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Estado de Minas GURU

'Um governo liderado por Lula não nos assusta', diz 'guru dos emergentes'

Em entrevista à BBC News Brasil, Mark Mobius, megainvestidor alemão-americano, diz que se populismo de Lula 'resultar em surto de crescimento, tanto melhor'


11/03/2021 20:10 - atualizado 11/03/2021 20:11

O ex-presidente do Brasil fez um discurso após decisão de Fachin(foto: EPA)
O ex-presidente do Brasil fez um discurso após decisão de Fachin (foto: EPA)
O megainvestidor alemão-americano Mark Mobius foi na contramão de muitos de seus pares ao decretar, em entrevista recente, que um eventual retorno de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência do Brasil, caso concorra e vença o pleito do ano que vem, não seria "necessariamente ruim para os mercados".

Agora, falando à BBC News Brasil, ele vai além: "Um governo liderado por Lula não nos assusta e se seu populismo resultar em um surto de crescimento, tanto melhor".


Na segunda-feira (8/3), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin decidiu anular todas as condenações judiciais de Lula no âmbito da Operação Lava Jato, abrindo caminho para que o petista concorra à Presidência caso não sofra novamente condenações em segunda instância.

Em pronunciamento na quarta-feira, Lula disse que a candidatura da esquerda ainda não está definida.

Mobius, que em maio de 2018 lançou sua própria gestora de investimentos, a Mobius Capital Partners LLP, antes trabalhou na Franklin Templeton Investments por mais de 30 anos, mais recentemente como CEO do Templeton Emerging Markets Group.

Durante seu comando, o grupo expandiu os ativos sob gestão de US$ 100 milhões para mais de US$ 50 bilhões.


Considerado um "guru dos mercados emergentes", por ter colocado as nações em desenvolvimento no radar dos investidores globais, Mobius concedeu, por e-mail, a seguinte entrevista à BBC News Brasil.

BBC News Brasil: Em entrevista à agência de notícias financeira Bloomberg, o sr. disse que a volta de Lula "não é necessariamente ruim para os mercados". Por quê?


Mark Mobius:
A principal preocupação em relação a Lula era a corrupção. Se ele voltar, as preocupações com a corrupção não serão tão prevalentes simplesmente porque os escândalos da Lavo Jato resultaram em uma vigilância muito maior e preocupação com algo assim acontecendo novamente.


Mais importante, seu programa Bolsa Família para promover a educação de crianças em famílias de baixa renda foi um passo importante para o país e esperamos que seu retorno resulte em mais iniciativas desse tipo.

Finalmente, sua imensa popularidade poderia resultar em um movimento para uma maior participação do governo pelas massas.


BBC News Brasil: A notícia do retorno de Lula fez com que a bolsa e o real brasileiro caíssem. Por que o sr. acha que isso aconteceu? Quão arriscado o sr. acha que Lula é para o Brasil?


Mobius:
A impressão agora é que o atual governo é favorável aos negócios, mas é duvidoso que um retorno de Lula resultaria em um governo marcadamente hostil aos negócios.


BBC News Brasil: O Lula de hoje será o mesmo Lula de 2002, com uma mensagem "de paz e amor amigável ao mercado"?


Mobius:
Lula certamente aprendeu muitas lições nos últimos anos. Mais importante ainda, muitas condenações e sentenças foram proferidas, então a corrupção no Brasil será muito diferente no futuro.


BBC News Brasil: Há quem diga que, se Lula puder concorrer novamente, a agenda de reformas provavelmente estaria fora da mesa e as perspectivas de disciplina fiscal se deteriorariam. Mas outros falam que as preocupações com a reeleição em meio à COVID-19 já minaram o apoio de Bolsonaro à prudência fiscal e à reforma, e há uma perspectiva de que ele poderia implementar medidas mais populistas. Qual lado está certo?


Mobius:
Certamente Lula representa populismo, mas isso não significa necessariamente irresponsabilidade fiscal, uma vez que existem mecanismos no Brasil que jogam contra a falta de prudência fiscal.

No entanto, podemos esperar que, como no passado, ele se envolverá em grandes repasses do governo aos pobres e em grandes projetos de infraestrutura agora que os preços das commodities estão se recuperando. Isso poderia dar um grande impulso à economia. Neste mundo, como vemos no programa de gastos de Biden (Joe Biden, presidente dos EUA), grandes gastos do governo estão em voga, então Lula não será culpado por isso.


Isso, é claro, levará a um crescimento que será bom para os negócios em geral. Alguns dirão que também levará à inflação e à desvalorização da moeda.


Como aponto em meu livro The Inflation Myth and the Wonderful World of Deflation ("O Mito da Inflação e o Mundo Maravilhoso da Deflação", em tradução livre para o português), a revolução tecnológica que o mundo está passando agora está resultando em preços de produtos e serviços mais baixos e melhores em relação ao poder de renda das pessoas.


Isso certamente está ocorrendo no Brasil como em outros países. Com relação à reforma, algumas delas já foram realizadas, mas nunca temos muitas esperanças de uma mudança dramática no contencioso ambiente democrático do Brasil.


BBC News Brasil: Quem representa uma ameaça maior à economia do Brasil? Lula ou Bolsonaro?


Mobius:
Nenhum dos dois. Não acho que nenhum deles pode representar uma ameaça para a economia.


BBC News Brasil: Melhor investir no Brasil com Lula ou Bolsonaro (ou não investir de jeito nenhum)?


Mobius:
Eu investiria no Brasil com qualquer um deles. Já estamos investidos no Brasil e estamos satisfeitos com nossos investimentos com bons resultados enquanto Bolsonaro estiver na Presidência.

Porém, um regime liderado por Lula não nos assusta e se seu populismo resultar em um surto de crescimento, tanto melhor.


Provavelmente, a coisa mais legal que você pode dizer sobre Lula é que ele é "um homem do povo" - uma representação dos segmentos de renda média e baixa da sociedade mais do que Bolsonaro.


Essa popularidade entre os grupos de renda média e baixa pode resultar no aproveitamento de mais crescimento por meio de políticas que os favoreçam.


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