelo Conselho Regional de Medicina], mas, o presidente da República, é muito grave, é muito mal. Então ele poderá ser responsabilizado pela ação, por ter receitado o remédio, e por omissão, por não ter comprado vacina.

O senhor, hoje, tem certeza de que o governo optou por favorecer a transmissão do coronavírus para, quando a maioria da população estivesse infectada, houvesse imunidade de rebanho?
Sem dúvida., Inclusive, o deputado Osmar Terra [MDB-RS], membro do 'gabinete paralelo', falou várias vezes isso. Aí a doutora Mayra Pinheiro [secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde do Ministério da Saúde], a 'capitã cloroquina', nós [da CPI], durante o depoimento dela, exibimos um vídeo dela dizendo que ia acontecer a imunidade de rebanho. Depois ela mentiu, dizendo que era apenas para crianças. Aliás, criança não vai no ônibus escolar não? Se o motorista estiver doente, ela não se contamina? Criança não contamina o professor, a professora? Não contamina a merendeira? Não contamina o servente que limpa a sala? E o segurança? Quantas pessoas gravitam em torno de uma escola? Quantas pessoas? No vídeo ela fez uma confissão de culpa sobre a imunidade de rebanho, que matou muita gente no Amazonas, que matou muita gente Brasil afora. Gente que não quis usar máscara, achando que podia pegar covid-19 que não ia acontecer nada. São fatos muito graves. Não recomendar o uso de máscara, isso é muito grave.
 

"Hidroxicloroquina receitada pelo presidente da República para um paciente cardíaco é crime"

 
O senhor acredita que as pressões da CPI vão provocar mudança nas ações do governo na pandemia?
Eu sou independente, mas confesso aqui que há tempo para corrigir os erros, sempre há tempo para corrigir os erros. O erro do presidente é permanecer no erro. Ele podia tomar vacina, estimular a vacina. Reconhecer o erro é virtude, permanecer no erro é burrice. Eu uso sempre uma frase do pensador francês Voltaire. Ele disse: ‘Os homens erram, os grandes homens assumem seus erros, corrigem os seus erros’. Mas ele [presidente] não tem grandeza para corrigir os seus erros. Ele quer continuar, com o nariz empinado, na vaidade, na truculência, como ele costuma dizer: ‘Eu não errei nada, eu acertei tudo’. Mas em um ponto ele reconheceu. Por isso ele não fala mais em hidroxicloroquina, porque ele tem parte na contabilidade de mortes. Se você tiver arritmia cardíaca e tomar esse remédio você morre. Deixa eu explicar aqui: a arritmia cardíaca aumenta o espaço entre um batimento cardíaco e o outro. Se a pessoa tiver arritmia e tomar hidroxicloroquina, esse espaço triplica. Bate uma vez e não volta mais. Se você não tiver um cardioversor, para dar um choque no peito, o coração não volta mais. Recomendar um medicamento desse é crime. O ministro Marcelo Queiroga, no depoimento à CPI, eu puxei por ele, e ele admitiu: ‘Sim, dá arritmia mesmo, aumenta o intervalo entre os batimentos cardíacos’. Mas, para se segurar no cargo, o Queiroga aceita que o presidente faça uma coisa e ele faça outra.

Que tipos de crime o senhor imputaria ao presidente da República?
O presidente vai ser responsabilizado, de alguma forma, por crime de ação e omissão. Vamos mandar o relatório [da CPI] para a Procuradoria-Geral da República. São o procurador-geral da República e a Câmara dos Deputados que tomam essas decisões.

A CPI aprovou novo depoimento do ex-ministro Pazuello. Que explicações ele precisa dar à CPI nesse novo depoimento?
Ele vai ser chamado, primeiro, a explicar como é que, sendo ex-ministro da Saúde, ele chega para a oitiva da CPI de máscara, defende máscara e depois vai lá para a reunião com Bolsonaro, no Rio de Janeiro, fazendo aquele papelão. Nós chamamos ele de ‘Zé Gotinha do Bolsonaro’. 

O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), disse que se Pazuello voltar a mentir no novo depoimento à comissão, e não estiver protegido por um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal, ele poderá sair algemado do depoimento. O senhor concorda com isso?
Está provado que o governo não priorizou vacinas. O presidente tem 14 declarações contra a vacina. É réu confesso. São 14 declarações contra a vacina. Ele não quis comprar a [vacina da] Pfizer, no ano passado. Desqualificou a CoronaVac. Disse que não ia comprar a ‘vachina’, a ‘vacina do Doria’. O [João] Doria [governador de São Paulo pelo PSDB] se virando para comprar vacina, e ele esculhambando com Doria.
 


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